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Sonia Braga revela interrupção aos 17 anos: "Crime é o aborto não ser legal no Brasil"

Publicado 5 Ago 2016 – 01:15 PM EDT | Atualizado 14 Mar 2018 – 09:30 AM EDT
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Entre outros trabalhos de relevância, Sonia Braga ficou imortalizada como protagonista da primeira montagem televisiva de "Gabriela", novela inspirada na obra do escritor Jorge Amado. Em uma entrevista à revista Elle brasileira, 40 anos após a encenação, ela falou sobre cinema, profissão e maternidade. “Crime é o aborto não ser legal no Brasil”, declarou a atriz, revelando já ter feito abortos.

Hoje, com 66 anos, e morando em Nova Iorque, nos EUA, desde 1990, Sonia, durante a entrevista sobre a nova fase da sua vida no cinema brasileiro, aproveitou para reafirmar que a maternidade nunca fez parte dos seus planos de vida. “Há mulheres que, se não tiverem um filho, enlouquecem. Nunca senti essa necessidade”, comentou.

Ela também revelou que foi exatamente por esse motivo que, quando se viu grávida, recorreu a abortos – o primeiro deles aos 17 anos. “No primeiro eu era muito criança. Tinha 17 anos. Se não tivesse um médico de confiança, eu poderia ter morrido”, contou.

Cinquenta anos depois a atriz continua levantando a bandeira da descriminalização do aborto e relembra que, de acordo com suas convicções, esse é um assunto que precisa ser debatido a partir de uma perspectiva de saúde pública. “Não pode ter restrição. Pelo contrário. Tem que educar e facilitar isso para as mulheres. Já conseguiram fazer a delegacia da mulher. Agora tem que cuidar da saúde delas”, colocou.

Aborto no Brasil: questão de saúde pública 

De acordo com levantamento do IBGE (Instituto de Geografia e Estatísticas), divulgado em 2015, 8,7 milhões de brasileiras com idade entre 18 e 49 anos já realizaram ao menos um aborto na vida. Destes, 1,1 milhão foi provocado. Para o Instituto, o número ainda pode ser muito maior, porque, como a prática é considerada um crime, muitas mulheres deixam de notificá-la.

Descriminalizar é o mesmo que ser a favor do aborto?

Ser favorável ou não ao aborto é uma escolha pessoal. A descriminalização, no entanto, é um assunto à parte. Embora mulheres tenham o direito e possam optar por continuar uma gestação indesejada, é fato que aquelas que não querem recorrem a abortos. Ou seja, o fato de a prática ser considerada um crime, não impede que ela aconteça.

O mais comum é que mulheres com condições financeiras estáveis consigam buscar atendimento profissional e seguro, enquanto as mulheres de baixa renda, que normalmente já têm o acesso à saúde preventiva dificultado, procurem métodos mais baratos ou caseiros aumentando, assim, o risco de complicações e mortes.

Aborto e mortalidade materna 

De acordo com informações do Ministério da Saúde, as complicações resultantes de abortos clandestinos são a quarta maior causa de morte materna no país, superada apenas pela hipertensão arterial, pela hemorragia e por infecção.

Aborto e o custo das complicações

Além disso, a prática, quando realizada de forma clandestina e sem assistência médica correta, pode resultar em sérias complicações. Atualmente, o SUS (Sistema Único de Saúde) gasta mais de R$ 140 milhões por ano tratando mulheres vítimas de abortos mal-sucedidos. A prática, quando realizada de maneira adequada – com procedimentos seguros, acompanhamento profissional e higiene - no entanto, apresenta baixas chances de complicações e, consequentemente, custa menos ao Estado.

Independente de ser crime no Brasil, o aborto acontece e prejudica um grupo específico de mulheres: aquelas que não têm condições financeiras estáveis, gerando altos custos ao SUS.

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