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Entenda por que esta estampa de camiseta está dando o que falar nas redes sociais

Publicado 14 Out 2016 – 04:15 PM EDT | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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Uma blusa com estampa que retrata a escravidão dos negros no Brasil viralizou nas redes sociais nesta sexta, 14, e gerou revolta e ataques à marca de roupas Maria Filó. 

A autora do post polêmico, Tâmara Issac, publicou a foto da estampa em seu Facebook, criticando a representação da imagem de uma escrava negra que aparece servindo uma mulher branca. A postagem provocou uma avalanche de críticas pelo fato de a marca usar ilustrações que remetem a este período da história do Brasil para estampar uma peça de roupa, que faz parte da coleção Pindorama. Entenda a polêmica a seguir.

Blusa com estampa de escravos

A servidora pública Tâmara Isaac, de 29 anos, publicou em seu Facebook um depoimento sobre a estampa da blusa, que considerou racista. Nos detalhes da peça, que é branca com estampa preta, há imagens que remetem à escravidão do Brasil, um dos momentos da história do país que ainda refletem na forma desigual que negros e brancos são tratados na sociedade.

Além de criticar o uso desta estampa pela marca Maria Filó, Tâmara ainda falou sobre a diferenciação de atendimento a mulheres negras em espaços públicos, como em uma loja de roupas. Ela mesma conta que, ao entrar na loja, não recebeu atenção das vendedoras, o que não aconteceu com uma mulher branca que entrou minutos depois no estabelecimento. 

“Hoje, fui procurar umas blusinhas bacanas para comprar e entrei na loja da Maria Filó. Entrei e ninguém me cumprimentou ou falou qualquer coisa comigo, minutos depois, entrou uma mulher branca, prontamente recebida com um: "Boa tarde! Se precisar de algo é só falar". Até aí, nenhuma novidade, só mais um dia normal na vida de um negro”. 

Depois de começar a ver as peças, Tâmara relata que encontrou a blusa com estampa racista. Ela faz parte de uma coleção da marca, a Pindorama, referência ao nome que os índios tupis deram ao Brasil. 

No site da marca, há outra peça com a mesma estampa: uma blusa feminina de mangas com botões que custa R$ 239,00 (preço pesquisado em 14/10).

Tâmara conta que perguntou à vendedora da loja qual era o propósito daquela estampa e, como relata, não teve resposta.

“Começo a olhar as roupas e me pergunto: Confere? É uma estampa de escravas entre palmeiras. É uma escrava com um filho nas costas servindo uma branca? Perguntei à vendedora se aquela estampa tinha alguma razão de ser ou se era só uma estampa racista mesmo. Ela, me dirigindo à palavra pela primeira vez, não soube responder. Entrei no site da marca, com a esperança de que houvesse algum sentido naquilo, mas só encontrei uma marca que não satisfeita em representar somente mulheres brancas achou que esse Toile de Jouy de escravas seria de muito bom gosto”.

Naturalização do racismo

Tâmara contou ao Vix que a publicação, que já tem mais de 5 mil curtidas e 710 compartilhamentos, é necessária para gerar diálogo sobre a naturalização do racismo, um comportamento social muito comum no Brasil, em que o negro é acusado de se vitimizar e “ver racismo em tudo”.

“Eu já ouvi comentários de que isso é ‘mimimi’, que ‘tudo é racismo para nós’, mas foi basicamente por isso que eu publiquei. Mas, muita gente vai parar para pensar e perceber que isso não é normal”, comenta. “Pegar um período histórico tão sombrio e usar como recurso estético não é normal”.

Em resposta a usuários que foram à página oficial da marca (veja o posicionamento completo no final da matéria), a Maria Filó explicou que a estampa é inspirada na obra de Jean-Baptiste Debret, um pintor francês que retratou o cotidiano da sociedade brasileira no século 19.

Para Tâmara, o uso da imagem para estampar a peça de roupa contextualiza a ilustração de outra forma.

“Uma coisa é expor como arte, que eu acredito que precisa ser vista. Não é para esconder essa parte da história, porque é importante reconhece-la. O problema é como está sendo mostrado [pela Maria Filó], sem nenhuma reflexão sobre o assunto. Eu me pergunto como isso passou por toda a cadeia produtiva da peça e ninguém percebeu que era racista”.

Posicionamento da marca

A Maria Filó publicou um posicionamento aos usuários que criticaram a estampa da blusa em comentários no Facebook e informou que a estampa será retirada das lojas:

“Gostaríamos de fazer um esclarecimento. A estampa em questão buscou inspiração na obra de Debret. Em nenhum momento tivemos a intenção de ofender. Pedimos sinceras desculpas e informamos que já estamos tomando as devidas providências para que a estampa seja retirada das lojas”.

O Vix pediu resposta à assessoria da marca mas, até a publicação desta matéria, não recebeu resposta.

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