Cláudia Abreu detalha visitas a João de Deus para se posicionar sobre casos de assédio
Preso preventivamente desde 16 de dezembro por acusações de assédio sexual contra mulheres que iam atrás de tratamento espiritual, João Teixeira de Faria, o João de Deus, se tornou personagem principal de um relato da atriz Cláudia Abreu.
Avessa a aparições ou posicionamentos públicos, a artista resolveu se pronunciar por meio de seu Instagram, e comentou sobre duas visitas que fez à casa em que o médium atendia em Abadiânia, Goiás. Ela detalhou como foi sua participação nos atendimentos e demonstrou o respeito às "inúmeras mulheres fragilizadas" que podem ter sido vítimas do acusado.
Cláudia Abreu fala sobre João de Deus
A repercussão da prisão preventiva de João de Deus após a enxurrada de denúncias de assédio sexual contra ele gerou comoção entre muitos dos frequentadores da casa em que o médium atuava.
Artistas, como Tais Araújo, Xuxa Meneghel e Bárbara Paz, que visitaram Abadiânia ou se simpatizaram com o trabalho do médium, demonstraram total apoio às vítimas que o acusam de assédio e lamentaram terem tido confiado no que ele aparentava ser.
A atriz Cláudia Abreu foi uma das que procuraram o atendimento do médium e, em um relato forte, contou que chegou a levar sua filha, então com 13 anos, para conhecê-lo.
Ela mencionou que teve uma decepção com João de Deus e deu detalhes sobre sua visita à casa, dizendo que pessoas famosas eram constantemente convidadas a segurarem os instrumentos das cirurgias espirituais feitas por ele, para "legitimar", no caso dela, "alguém que eu mal conhecia".
Leia o texto na íntegra:
"Nem sei por onde começar. Sempre fui arredia às redes sociais, não tenho o hábito de postar muito sobre a minha vida cotidiana, nem de me posicionar sobre tudo a todo momento.
Mas não posso deixar de falar sobre assédio. Demorei um tempo pra digerir a decepção que tive com João de Deus. Fui à Abadiânia duas vezes, fui bem recebida por ele, por sua família e sua equipe. Nunca fui totalmente crédula, mas como presenciei cirurgias feitas diante de todos, com cortes feitos na hora e sem dor, foi difícil não acreditar em algum poder mediúnico. Mesmo assim, é preciso estar sempre alerta aos sinais da sua intuição.
Pessoa famosas eram sempre chamadas pra segurar os instrumentos das cirurgias diante de uma multidão. Fui convidada duas vezes e fui contrariada, pois era delicado dizer não. Lá ficávamos todos vulneráveis. Ao mesmo tempo, isso me obrigava a legitimar alguém que eu mal conhecia", revelou.
Cláudia, então, reforçou o apoio às mulheres que estão denunciando as práticas de crime sexual feitas pelo médium.
"Refletindo sobre esse meu desconforto, pensei nas inúmeras mulheres fragilizadas que foram convidadas a ir pra uma sala fechada e também foram obrigadas a fazer algo que não queriam.
Levei minha filha, então com treze anos, e não me canso de pensar que poderíamos ter sido vítimas também, caso eu não fosse conhecida. Isso me estarreceu. Porque isso toca num lugar muito mais profundo, que é a descrença no ser humano, na bondade, na caridade. Muito triste".
Depoimentos de mulheres contra João de Deus
De acordo com o Ministério Público de Goiás (MP-GO), já foram coletados 78 depoimentos formais de mulheres que se apresentam como vítimas de abuso sexual de João Teixeira, em Goiás e em outros estados. Até hoje (26 de dezembro), o MP já recebeu mais de 600 mensagens de denúncia pelo e-mail criado para o caso João de Deus (denuncias@mpgo.mp.br).
Segundo o órgão, cerca de 260 são potenciais vítimas do médium, sendo que 11 delas estrangeiras (4 nos Estados Unidos, 3 na Austrália, uma na Alemanha, uma na Bélgica, uma na Bolívia e uma na Itália).
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