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Falha em pílula fez 140 mulheres engravidarem no Chile: há risco para brasileiras?

Publicado 23 Mar 2021 – 02:25 PM EDT | Atualizado 23 Mar 2021 – 02:25 PM EDT
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Uma falha em alguns lotes de pílulas anticoncepcionais Anulette CD, distribuídos pelo sistema de saúde chileno, fez com que mais de 100 mulheres engravidassem no país apesar do uso do medicamento contraceptivo.

Duas organizações que defendem os direitos das mulheres no Chile, já receberam centenas de denúncias de mulheres que usaram o Anulette CD com defeito e pelo menos 140 engravidaram.

Na esteira da falha no Anulette CD, mais dois anticoncepcionais apresentaram inadequações e tiveram alguns lotes retirados do mercado chileno: o Minigest, produzido no Chile, e o Conti-Marvelon, fabricado no Brasil pela farmacêutica Eurofarma e comercializado como Mercilon Conti em território brasileiro.

Entenda o que aconteceu, se o medicamento com defeito pode circular pelo Brasil e se há risco para brasileiras.

Falha de anticoncepcional fez mulheres engravidarem

Após receber algumas denúncias de usuárias do anticoncepcional Anulette CD, o Instituto de Saúde Pública (ISP) do Chile anunciou, em setembro do ano passado, a suspenção do registro sanitário correspondente ao produto farmacêutico Anulette CD Coated Tablets, de propriedade do Laboratorio Silesia S.A e a retirada de dois lotes do mercado:

"Foram detectados problemas de qualidade com características semelhantes aos reportados no Alerta de 24 de agosto, onde é feita referência ao lote B20034A com vencimento 01/2022. O ISP recebeu outra reclamação para o produto Anulette CD do lote B20035, com data de validade 01/2022, tendo novamente detectado 6 bolhas defeituosas", informou o Instituto em comunicado oficial.

O ISP divulgou fotos de cartelas com pílulas danificadas. Vale lembrar que as cartelas de Anulette CD contêm 28 comprimidos de cores diferentes, sendo 21 com hormônios para impedir a ovulação e sete de placebo.

Além de suspender o registro sanitário, o laboratório Silesia S.A, responsável pela produção do medicamento, e a Andrómaco S.A., que faz a distribuição, foram multado em 66 milhões de pesos chilenos, aproximadamente R$ 510 mil, como informou o site chileno Diario U Chile.

Entre os dois lotes que apresentaram falhas, cerca de 250 mil cartelas do Anulette MD foram distribuídas gratuitamente nos centros de saúde do Chile. Desde o ano passado, a organização Miles Chile, que atua na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres no país, recebeu várias denúncias de mulheres engravidaram devido à falha das pílulas anticoncepcionais.

"A Miles Corporation assessora atualmente 31 mulheres - de várias idades e regiões - que engravidaram por não terem seus anticoncepcionais fornecidos pelo Estado, muitas delas sem ter o menor plano de maternidade de curto prazo", informou a organização nas redes sociais, assim que as falhas começaram a ser reportadas pelo sistema de saúde chileno.

Em janeiro deste ano, a Women's Link, organização internacional que atua na defesa dos direitos das mulheres e está acompanhando os casos, afirmou que esse número havia crescido e informou que das "112 mulheres que foram legalmente assessoradas pela Miles Chile desde outubro de 2020, após a divulgação das informações sobre contraceptivos defeituosos, 111 estão ou estiveram grávidas".

E os casos continuaram crescentes, segundo informou o jornal norte-americano "The New York Times", no início do mês de março, a Miles Chile já recebeu mais de 140 denúncias de mulheres que engravidaram por causa de anticoncepcionais defeituosos, sendo que quase todas eram usuárias do Anulette CD. Entretanto, além dele, mais dois anticoncepcionais estão sob suspeita no Chile.

Outros dois anticoncepcionais também apresentaram falhas

Outros dois anticoncepcionais, também distribuídos pelo sistema de saúde do Chile, apresentaram falhas. Em outubro de 2020, o ISP recebeu mais denúncias, desta vez, de usuárias dos medicamentos Minigest e o Conti-Marvelon.

Em um comunicado oficial, o ISP informou a retirada voluntária de três lotes do Minigest do mercado: Minisgest-15 e Minisgest-20, ambos do Laboratorio Andromaco SA, correspondentes aos lotes D19129A, D19130A e D19132A.

Segundo informou o órgão público, a medida foi tomada pois foi constatado uma menor quantidade de substâncias ativas na composição das pílulas.

Já em relação ao Conti-Marvelon 20 comprimidos, produzido pelo laboratório Eurofarma SA, foi detectado um erro na distribuição das cores dos comprimidos nas cartelas. Vale lembrar que, por se tratar de um contraceptivo de uso contínuo, os comprimidos são diferenciados em cores (branco, verde e amarelo) para facilitar a rotina da usuária e sinalizar a ordem que cada pílula deve ser tomada. A composição dos comprimidos varia para que o ciclo menstrual da paciente seja respeitado.

Por esse motivo, segundo o Instituto de Saúde Pública, foi feita uma retirada voluntária do lote 608442 do Conti-Marvelon 20, distribuído no Chile.

Medicamento com defeito pode circular pelo Brasil?

No caso do Conti-Marvelon, a preocupação em relação ao medicamento chegou ao Brasil, já que os comprimidos são produzidos no país e comercializado com o nome Mercilon Conti em território brasileiro. Já Anulette e Minigest não são comercializados no Brasil.

O Mercilon Conti é produzido no Brasil pelo laboratório Eurofarma SA, mas é distribuído pela farmacêutica internacional Merck Sharp & Dohme (MSD).

O VIX entrou em contato com a assessoria de imprensa da MSD, que informou que, no Chile, não houve alteração na composição das pílulas, mas explicou que a utilização do medicamento na sequência diferente da recomendada "pode levar a um sangramento irregular ou mesmo a redução da eficácia contraceptiva".

Entretanto, a farmacêutica explicou que esse problema aconteceu com um lote específico distribuído no Chile, portanto, não existe chances de que o erro aconteça com o medicamento comercializado no Brasil.

"No Brasil, este medicamento é comercializado com outra nomenclatura – Mercilon Conti – e, como o problema relatado refere-se à um lote específico comercializado no Chile, não houve nenhum impacto ou necessidade de medidas preventivas a respeito", informou a MSD.

Cuidados com o uso do anticoncepcional

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