Este comercial levanta debate tão importante que incomodou muitos e gerou até boicote
A masculinidade tóxica, ou seja, a forma com que alguns homens agem em sociedade e que prejudica tanto eles próprios quanto pessoas de sua convivência, especialmente mulheres, se tornou assunto de uma nova campanha publicitária da Gillette.
Ao questionar alguns hábitos sociais vinculados à masculinidade, a marca mundialmente famosa por produtos de higiene e cuidados pessoais recebeu uma série de reações negativas.
Até agora, o vídeo no Youtube tem mais de 650 mil descurtidas, contra pouco mais de 270 mil curtidas. Pessoas anunciaram que vão boicotar a Gillette. Entenda reações.
Comercial da Gillette critica masculinidade tóxica
Na propaganda, a Gillette mostra algumas atitudes relacionadas ao papel masculino na sociedade e que, de tão repetidos, julgamos erroneamente serem comuns a quem se identifica como homem.
Violência, abusos sexuais, interrupção na fala da mulher ou tentativa de explicar o que ela está falando ("Manterrupting" e "Mansplaining", respectivamente, como são denominadas essas atitudes) fazem parte do pacote daquilo que a peça publicitária "The Best Men Can Be" (traduzido como "O Melhor para o Homem") aponta como tóxico.
Há simulações de uma briga entre meninos, prática de bullying, homens assediando mulheres ou hiperssexualizando seus corpos e referências ao movimento "Me Too", que estimulou mulheres do mundo inteiro a denunciarem abusos que vivenciaram, e às denúncias de assédio sexual de mulheres dentro da indústria do entretenimento.
Tradução do texto em inglês do vídeo:
[Fala na televisão]
— Bullying…O movimento Me Too contra o assédio sexual… Masculinidade…
[Voz do narrador]
Esse é o melhor que o homem pode ter?
Será?
[Imagens na tela]
Aberração!
Você é um fracassado!
Todo mundo te odeia!
Mariquinha!
[Voz narrador]
Não podemos nos esconder disso.
Isso já vem acontecendo há muito tempo.
Não podemos rir e relevar.
[Homem falando em reunião]
— O que eu acho que ela quis dizer é…
[Voz do narrador]
Dando sempre as mesmas velhas desculpas…
[Homem assistindo à briga de meninos]
— Meninos são assim…
[Homem sozinho]
— Meninos são assim…
[Homens em frente a churrasqueiras]
— Meninos são assim…
[Voz do narrador]
Mas algo finalmente mudou.
[Apresentadora na TV]
— Acusações a respeito de assédio e abuso sexual…
[Voz do narrador]
E não haverá volta.
Porque nós
Nós acreditamos no melhor do homem.
[Terry Crews]
— Homens precisam responsabilizar outros homens.
[Jovem na festa]
— Sorria, docinho!
[Jovem 2 na festa]
— Qual é?
[Voz do narrador]
Só diga a coisa certa.
Para agir da maneira correta.
[Homem segurando amigo na entrada na loja]
— Irmão, isso não é legal, não é legal.
[Voz do narrador]
Alguns já estão fazendo isso.
De formas grandes… e pequenas.
[Pai com a filha no espelho]
— Diga: "Eu sou forte’"
[Menina]
— Eu sou forte!
[Homem separando briga de meninos]
— Ei, garotos!
[Voz do narrador]
— Mas alguns não é o suficiente.
[Homem separando briga de meninos]
— Não é assim que tratamos os outros, ok?
[Pai falando com vítima de bullying]
— Você está bem?
[Voz do narrador]
Porque os meninos assistindo a isso hoje…Serão os homens de amanhã.
[Frase no final]
O Melhor para o Homem
É apenas desafiando nós mesmos a fazer mais que conseguimos chegar perto do nosso melhor.
Mudança de pensamento gerou repercussão
O final da campanha, que mostra possíveis soluções para essas situações de conflito e violência, traz exemplos de empatia, amor e atenção à saúde (física e mental) dos próprios homens. Aparentemente algo que todos nós devemos prezar, não é mesmo?
Apesar disso, o vídeo, que não é vinculado oficialmente no Brasil, sofreu uma série de criticas nas redes sociais, especialmente nos países em que a campanha está sendo divulgada.
Além de entenderem que a marca estava criticando a masculinidade em si (e não as ideias engessadas do que é ser masculino), muitos usuários sugeriram boicote à empresa.
"Não vou mais comprar Gillette e outros produtos da P&G. Uma empresa que construiu seu império graças a homens que compram seus produtos há décadas se atreve a cuspir na masculinidade no novo comercial. Já deu".
"Por que está atacando a masculinidade? Eu nunca mais vou comprar nenhum de seus produtos".
"Um tão velho amigo (boicote Gillette. O futuro é masculino)".
Por outro lado, muita gente entendeu o novo comercial como uma oportunidade de as pessoas que se identificam como homens repensarem quais são as características associadas a elas que podem ser reanalisadas, melhoradas.
Só assim a vida em sociedade pode ser mais justa, saudável e pacífica, já que temos um mundo guiado pelo machismo e seus desdobramentos tóxicos.
'Não entendi a revolta com o comercial da Gillette. Existe masculinidade tóxica? Sim. Os homens que não são tóxicos são, muitas vezes, cúmplices da toxidade por não chamara atenção de quem a pratica? Sim. A nossa noção de masculinidade é cheia de problemas? Sim, é óbvio".
"O tal comercial da Gillette diz: homens, parem de ser idiotas. Se você ficou bravo com esse comercial, então é exatamente pra você que ele foi feito".
"Eu não tô entendendo a polêmica e o ódio acerca deste comercial da Gillette. Tipo, ele literalmente só passa a mensagem pra que você não seja malvado ou sem noção com as pessoas ao seu redor. 'qqtacoteseno' [o que que tá acontecendo], gente".
"Que comercial lindo e importante, se você viu e se sentiu incomodado, é provável que tem alguma coisa errada aí dentro de você. Bravo, Gillette!".
O que diz a Gillette
Em nota, a empresa diz que a nova campanha é "um chamado para que todos os homens se desafiem e se inspirem a ser a melhor versão de si mesmos, todos os dias.
Homens, em todos os lugares do mundo, já estão trabalhando para reescrever as regras sobre o que parece ser "o melhor" e se unindo para fazer isso acontecer. Como uma marca que é parte essencial da masculinidade há mais de um século, Gillette quer fazer parte dessa mudança".
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