null: nullpx
são paulo-Mulher

Há outra cidade sob São Paulo: passagens, túneis e porões têm as mais variadas funções

Publicado 16 Mai 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:06 AM EDT
Compartilhar

Quem transita a pé ou de carro pela maior cidade do Brasil muitas vezes pode não imaginar os segredos que ela esconde embaixo da Terra. E não estamos falando do metrô nem de túneis para carros. Existe praticamente outra cidade no subsolo de São Paulo.

Para o escritor Alberto Mawakdiye, o subsolo da capital se destaca pela antiguidade e pelo valor histórico. “Entre as cidades brasileiras, São Paulo é a única que mantém points subterrâneos com opções que incluem teatros, monumentos, restaurantes, aquários e até catacumbas e destroços urbanos”, disse num artigo publicado pelo Sesc.

Passeios embaixo da terra

Se, politicamente, a questão foi deixada de lado, há quem ofereça opções para conhecermos o subsolo de São Paulo. Aproveitando nossa curiosidade, o turismólogo Cauê Lage montou um passeio chamado “Trip Subterrânea” que percorre pontos escondidos da capital. Mais de 400 pessoas já foram conhecer lugares escondidos com ele, que informou que 80% dos participantes são moradores da cidade.

“Os paulistanos não conhecem a cidade em que moram, por isso a maioria fica espantada pelas informações que são passadas. Todo mundo gosta e conhece São Paulo com uma forma diferente”, explica sobre as pessoas que procuram sua empresa para realizar o passeio.

Segredos escondidos no subterrâneo de São Paulo

O subsolo de São Paulo está repleto de histórias reais, heróis enterrados, túneis secretos, lendas e boatos. Nesse especial do Vix você vai conhecer um pouco mais sobre esses lugares escondidos.

Túnel da Casa das Caldeiras

Fundada em 1920 para abrigar caldeiras que a família Matarazzo havia comprado da Europa, o prédio hoje é tombado pelo Patrimônio Histórico. Ali funcionava a produção de energia para todo o parque industrial de uma das famílias mais poderosas da cidade na época.

Feito todo de alvenaria de tijolos, é possível caminhar abaixo do nível do chão e ver as três chaminés pelo lado de dentro. Os túneis hoje cediam exposições e a Casa se tornou um polo cultural alternativo de grandes festas e eventos.

 Porões do Teatro Municipal

Originalmente, esses espaços foram criados para ajudar na ventilação da sala de concertos. Mas a utilização real deles foi mudando com o passar dos anos. Houve uma época em que um túnel saía do Teatro em direção ao antigo Hotel Esplanada, localizado onde hoje é a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento.

Reza a lenda que ninguém sabe muito bem onde esse túnel desemboca no Teatro, já que a saída no subsolo da Secretaria é a única conhecida. O fato é que ele era usado para grandes artistas chegarem ao teatro sem ter que atravessar a Praça Ramos de Azevedo.

A área do subsolo do Teatro é conhecida como Salão dos Arcos e é lá que começou a construção de toda a estrutura do prédio – o semicírculo ajuda na sustentação, por isso o nome do espaço. Os túneis ficam a, pelo menos, dois metros abaixo do chão e muitos deles estão fechados, mas é possível ver a saída de um deles, que dá em uma das calçadas da Praça Ramos.

Muitos são usados por funcionários ou abrigam os dutos de ar-condicionado do prédio. Esporadicamente há exposições do Salão. Existe um plano antigo de usar o espaço como restaurante. Previsto para 2017, o Bar Arcos será aberto e poderá ser uma curiosa opção subterrânea na cidade.

Subsolo Hospital das Clínicas

Se você se interessou pelo lugar, é bom saber que talvez seja melhor não andar por lá. De uso exclusivo dos funcionários, o túnel a 3,5 metros abaixo do chão serve para o trânsito de cadáveres.

Mais precisamente, a passagem de cerca de 90 metros liga de uma maneira rápida e discreta o Instituto do Hospital das Clínicas ao Serviço de Verificação de Óbitos. Diz-se que as famílias de Elis Regina e Raul Seixas acessaram o lugar na morte dos músicos para terem mais privacidade no luto.

Cripta da Catedral da Sé

Aberto ao público, a cripta está no roteiro do passeio idealizado por Cauê Lage. “O espaço serve para conhecermos São Paulo de um jeito diferente”, justifica. Se trata de uma capela subterrânea construída sete metros abaixo do principal altar da igreja.

Com mais de 600 metros quadrados, a construção gótica abriga restos mortais de bispos e arcebispos. Entre as personalidades ali encontradas, estão o cacique Tibiriçá, um dos primeiros índios catequizados, e Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo do estado que lutou contra a ditadura.

Estação abandonada do Metrô

Existiu o projeto de interligar a estação Pedro II do metrô com linhas de trem metropolitano, no modelo que acontece na Estação Brás. Como se São Paulo não precisasse de mais linhas de transporte coletivo, o plano foi cancelado, mas as obras já haviam sido iniciadas. É por isso que bem abaixo da Pedro II existe toda uma estrutura abandonada desde o fim dos anos 1960. Ela iria servir de plataforma dos trens que chegariam ali.

Subsolo do Conjunto Nacional

Abaixo do Conjunto Nacional existe uma galeria de dois mil metros quadrados e a única entrada é um bueiro na esquina da Avenida Paulista com a rua Augusta. Se trata de outro espaço abandonado do subsolo da cidade bem abaixo da via mais famosa da cidade. Aliás, há ali 22 galerias subterrâneas não utilizadas.

Esses espaços permanecem abandonados desde 1967, quando um projeto ampliou a largura da avenida e tomou parte dos prédios. Na superfície, houve recuo dos imóveis. Abaixo da terra, espaços que eram usados como garagens viraram públicos, mas nenhuma administração soube como utilizar.

Túnel da Rota

A passagem que já teve quase três quilômetros de extensão hoje mal chega aos cem metros. É que boa parte foi aterrada para construção do metrô. Localizado no subsolo do quartel da tropa da Polícia Militar, já foi usado para transporte de presos políticos durante a ditadura. Hoje abriga um memorial com antiguidades do batalhão.

Teatro Centro da Terra

Inaugurada em 2001, a obra levou dez anos para ser concluída. Ou você achou que abrigar toda a estrutura de um teatro 12 metros abaixo da terra seria rápido de construir? Para chegar tão fundo e assistir alguma peça, no “espaço que é referência de bom teatro em São Paulo”, segundo o escrito Alberto Mawakdiye, espectadores precisam de capacetes e luzes para descer os túneis.

Monumento à Independência

Abaixo do Parque da Independência foi construído em 1922 o Monumento. É lá onde hoje estão os restos mortais de Dom Pedro I e suas duas esposas – as imperatrizes Leopoldina e dona Amélia. A cripta foi construída somente nos anos 1950 e demorou outros 50 anos para ser aberta ao público.

Aquário Subterrâneo no Parque da Luz

Quem passeia pelo Parque da Luz, bem no centro da cidade, pode não saber que o lugar abriga um aquário abaixo da terra. Situado numa espécie de caverna, faz parte das atrações do parque. Não será o maior aquário que você vai ver na vida, mas pode agradar por ser inusitado.

Obelisco Ibirapuera

É curioso imaginar que um monumento feito para impressionar pelos 72 metros de altura tenha atrações no subsolo. Mas a gente esquece que o nome real do monumento é “Obelisco Mausoléu aos Heróis de 32” e sendo um mausoléu, os restos mortais dos heróis precisam estar em algum lugar.

Segundo Cauê Lage, da Cgt Trekking e Ecoturismo, esse é o local que mais impressiona os participantes da “Trip Subterrânea”. “Embaixo do Obelisco existe a cripta de todos os heróis da Revolução de 1932. Chama atenção das pessoas por contar toda a história da revolução de um ponto de vista que não conhecemos”, explica.

Passagem Literária da Consolação

O que antes era uma passagem escura na esquina da Avenida da Consolação com a Paulista hoje abriga um dos pontos mais curiosos do centro. Há sete anos, o tom soturno do lugar deu espaço à cultura, literatura e música. Um sebo permanente funciona na passagem e há também exposições e shows, além de vários grafites e colagens na parede.

Desinteresse político pelo subsolo

Mesmo assim, se há curiosidade da população em conhecer o subsolo da cidade, a classe política não compartilha desse interesse. “Hoje em dia pensar uma galeria subterrânea de uso público é algo praticamente impossível”, diz Vera Maria Pallamin, doutora em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo.

Ela cita o exemplo de cidades canadenses que, por conta do frio intenso, tem as vias subterrâneas como protagonistas da vida urbana – tuneis interligam metrôs e espaços de entretenimento para toda a população. “O abandono de muitas ligações subterrâneas nas grandes cidades brasileiras está diretamente ligado ao aumento de tensão, controle e vulnerabilidade nos espaços públicos, especialmente nas últimas três décadas”, avalia.

Mais sobre São Paulo

Compartilhar
RELACIONADO:são paulo-Mulhercpf-Mulher

Mais conteúdo de interesse