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Isso é o que está motivando tanta gente a se unir à marcha de mulheres contra Bolsonaro

Publicado 26 Set 2018 – 06:45 PM EDT | Atualizado 26 Mar 2019 – 04:37 PM EDT
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Às vésperas das eleições presidenciais, o movimento " Mulheres Unidas Contra Bolsonaro" ganha força nas redes sociais e nas ruas. Um ato marcado para o próximo sábado (29) promete levar milhares mulheres às ruas de cidades de todo o país para demonstrar repúdio às ideias do candidato à Presidência do Brasil pelo PSL, Jair Bolsonaro.

Um grupo no Facebook com mais de 3 milhões de pessoas se movimenta para o ato, além de muitos famosos que endossam a campanha. Somando os participantes de eventos criados na rede social marcados para sete capitais, a estimativa é de que a marcha reúna pelo menos 160 mil pessoas (contando as confirmações de presença de pessoas em Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e Porto Alegre).

O candidato, que tem posições que geram muita polêmica entre apoiadores e eleitores contrários aos seus pensamentos, está no topo das pesquisas de intenção de voto ( Bolsonaro aparece com 27% no primeiro turno, com base na última pesquisa Ibope, divulgada nesta quarta-feira). Mas, em contrapartida, tem também a maior taxa de rejeição entre mulheres, que chega a 54% ( segundo pesquisa Ibope divulgada em 24 de setembro) - sendo que atualmente as mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro.

Mas, afinal, o que tem motivado tantas mulheres a se unirem contra o candidato?

Motivos para a marcha "Mulheres Contra Bolsonaro"

1. O que Bolsonaro disse sobre salário das mulheres

Em entrevista à apresentadora Luciana Gimenez, em 2016, Bolsonaro afirmou que, caso fosse empresário, não empregaria uma mulher com o mesmo salário que pagaria a um homem (se você quiser acompanhar o que o candidato disse, a declaração está no minuto 21:55 do vídeo acima)

Bolsonaro: "A mulher, por ter um direito trabalhista a mais, que no caso é a licença gestante, o empregador prefere contratar homem. O empregador, não é o Jair Bolsonaro. E muitas vezes, por ser mulher, prefere dar um emprego ganhando menos" Luciana Gimenez: "Então você acha certo ou errado isso?" Bolsonaro: "No serviço público, não existe isso. Mas não temos como interferir na questão privada". Luciana Gimenez: "Eu perguntei o que você acha". Bolsonaro: "Eu não empregaria com o mesmo salário. Mas tem muita mulher que é competente"

A fala retrata um quadro de desigualdade salarial frequente no brasil. E o que o candidato falou é um dos maiores motivos para a revolta de mulheres, que entendem isso como uma clara defesa à desigualdade de gênero, mesmo quando a mulher e o homem apresentam as mesmas competências profissionais.

O assunto veio à tona mais recentemente durante entrevista do presidenciável ao Jornal Nacional, na TV Globo. A jornalista Renata Vasconcellos questionou o candidato sobre ter alguma proposta para combater o fato de mulheres ganharem menos que homens e, em resposta, ele insinuou que a âncora ganharia menos que o colega de bancada William Bonner.

Renata respondeu a Bolsonaro de forma contundente: "O meu salário não diz respeito a ninguém, e eu posso garantir ao senhor que, como mulher, jamais aceitaria um salário menor que o de um homem que exercesse as mesmas funções", disse.

2. Atendimento do SUS às vítimas de violência sexual

Enquanto deputado federal, Bolsonaro foi um dos autores de um projeto na Câmara, o PL 6055/2013, que previa impedir o atendimento de vítimas de violência sexual no SUS, sistema público de saúde brasileiro.

De acordo com os dados mais recentes do Ministério da Saúde, em 2014 o Brasil tinha um caso de estupro notificado a cada 11 minutos. E esta realidade iria na contramão do projeto proposto pelo candidato.

3. Vice fez declaração sobre mães e avós que criam a família sozinhas

Não é só o candidato que tem posicionamentos polêmicos, o vice de Jair Bolsonaro também. O general da reserva Hamilton Mourão (PRTB) fez uma declaração sobre os núcleos familiares que têm "mães e avós" como protagonistas (minuto 1:27 do vídeo acima), insinuando que essa criação pelas figuras maternas tenderia a formar crianças "fora da lei" e que teriam comportamentos de risco.

General Mourão afirmou que os problemas sociais "atacam eminentemente áreas carentes, onde não há pai e avô, é (só) mãe e avó. E, por isso, torna-se realmente uma fábrica de elementos desajustados que tendem a ingressar nessas narco-quadrilhas".

A declaração dada a uma plateia do sindicado do mercado imobiliário de São Paulo gerou reações imediatas nas redes sociais e a atriz Samara Felippo defendeu todas as mulheres que cuidam dos filhos e netos sozinhas, que, por várias razões, não têm o apoio de um parceiro ou homem da família para ajudar na criação das crianças.

4. Violência: armamentos, tortura e ditadura

Defensor da liberação das armas de fogo, Bolsonaro aparece com frequência fazendo com as mãos um gesto que imita um revólver. Em entrevista à jornalista Mariana Godoy, na Rede TV, ele afirmou que a arma precisa ser acessível aos "cidadãos de bem".

Bolsonaro também já homenageou, em 2016, a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra que, em 2008, foi o primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça como um torturador durante a ditadura militar no Brasil.

O posicionamento exaltando o torturador foi feito durante a sessão de impeachment da presidente Dilma Rousseff e gerou revolta pelo fato de a ditadura ser uma forma de governo que não respeita os direitos humanos de nenhum cidadão e, menos ainda, o das mulheres.

5. Declaracão sobre feminicídio

O candidato também já afirmou que o feminicídio é "mimimi" e brincou com a natureza desse tipo de crime, afirmando que, com armas liberadas, as mulheres também poderiam se proteger (veja no vídeo acima).

A declaração do candidato preocupa seus opositores porque, segundo a própria Organização das Nações Unidas (ONU), classificar o crime como "feminicídio" e não "homicídio" é importantíssimo para que a violência contra as mulheres seja combatida. Desde 2015 a lei brasileira classifica dessa forma o homicídio que é cometido com requintes de crueldade contra mulheres por motivações de gênero.

6. Acusação de racismo

Em um evento em 2017, no Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro falou em palestra que havia visitado uma comunidade quilombola (descendentes de negros escravizados que vivem em quilombos) e chocou ao comentar sobre a experiência, fazendo referências à pesagem dos quilombolas em arrobas, medida usada para pesagem de animais, e destacando que eles "não serviam nem para procriador".

“Eu fui em um quilombola (sic) em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano gasto com eles".

Além disso, no extinto programa CQC, da Band, Bolsonaro fez mais declarações tidas como preconceituosas contra negros.

Em um quadro de perguntas e respostas, a cantora Preta Gil faz uma pergunta a Bolsonaro.

Preta Gil: "Se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que o senhor faria?" Bolsonaro: "Eu não corro esse risco, meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu"

Na época, Bolsonaro afirmou ter entendido errado e acreditou que a pergunta era outra: "E se seu filho se apaixonasse por um gay?". O apresentador do CQC, Marcelo Tas, chegou a mostrar a íntegra da entrevista após a polêmica, sem cortes, para mostrar que a pergunta não foi editada.

7. Falas tidas como homofóbicas

Outra declaração bastante criticada diz respeito à forma com que Bolsonaro aborda a diversidade sexual. Em entrevista de 2011 para a revista Playboy, ele afirmou que preferia um filho morto a um filho gay e destacou que, caso um casal gay morasse perto dele, o imóvel poderia ser desvalorizado.

"Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo", disse o então deputado, como reportou, à época, o site Terra.

"Se um casal homossexual vier morar do meu lado, isso vai desvalorizar a minha casa! Se eles andarem de mão dada e derem beijinho, desvaloriza".

Em outro vídeo, Bolsonaro também já havia dito que "um coro" poderia resolver a sexualidade de uma pessoa, insinuando que bater mais no filho poderia impedir ele de se tornar homossexual (veja no vídeo acima). Essas declarações preocupam os opositores do candidato. Tendo em vista que a cada 19 horas um LGBT é assassinado ou se suicida vítima da homotransfobia, segundo relatório da Grupo Gay da Bahia (GGB), de 2017.

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