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"Tive bebê sem saber que estava grávida. Pensei ser apendicite, mas era trabalho de parto"

Publicado 30 Set 2020 – 10:56 AM EDT | Atualizado 30 Set 2020 – 01:57 PM EDT
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"Tive um bebê sem saber que estava grávida". É assim que Laura Campos resume o que viveu em dezembro de 2019.

Após sentir uma cólica muito forte e correr para o hospital acreditando estar com apendicite, a jovem descobriu que, na verdade, estava em trabalho de parto. E poucos minutos depois, lá estava a pequena Alice em seus braços.

"Pois é, gente. É uma das coisas que a gente vê na TV, na internet, e pensa: 'Impossível!'. Até acontecer com você".

Como descobri que estava grávida na hora do parto

Na foto acima, durante sua viagem de formatura, Laura estava com sete meses de gestação e não tinha a menor ideia disso.

Segundo contou ao VIX, a jovem, que é de Americana (SP), não desconfiou em nenhum momento que pudesse estar esperando um bebê. Tanto que viveu uma vida normal durante as semanas de gravidez, sem nenhum cuidado especial. Entrou, inclusive, em uma dieta e intensificou os treinos na academia porque estava querendo emagrecer para a viagem.

"Não percebi nenhuma mudança. Eu tinha minha viagem de formatura e queria perder peso, então peguei firme em academia e dieta e perdi quase 10 kg".

A foto no espelho, de blusa azul e shorts, também na foi feita na mesma viagem. Sem nenhuma barriga que pudesse indicar uma gravidez.

Durante todo o período, Laura continuou tendo sangramentos que acreditava ser menstruação. Hoje ela consegue identificar que eram menos intensos do que uma menstruação comum, mas a diferença era mínima e não despertou desconfiança na época.

Os outros sinais no corpo também não pareceram diferentes do que estava acostumada. "Meus seios inchavam perto da data de menstruar e depois voltavam ao normal. Foi igual sempre aconteceu comigo. Ficou tudo normal".

Na festa de formatura, na foto acima, Laura já estava na reta final da gestação.

A celebração do encerramento do Ensino Médio da jovem aconteceu apenas 13 dias antes de dar à luz sua filha.

Laura tinha acabado de completar 18 anos e estava se preparando para prestar vestibular, sem fazer ideia do que estava esperando por ela alguns dias depois.

Quando entrei em trabalho de parto sem saber

O dia era 11 de dezembro de 2019, uma quarta-feira comum para Laura. Após o almoço, a jovem começou a sentir uma leve cólica. Acreditando estar prestes a menstruar, colocou um absorvente em sua bolsa e seguiu a vida normalmente.

Na época, fazia seu treino e continuava o restante do dia na academia, onde trabalhava como recepcionista. Não deixou de malhar, mas, com a dor da cólica, acabou diminuindo a intensidade dos exercícios.

Após o serviço, aceitou o convite de sua melhor amiga, Ana, para ir até um barzinho. Lá, se divertiu, bebeu uma caipirinha e voltou para casa. Como a dor persistia, mesmo que leve, tomou um analgésico e deitou para dormir.

A dor passou, Laura conseguiu dormir e esperava que em poucas horas sua menstruação descesse.

Pela manhã, com toda a família fora de casa e a jovem sozinha, a dor voltou. "Só que voltou absurdamente mais forte. Uma dor que eu nunca senti na minha vida".

Como sempre teve cólicas muito fortes, ela decidiu usar a mesma técnica que sempre usou: entrar no banho, debaixo de água bem quente, até que a dor aliviasse e passasse. Depois que a dor diminuía, voltava para a cama para deitar.

"Eu fiquei nessa: a dor vinha, eu ia para o banho; a dor passava, eu ia para a cama. Só que chegou uma hora que a dor veio tão forte, mas tão forte, que eu não consegui levantar da cama", conta. Foi aí que começou a desconfiar que havia algo errado.

Chegada ao hospital

Sem ninguém em casa, a primeira pessoa a quem Laura pôde recorrer foi a melhor amiga. Ligou, pediu ajuda, e em alguns minutos Ana chegou para levá-la ao hospital. Encontrou Laura quase sem conseguir se mexer de tanta dor.

"A Ana praticamente me vestiu, praticamente me carregou até o carro dela. O trajeto que demoraria 15 minutos, ela fez em no máximo 7. Chegamos no hospital e já vieram dois enfermeiros me tirar do carro de cadeira de rodas para fazer a triagem".

O enfermeiro queria entender o que poderia estar acontecendo com a jovem. "Ele perguntava: 'O que você está sentindo?'. Eu dizia: 'Estou com dor, com muita dor na barriga e nas costas'. E ele: 'Dor de quê?'. Mas é exatamente o que eu queria saber: dor de quê?".

Naquele momento, Laura acreditava que podia estar com apendicite. Após alguns casos na família, ela sabia que o problema se manifestava por uma dor muito intensa e imaginava que poderia ser na mesma região do corpo.

"Até então, pra mim, eu estava com apendicite. Nem passava pela minha cabeça que eu estava em trabalho de parto"

Os profissionais do hospital levaram Laura para a sala de emergência. De tanta dor, ela não conseguia nem mesmo se deitar na maca para ser examinada e precisou da ajuda de enfermeiras. Enfim deitada, o médico chegou para atendê-la e fez um exame de toque. "Eu acredito que ele percebeu que era uma dor que tinha picos. Então ele deve ter associado com contração".

Foi quando ouviu o médico dizer: "Olha, está baixo já". "E eu na maca pensando: está baixo o que?"

Quando a enfermeira se aproximou com um aparelhinho para escutar o coração do bebê, Laura continuou sem entender. "Mas escutar coração de apendicite? Como vai escutar coração de apendicite?".

Foi quando a enfermeira se aproximou e explicou: "Você está em trabalho de parto. A gente vai subir você para a maternidade, para você passar com o obstetra, porque você vai ter um neném. E eu pensando: 'Neném de onde?'".

Quando uma segunda médica chegou para fazer o parto de Laura e perguntou se a jovem já tinha dilatação, a enfermeira respondeu: "Dilatação total, 10 centímetros. E eu ainda diria que tem mais dois". A informação assustou ainda mais a jovem, que vivia um misto de dor e medo.

A atenção da médica e das enfermeiras foi o que conseguiu acalmar Laura. Elas orientaram a jovem a fazer força sempre que a dor viesse. "A médica dizia assim para a Ana: 'Amiga, vem ver a cabecinha, é tão cabeluda'. E eu só conseguia gritar e pedir para fazerem uma cesárea, porque eu não aguentava mais de dor. E a médica: 'Não, não dá, o bebê está aí já'".

Depois de três ou quatro forças, a bebê chegou ao mundo. Laura, ainda assustada, sequer tinha um nome para dar à filha. Nem fralda ou roupinhas para vestí-la depois dos primeiros procedimentos pós-parto.

"As enfermeiras que arrumaram uma fraldinha, um macacão, uma meia, uma luva e uma toquinha, porque ela não tinha nada. Nem eu não tinha nada, nem mesmo uma calcinha para colocar".

Chegada da bebê e pós-parto

A pequenina, que posteriormente ganhou o nome de Alice, chegou ao mundo muito rápido.

Do momento em que Laura deu entrada no hospital até o nascimento, passaram-se apenas 30 minutos. "Demoraram mais para descobrir o que eu tinha do que o parto em si".

Como não imaginava que se tornaria mãe e não estava preparada para isso, Laura precisou passar por uma psicóloga e uma assistente social, ainda no hospital. "Foi muito tenso. Eu conto rindo porque hoje eu consigo falar disso rindo, mas os primeiros meses foram bem difíceis".

A jovem não esconde que viveu muitas dificuldades após se ver como mãe de uma forma tão inesperada. Pelo contrário, faz questão de falar sobre isso para ajudar outras mulheres que podem passar por um pós-parto difícil.

Para Laura, ainda tão nova e prestes a prestar vestibular, a maternidade interrompeu de forma brusca alguns sonhos. Além disso, mudou toda a vida que ela levava. E o pior, segundo ela mesma, foi a desconfiança de pessoas próximas, que não acreditavam que ela não sabia da gestação. "Escutar que eu escondi a gravidez, que eu seria irresponsável a esse ponto, com certeza foi o que mais doeu".

Depois de enfrentar momentos tão difíceis e sofrer com baby blues (nome que se dá à tristeza materna logo após o parto, que acontece devido às bruscas alterações hormonais pelas quais uma mulher passa após ter um filho), ela hoje consegue enxergar tudo de forma diferente. Por isso, ela dá um conselho a todas as pessoas que conheçam mulheres que estejam gestantes.

"Seja rede de apoio para ela. Pergunte o que ela precisa, se ela está bem, o que ela quer. Não vire as costas, não aponte o dedo e não tente interferir na criação, a mãe sempre sabe o que é melhor para o bebê".

Hoje, Laura diz perceber que Alice foi uma bênção em sua vida. "Apesar do susto, acho que era tudo o que eu precisava", reflete.

"Ter me tornado mãe me mudou completamente. Mudou meus planos, minha prioridades, minhas amizades, tudo! E acredito muito que tudo nessa vida acontece por uma razão. Hoje eu já consigo ver nitidamente o propósito dela na minha vida. Nunca me senti completa, parecia que sempre ia ter um vazio em mim. A Alice era o que faltava para me completar!".

"Eu não me imagino mais sem ela. Ela é a melhor coisa da minha vida", finaliza.

Mas, afinal, qual é a explicação?

Laura descobriu depois o que pode ter acontecido com ela. Segundo sua ginecologista pessoal, o feto pode ter se acomodado de forma que não teria sido possível notar nenhum crescimento de barriga, graças à estrutura física da jovem.

"O que acontece é que muitas mulheres têm uma musculatura abdominal mais firme, e conforme o bebê vai crescendo, a mãe acaba não percebendo tanto o aparecimento da barriga. Isso é até comum em mulheres que são atletas, que fazem uma atividade física muito intensa. Isso pode realmente acontecer", explicou ao VIX o ginecologista e obstetra Dr. Domingos Mantelli.

Sobre a menstruação, Laura explica: "Não é que eu menstruei, eu sangrei". Segundo o especialista, é exatamente isso.

"Existem vários motivos que podem levar a um sangramento vaginal mesmo durante a gestação. Algum machucado no colo do útero, alguma ameaça de perda gestacional, ameaça de aborto, ameaça de trabalho de parto prematuro, algum pólipo localizado no colo do útero, miomas. Então tem várias situações que podem fazer com que a mulher sangre mesmo durante toda a gestação, mas não é menstruação".

Quanto aos sintomas gestacionais, Dr. Mantelli conta que nem todas as mulheres têm aqueles clássicos sinais, como o enjoo, vômitos, dores de cabeça, cansaço ou falta de ar.

"Isso é uma particularidade de cada mulher. Tem mulheres que sentem sintomas mais intensos, outras nem tanto. Às vezes elas até confundem com sintomas pré-menstruais, TPM. Os sintomas são muito variados e vão ser diferentes de mulher para mulher. Algumas acabam tendo muitos sintomas ao longo da gestação, e tem mulheres que engravidam e passam por uma gestação inteira sem ter absolutamente nenhum sintoma, nenhum mal estar. Então é uma situação que realmente pode acontecer".

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