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Homem que ingeriu 40 facas é caso de síndrome mais comum do que imagina

Publicado 29 Ago 2016 – 10:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Causou comoção e principalmente estranheza a história de um homem indiano de 42 anos que teve um total de 40 facas no estômago.

O homem, que não quis se identificar, foi submetido a uma cirurgia de 5h. Em entrevista ao canal norte-americano CNN, um dos cirurgiões, Jatinder Malhotra, afirmou que o paciente sofria de “desejo selvagem de consumir metais”.

O indiano disse que passou a ingerir essas facas, de até 18 cm, há cerca de dois meses. “Gostei do sabor e me viciei. Assim como pessoas se viciam em álcool e outras coisas, minha situação foi essa", confessou.

Distúrbio de comer alimentos não comestíveis

De acordo com o Instituto de Saúde Nacional (NIH), dos Estados Unidos, indivíduos que costumam ingerir materiais não comestíveis sofrem de síndrome de ‘pica’.

Desde a Antiguidade menciona-se casos sérios de pessoas com esses distúrbios – como, por exemplo, crianças que comem terra (infelizmente algo comum entre escravos nas Américas) e pessoas com ingestão de fezes (coprofagia).

Outras substâncias que pessoas com ‘pica’ costumam comer: tufos de cabelo, areia, tintas de pintura, argila, metais e papéis.

Casos como o do homem indiano se classificam como acufagia, relacionada ao gosto por objetos pontiagudos.

Em latim, ‘pica’ é um termo que remete à espécie mais comum do pombo, que come tudo o que vê pela frente.

“Policial indiano engoliu 40 facas. Há uma doença chamada Pica, alimentação compulsória de substâncias não-nutritivas”

O que é síndrome de pica

Apesar da falta de dados mais precisos sobre a verdadeira origem e um número aproximado de pessoas que sofreram com esse distúrbio no passado, cientistas norte-americanos têm relatado aumento no número de pessoas com síndrome de pica.

O Instituto de Saúde e Pesquisa da Agência de Saúde dos EUA alertou que, de 2000 para 2009, houve um aumento de pelo menos 25% de casos globais de transtornos alimentares classificados como ‘pica’. Enquadram-se nessa estatística casos em que pacientes ficam mais de um mês ingerindo alimentos não comestíveis.

O Centro de Saúde Mental dos EUA explica que esse transtorno afeta geralmente crianças pequenas, mulheres grávidas e indivíduos “cujo ambiente cultural seja mais compatível com o consumo de itens não-alimentares”.

O NIH alerta que muitas crianças podem manifestar características dessa síndrome. Mulheres grávidas também estão bastante vulneráveis: um estudo constatou que 44% de mulheres mexicanas que moram no sul dos EUA e na Baixa Califórnia tinham sintomas de ‘pica’ no período de gravidez.

A Câmara Americana de Medicina Familiar acrescenta que casos de ‘pica’ são “comuns em áreas de baixos índices socioeconômicos”.

Síndrome de ‘pica’: problemas psicológicos?

Em entrevista ao LiveScience a psicóloga clínica Gilda Moreno, do Hospital Infantil de Nicklaus (Miami, EUA), disse que pode haver problemas psicológicos nesse tipo de transtorno.

A falta de certos minerais no corpo, como ferro e zinco “pode desencadear ‘pica’ em algumas pessoas”, explicou. Além disso, segundo ela, pode estar relacionada a doenças como esquizofrenia e autismo.

A Câmara de Medicina Familiar também aponta: “Algumas evidências recentes relacionam a ‘pica’ com distúrbios obsessivo-compulsivos”.

Por mais que casos como o do indiano continuem intrigando os especialistas, o grande montante de estudos se esbarra mais em suposições que constatações. A pesquisa da Câmara Americana conclui: “Para nosso conhecimento, a prevalência da ‘pica’ é desconhecida. Provavelmente é um padrão de comportamento impulsionado por diversos fatores”.

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