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Idade Média: como as pessoas viviam na era medieval que inspirou filmes e novelas?

Publicado 10 Jan 2018 – 02:08 PM EST | Atualizado 14 Mar 2018 – 05:03 PM EDT
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A Idade Média é um período longo da humanidade. Por mais de 1 mil anos, a civilização ocidental viveu esta época, que os historiadores definem ter começado no ano de 476 (data da queda do último imperador romano) e se encerrou no século 15 (o marco mais representativo é a chegada de Cristóvão Colombo à América, em 1492).

Durante muito tempo, o período foi chamado de Idade das Trevas. Isso porque a queda do Império Romano levou consigo a pujança econômica da Europa, norte da África e Oriente Médio e levou ao fim os avanços culturais, artísticos e científicos da Antiguidade.

Mas o termo “trevas” é injusto: embora marcada pela pobreza do feudalismo, por epidemias de pragas e pelas sangrentas Cruzadas, a Idade Média rendeu grandes frutos na arte, sobretudo na arquitetura e na literatura. Deste período, ficaram as lendas e mitos de cavaleiros, reis, magos e tudo que envolve a cultura medieval - que é matéria-prima de tantas obras populares, como "O Senhor dos Anéis", "Game of Thrones" e até a novela "Deus Salve o Rei", primeira aventura da Globo no gênero.

Conheça um pouco de como reis, rainhas, cavaleiros e camponeses viviam no período:

Como era a vida na Idade Média?

Se você fosse um camponês na Itália, França, Inglaterra ou demais territórios adjacentes, seus dias seriam praticamente iguais. Acordaria às 5h da manhã e levantaria de sua “cama” (na verdade, um tipo de colchão improvisado feito de palha) e comeria um mingau de pão antes de trabalhar.

Se fosse homem e tivesse mais de 12 anos, iria diretamente para os campos de colheita extrair trigo e cevada. Se fosse mulher ou criança, cuidaria da horta e dá comida às galinhas. Dependendo do feudo em que você estivesse, a taxa a pagar ao senhor feudal seria diferente. 

Geralmente, metade de sua força de trabalho era empregada nas terras dele. O único dia de descanso era o domingo, dedicado à missa e a Deus - o catolicismo era a religião oficial e a única aceita à época.

Vida de Rei, de senhor feudal e de padre

Os reis viviam de modo mais tranquilo possível. Moravam nos castelos mais impressionantes, tinham criados para tudo e se sustentavam graças aos impostos pagos pelos senhores feudais. Acreditava-se que o rei era um representante da vontade divina e, por isso, recebia todos esses privilégios.

Mas quem mandava de verdade no dia a dia das pessoas eram os senhores feudais, donos de extensões de terra na qual o povo morava, trabalhava e vivia sob suas ordens. Sua contrapartida era o aluguel de moinhos e fornos e a manutenção da segurança de todos que estavam dentro de seu território.

Quem também vivia sob condições privilegiadas eram os cléricos. Trabalhavam nas plantações, mas recebiam grandes quantidades de dinheiro no dízimo e se alimentavam com muito mais abundância que os camponeses. Eram os únicos a terem acesso à alta educação e os mosteiros funcionavam como bibliotecas - não à toa, dois dos grandes pensadores do período eram religiosos, casos de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

Alimentação medieval

Pão era a base de toda alimentação. Às vezes, o pão exercia até o papel de prato durante uma refeição: carnes ou caldos eram depositados sobre uma generosa fatia e tudo comido com as mãos - o máximo de talher usado era a faca. Além de pão, os grãos eram a base de mingaus, massas e sopas.

Os camponeses tinham dieta baseada nestes produtos de grãos, hortaliças e vez ou outra mastigavam carne - frango e porco eram mais comuns, carne bovina era considerada mais nobre. Já os ricos comiam muito. Estima-se que senhores feudais, clérigos e reis consumiam até 9 mil calorias por dia: mais de 1 kg de pão, mais de 1 l de cerveja ou vinho e muita carne e queijo.

Bem servidos, os poderosos eram mais gordinhos. Por isso as obras de arte da época valorizavam as formas mais arredondadas como mais belas. No entanto, estudiosos acreditam que a diversidade alimentar dos camponeses, embora muito menos farta, fosse mais saudável.

Pão de cogumelo

Não se trata de uma receita mais saborosa, mas de um pão que poderia deixar todo mundo muito louco. As plantações ou os estoques de trigo comumente eram contaminados com o fungo ergot, cujos efeitos alucinógenos são parecidos com o do LSD e podia até matar. E o risco não era só esse: ao consumi-lo e ficar, digamos, fora de si, o medieval poderia ser acusado de bruxaria e condenado à fogueira.

Água contaminada? E muita cerveja e vinho

Há um mito de que na Idade Média não se tomava água, somente vinho e cerveja. É uma mentira baseada em um fato real: tomava-se muita cerveja e vinho. A temperatura da Terra durante o período era perfeito para plantações na Europa e havia fartura de uvas e grãos. Parte disso ia para fabricar as bebidas alcoólicas fermentadas - os pobres tomavam mais cerveja, os ricos, mais vinho.

No entanto, água era parte integrante da dieta medieval. Não havia esgoto e muito menos água encanada à época, então a água era extraída de rios e poços e, de fato, poderiam se misturar com os dejetos humanos. Mas desde aquela época já se usavam alguns mecanismos de medição para identificar se a água era propícia para consumo ou não.

Higiene na Idade Média: banho semanal em família

A higiene na Idade Média era praticamente nula se comparada com os nossos padrões atuais. Não havia o hábito de tomar banho ou escovar os dentes todos os dias. Mas, sim todas as semanas. Os banhos aconteciam com frequência espaçada e é difícil apontar uma periodicidade precisa, afinal cada comunidade tinha um costume diferente.

A regra era que ocorressem banhos públicos: a família inteira tomava banho junto, ao lado de outras famílias, todas no mesmo espaço e até dividindo a mesma água.

No entanto, a lenda de que só se tomava banho uma vez por ano é exagerada. Historiadores informam que o hábito era baseado pelas crenças religiosas. De um lado, havia a interpretação de que a sujeira do corpo representava a sujeira da alma. De outro, que quem aceita a fé pelo sangue de Cristo não precisa se limpar - estes tomavam banho cerca de 5 vezes por ano.

Extratos de flores serviam como perfume - algo precisava ser feito para disfarçar o fedor. E havia preocupação com os dentes também: há indícios de que eram escovados usando alecrim queimado.

Dejetos voadores

“Água vá”. Este termo foi comum nas cidades europeias até o século 18 e quando se ouvia, a primeira coisa a se fazer era proteger o rosto: algo de ruim estava para voar pelo céu. A expressão era usada para avisar que os dejetos humanos (urina e fezes) depositados no penico seriam jogados janela a fora.

Na Antiguidade, em Roma, havia sanitários públicos coletivos. Funcionava assim mesmo: chegava ao local e fazia as devidas necessidades lado a lado com outra pessoa na mesma atividade, se assim podemos dizer. Na Idade Média, os penicos eram comuns em concentrações populacionais (que eram raras); já nos campos, a ação era no meio do mato mesmo.

Medicina precária e muitas doenças

A falta de higiene impactava também a saúde da população média. A expectativa de vida não passava de 35 anos e metade das crianças que nasciam não chegavam a 2 anos antes de morrer. Neste sentido, o termo Idade das Trevas cabe bem.

A rejeição à ciência dos povos da Antiguidade e afirmação de crenças religiosas foi o principal fator para tantas epidemias. Na lógica da época, acreditava-se que os doentes estavam recebendo algum tipo de punição divina ou alguma expressão do diabo, e era comum que parte deles fosse entregue à morte. Quando os tratamentos eram aplicados, não havia qualquer fundamento: emplastos de mel e fezes, sangrias com sanguessugas e correntes de oração eram as principais apostas.

Entre 1346 e 1353, a peste negra foi responsável pelo maior extermínio já registrado pela humanidade. Transmitida via pulgas e ratos, a epidemia correu Europa, Ásia e norte da África e matou quase 200 milhões de pessoas. Portugal foi um dos países mais afetados e viu quase 50% da população diminuir; na Europa toda, estima-se que um terço dos habitantes padeceram do mal.

Futebol: paixão desde Era Medieval

Não era o futebol que conhecemos hoje, mas seu bisavô já era praticado na Idade Média. Chamado de “futebol medieval”, consistia em uma disputa entre dois povoados. Neste esporte, uma bola feita de bexiga de porco era chutada de um lado para o outro com o objetivo de levá-la até um ponto específico do povoado adversário (às vezes, era a igreja). E todo mundo participava: crianças, homens e mulheres se empurravam, acotovelavam e disputavam o domínio da bola até alguém chegar no “gol” primeiro.

Como a única regra era não matar, o futebol medieval era consideravelmente violento e chegou a ser proibido. Voltaria de forma mais organizada no século 19, no Reino Unido, e depois se tornaria o esporte mais popular do planeta.

Por trás da Idade Média

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