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O terremoto fez eu me sentir aterrerorizada e pequena, mas nunca sozinha

Publicado 21 Set 2017 – 12:14 PM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 02:15 PM EDT
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Nunca estamos suficientemente preparados para um terremoto. Não importa quantos treinamentos façamos ou quantas vezes a gente repita o que devemos fazer. Quando o tremor chega, há algo em que não havíamos pensado: o medo. Tentamos manter a calma e atuar com cautela, mas em cada batida do nosso coração sentimos medo.

Minha experiência não é muito diferente da de milhares de mexicanos que viveram este 19 de setembro de 2017. Apenas duas horas antes, meus companheiros de trabalho e eu participamos de uma grande simulação para relembrar o terrível terremoto de 1985 (sim, o mesmo dia, mas 32 anos depois. Qual a probabilidade de isso acontecer?). Soou o alarme, descemos as escadas e seguimos as instruções dos profissionais capacitados. Nada fora do comum, um aniversário mais do tremor para criar consciência sobre como atuar nesses casos.

Mas o dia não terminou ali. Como se fosse uma piada macabra, o simulacro funcionou como preparação para o que ocorreria dali a duas horas. À 1:14 da tarde soou novamente o alarme do edifício. Mas desta vez nem tudo foi calmo, pois o som vinha acompanhado de uma forte sacudida que por um momento nos deixou em choque. O pior de sentir medo é que ele é traiçoeiro, e te paraliza quando você mais precisa se mover.

Enquanto descíamos as escalas para sair do ambiente, todos pensávamos o mesmo: em nossas famílias e amigos. O desejo de que estejam bem e consigam sair a tempo de onde estiverem é o motor que te impulsiona a agir corretamente e vencer o medo. Você coloca de lado o terror e simplesmente continua, pensando sempre em seus entes queridos e no seu desejo de vê-los novamente.

Uma vez do lado de fora, os minutos se fizeram eternos. Todos queríamos saber como estavam nossos familiares e conhecidos, até que as linhas de comunicação entraram em colapso. A diferença para o tremor que ocorreu há 32 anos, é que agora temos redes sociais e internet para difundir mais rápido a informação. Mesmo assim, ela veio a conta-gotas e ninguém estava seguro de nada.

Os problemas para nos comunicarmos com nossos familiares fizeram o medo chegar novamente. Estarão bem? Teriam saído a tempo? Precisam de ajuda? É a única coisa em que você consegue pensar neste momento, em ir para casa se reunir com eles e estar seguro de que todos estão bem. 

Mas o caminho para casa ainda seria longo. O transporte público era escasso, as ruas e avenidas se tornaram um caos por conta do tráfego pesado e era difícil demais se locomover. Queria chegar voando à minha casa, mas a única alternativa era caminhar e caminhar com o restante das pessoas. Todos tínhamos o medo no olhar, mas sorríamos uns aos outros para nos dar ânimo, para lembrar que somos muitos e não vamos nos deixar cair.  

E justo aí, quanto mais assustada e desorientada me sentia, começaram as demonstrações de apoio. Essas ações que nós, mexicanos, dominamos. Porque, como diria meu avô: "Aqui ninguém se deixa cair. E o que cai, nós colocamos de pé. Afinal, somos muitos". 

Caminhando sobre o Paseo de la Reforma (uma importante avenida mexicana), juntei-me a duas jovens. Estavam visitando a Cidade do México com sua família e não sabiam o que fazer. Acordamos que andaríamos juntas por uma parte do caminho. Falamos sobre nossas famílias e sobre as coisas boas que há nesta cidade para nos sentirmos melhor, nos fez esquecer o medo.

Chegamos até o Tlatelolco e ali, em uma esquina da enorme unidade habitacional, essa que sofreu graves danos no terremoto de 1985, uma senhora estava distribuindo garrafas de água a quem estava muito tempo caminhando até suas casas. Sem pedir nada em troca, ela não entregava apenas a bebida, mas também um sorriso carinhoso e algumas palavras de alento para nos confortar. "Que chegem rápido e bem em casa", nos disse com ternura, e foi como se nos desse um abraço na alma.

A caminhada continuou. Dezenas de pessoas seguiam à pé pelas avenidas. O transporte público ainda era insuficiente, então tivemos que continuar até chegar em casa. O cansaço começou a aparecer e, com ele, o desespero. Quanto tempo mais vai demorar para estarmos seguros?

Então foi como se alguém escutasse nossa pergunta e nos respondesse não com palavras, mas sim com ações. Algumas caminhonetes e caminhões de carga passaram pela avenida com letreiros que indicavam para onde estavam indo. Convidavam as pessoas a subirem, queriam nos ajudar a chegar mais rápido e não ter que caminhar tanto. As palavras de agradecimento não demoraram, pois nestes casos cada minuto conta.

Eu finalmente cheguei em casa e tive certeza de que minha família e amigos estavam bem. No entanto, notei que um edifício ali perto estava desmoronando com pessoas dentro. Mais uma vez senti um nó na garganta tão forte que me impedia de respirar. Mas o medo desapareceu quando vi todos os meus vizinhos se organizando para ajudar. "O que eu faço?", "Como eu ajudo?", "Se alguém precisar ligar para a família, meu telefone funciona, podem usar sem problemas".   

Sim, todos estamos assustados, todos tememos que isso volte a acontecer. Mas o mais importante é que todos estamos unidos e não vamos nos deixar vencer. O México é o povo unido, trabalhando ombro a ombro. O México é esta senhora que preparou bolos para os voluntários. É esta menina que abriu seu quarto para que outras crianças que ficaram sem suas casas pudessem brincar e por um momento se esquecessem da situação.

O México são estes universitários que, sem pensar duas vezes, se uniram às brigadas de ajuda. Este casal que está recebendo os cachorros e gatos que se perderam. O México é todas estas pessoas que, sem interesse algum, doam comida e ferramentas, que emprestam suas mãos para ajudar. Meu México querido, esse que se mantém forte e de pé, se mantém assim porque seguimos unidos. Podemos estar muito assustados, mas nunca estamos sozinhos. 

Original do Vix em Espanhol, escrito por Vanessa Mena.

Terremoto no México

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