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E agora, vamos passar mais quatro anos sem saber dos atletas olímpicos?

Publicado 24 Ago 2016 – 06:31 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Você sabia quem era a judoca Rafaela Silva antes dela ganhar o ouro nas Olimpíadas 2016? Já tinha ouvido falar no canoísta brasileiro Isaquias Queiroz e sua história de superação? Se quer imaginou que existissem atletas que ficariam felizes como Caio Bonfim, que ficou em quarto lugar na marcha atlética, mas que vibrou como se tivesse ganhado medalha? Esses atletas olímpicos brasileiros marcaram a história da Rio 2016, mas, antes disso, já eram vitoriosos.

Eles já existiam antes dos Jogos, mas a gente nunca tinha ouvido falar. Ou se tinha, não deu muita importância. O motivo disso é, segundo o secretário geral da Confederação Brasileira de Canoagem, Carlos Bezerra de Albuquerque, que “se valoriza demais só o ser campeão. Fica toda essa loucura que é só quando alguém ganha uma medalha, mas o brasileiro não tem a cultura de valorizar o esporte como um espetáculo realmente, assim como ele faz com a música, com o teatro, com o cinema” .

E agora, que as Olimpíadas acabaram, a gente pode ficar mais quatro anos sem saber nada deles.

Importância do incentivo ao esporte

Para Bezerra, pode até parecer que sim, mas o Brasil não está muito atrás do resto do mundo quando se fala em esporte. Ele acredita que o país está avançando para se tornar uma das potências esportivas do mundo. “O interesse esportivo fora do Brasil não é muito diferente. O problema é que nem todas modalidades são atrativas. Quem gosta de esgrima, por exemplo? É isso o que realmente emociona? Não. É preciso, então, criar competições que chamem atenção do público, criar imagens bonitas para atrair as pessoas e a mídia”, diz ele.

Também falta a cultura do esporte ser inserida na educação desde cedo para que o esporte seja visto como uma forma de entretenimento e que vá além do futebol. É importante criar uma cultura esportiva, mas é preciso entender que o esporte competitivo, esse dos Jogos Olímpicos, é diferente do esporte visto como saúde, como lazer, como forma de inclusão social.

“As Olimpíadas são legais porque tem todos os esportes, você vê um pouco de tudo, vê seu país e tal. E não tem todo dia, por isso chama atenção. Mas o esporte profissional não é para todo mundo”, conta Bezerra. “Precisa descobrir o cara certo, o talento. Não é só treino, não é só bons treinadores. Tem uma conjunção de fatores. Mas é claro que precisa de estímulo para descobrir”, aponta.

Esporte na escola

Pesquisas mostram que as escolas não conseguem despertar o interesse dos alunos e que atletas jovens acabam recebendo pouco incentivo para continuar. “Antigamente, cabia aos clubes oferecer treinamento aos iniciantes. Hoje em dia, esse espaço está sumindo”, avalia a coordenadora Maria Tereza Silveira Böhme, professora da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista para o site da universidade.

Muitos, inclusive, sofrem preconceito pela prática de esporte como profissão. “Há nove anos que eu treino marcha atlética e não teve um único dia que durante meu treino, não escutasse as frases “vira homem”, “para de rebolar”, “viado”, “vai para casa trabalhar. Mesmo hoje em dia, apesar do apoio que recebo em Sobradinho, sou ofendido diariamente”, conta Caio Bonfim, sobre a falta de reconhecimento do que faz, em entrevista ao site de notícias Terra.

E esse sentimento não é exclusivo dele. Inúmeros atletas pensam em desistir todos os dias. A história da judoca Rafaela Silva, por exemplo, mostra o quanto ela foi criticada e discriminada, e passou por maus bocados quando foi desclassificada nas Olimpíadas de Londres, em 2012. “Sofri muito depois da derrota. Até pensei em desistir. Nesse ciclo, ninguém treinou mais do que eu. Achei que ia ter incentivo, mas estava todo mundo me criticando”, desabafou ela pela internet.

Isso só mostra que o Brasil ainda tem muito a aprender para conseguir virar uma nação que aprecia o esporte e que valoriza a prática esportiva como profissão. Posturas essas que dependem não só do incentivo e do estímulo de quem está no poder, seja financeiro ou educativo, mas também em desenvolver uma cultura de reconhecimento desses atletas pela sociedade, que vá além do “ser campeão" e do “ganhar medalhas”.

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