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Que tempestade é essa que matou 4 e gerou surto de asma na Austrália? Brasil corre risco?

Publicado 25 Nov 2016 – 03:21 PM EST | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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matéria publicada em: 25 de novembro de 2016

A cidade australiana de Melbourne sofreu, no início desta semana, uma tempestade que desencadeou em uma série problemas. Quatro pessoas morreram e três permanecem gravemente feridas. Mas a culpa das mortes não é da forte chuva, e sim da substância que a tempestade fez com que se espalhasse pela cidade, provocando casos muito graves de asma (falta de ar). Além dos mortos, mais de 1.800 pessoas procuraram hospitais com quadros acentuados de asma.

Este é um raro, porém possível, exemplo de ‘ tempestade de asma’.

Azevém causa falta de ar

A chuva gerada pela tempestade fez com que um tal pólen, conhecido como azevém, que é um tipo de pastagem geralmente cultivado no inverno, fosse espalhado por toda a cidade. O azevém é classificado como erva alergênica, ou seja, que pode causar alergia.

“Em um único grão de pólen habitam 700 grânulos de amido de 0,5 a 2,5 micrômetros, pequeno o suficiente para atingir as vias aéreas inferiores do pulmão”, explicou relatório da Clínica de Imunologia e Alergia da Sociedade Australiana. “Quando chove ou está úmido, os grãos de pólen podem absorver a umidade, liberando centenas de pequenas partículas alergênicas que podem penetrar nas pequenas vias aéreas do pulmão”.

Isso é grave, porque nem todos que disseram ter sentido falta de ar reportaram problemas de asma anteriormente. Alguns australianos tiveram rinite alérgica e responderam de maneira hostil ao pólen de azevém.

Casos como esse já foram registrados na Itália, Canadá, Estados Unidos e Inglaterra (que, em 1994, registrou 640 casos de pessoas que foram ao hospital).

Há risco do mesmo acontecer no Brasil?

No Brasil, o azevém existe. Por aqui, o tal polém serve como pastagem alternativa aos gados. Por ser cultivado no inverno, ajuda a manter a pecuária produzindo leite em períodos em que outros tipos de pasto estão mais escassos.

O azevém resiste à umidade e está bastante presente em estados do Sul do Brasil. Considerada uma planta de fácil dispersão, ela pode ‘invadir’ outras plantações, afetando o ciclo delas.

“Ela caracteriza-se como planta daninha em praticamente todas as lavouras de inverno no sul do Brasil”, explicaram os pesquisadores Erlei Reis e Anderson Danelli, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (RS).

Não há casos de ‘tempestades de asma’ no Brasil, como aconteceu em Melbourne. Mas, durante a primavera (de setembro a outubro), período em que seu cultivo é estimulado para alimentar os gados, os pólens costumam ser transportados pelas ventanias e causam uma doença chamada de Polionose.  

“Clinicamente, a polinose é caracterizada por rinoconjuntivite e/ou asma brônquica. Os pacientes manifestam prurido ocular com hiperemia conjuntival, coriza, espirros, prurido nasal ou faringo-palatal, ausência ou presença de obstrução nasal”, explica uma pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia (MG). Em 15% a 20% dos casos, a reação ao pólen pode levar à asma.

Pesquisas epidemiológicas constataram que em algumas cidades do Rio Grande do Sul a polinose chega a afetar entre 2,4% (na região do Planalto médio, na cidade de Passo Fundo, por exemplo) a 4,8% (na serra gaúcha, em Caxias do Sul).

Portanto, se houvesse uma tempestade parecida com a de Melbourne no Brasil, o Rio Grande do Sul seria o estado mais vulnerável. Mas, por mais que os pólens de azevéns estejam concentrados naquela região, algumas mudanças em práticas agrícolas crescem desordenadamente em terrenos abandonados na periferia das cidades grandes, ao longo de rodovias, entre outros locais.

Talvez esses pequenos pólens tenham interferência naquela rinite chata que costuma vir depois do inverno. É uma explicação plausível.

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