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Amamentar é igual a amar: era ali que eu aprendia a ser mãe, e ele, a ser meu bebê

Publicado 2 Ago 2017 – 04:45 PM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 03:08 PM EDT
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Após 14 meses e 11 dias, minha jornada de amamentação terminou com uma mistura de emoções. Para ele, tinha acabado, mas eu não estava pronta.

Para mim, dar de mamar foi a parte mais fácil da maternidade. Tomou conta da minha vida, mas eu era boa naquilo. 

Éramos nós, desvendando aquela coisa. Isso me deu um senso de camaradagem. Eu estava aprendendo como ser sua mãe, ele estava aprendendo a ser meu bebê, e amamentar era quando esses momentos se tornavam sólidos. Eu sonhava com isso desde antes de engravidar.

Havia ouvido as histórias de horror e triunfo das minhas amigas. Algumas tiveram dificuldade e descobriram que isso não era para elas. Outras tiveram dificuldade e conseguiram fazer dar certo. Eu não sabia quão realista era minha expectativa por esta conexão mágica.

Durante minha gestação, pesquisei sobre todas as coisas que poderiam ser um impedimento. Eu sabia tudo sobre encaixe dos lábios e posição da língua. Li sobre a produção de leite e como estimulá-la. Toda essa informação nadava em minha mente, me deixando nervosa. E se eu não conseguisse? Mas, em meio a tudo isso, eu tinha minha mãe me reafirmando. Ela sempre falava sobre o aleitamento de seus bebês como uns dos momentos mais mágicos de sua vida. Eu estava determinada a alimentá-lo 100% com leite materno. Queria evitar fórmula se pudesse.

Eu queria que funcionasse, conseguia visualizar.

Então, ele nasceu, e foi como nós fôssemos feitas para isso. Naquela primeira semana, tivemos alguns desafios. Problemas na pega, leite empedrado, rachadura no mamilo, dor – mas tive ajuda durante tudo isso. Não tenho como agradecer suficientemente minha enfermeira, que passou mais de uma hora assegurando que ele pegasse meu peito corretamente. Depois que pegamos o jeito, amamentar me deu uma confiança incrível. Se ele e eu conseguimos desvendar isso, nós poderíamos fazer tudo… juntos.

Era nosso momento especial. Ninguém mais poderia dar de mamar a ele. Ninguém mais poderia acalmá-lo como eu fazia. Ninguém mais tinha aquela ligação com ele. Ninguém mais poderia amá-lo como eu.

Consigo ouvir meu marido dizendo: “Han han… como é?” Sim, o papai o ama como ninguém no mundo também. Mas, apesar de ele fazer tudo o que eu fazia, ele não poderia amamentá-lo. Aleitamento materno, para mim, significava amor. Meu melhor tipo, meu melhor tudo para ele.

A hora de dormir era meu território. Enquanto o mundo girava e todos estavam ocupados, eu tinha 15 minutos de paz olhando para aquela carinha linda, tocando aquelas mãozinhas macias e delicadas, sentindo aquele cheirinho de bebê glorioso. Era obcecada por isso. Seu aroma era do meu leite. Ele era meu. Era puro instinto animal. Cada grama que ele ganhava naqueles primeiros 6 meses eram uma medalha de honra. Sentia-me como a Mulher Maravilha. Meu corpo havia feito ele, e meus seios o mantinham vivo, eles o nutriam. 

Como eu deveria simplesmente abrir mão daquilo? Como eu poderia abrir mão da confirmação de que eu estava acertando nessa coisa de ser mãe? Era gratificação instantânea na forma de um bebê. Quando estávamos chegando ao 1º ano, minhas amigas se diziam impressionadas por eu ainda conseguir amamentar, e tudo o que eu conseguia pensar era: “Bem, eu sou viciada. Isso torna minha vida mais fácil. Não posso abrir mão disso”. E eu não abri. Ele sim.

Aos 14 meses e 11 dias, o homenzinho decidiu que não queria mais seu mamá na hora de dormir.

O que? Espere… o que? Poxa, rapazinho. Você não quer o esquerdo, que tal o direito? Não?! Ele apenas olhava para mim e sorria e tinha aquele olhar como de quem diz: “Não, mamãe tolinha. Sou um menino grande, não vê?” O que havia mudado nas últimas 12 horas? Aquela manhã tinha sido exatamente igual aos últimos 435 dias! E assim, do nada, sem nenhum aviso, sem se despedir formalmente dos meus dias de amamentação, aquela jornada acabou.

Foi mais difícil para mim do que para ele. Eu chorei aquela noite no chuveiro enquanto drenava meus seios cheios de leite. Eu chorei algumas vezes depois disso também. Acho que sempre vou sentir falta. E, em meio a tudo isso, em meio a todo amor e amamentação, duas coisas se tornaram incrivelmente evidentes:

1. Eu sou privilegiada.

Eu tinha um emprego que me deu 10 semanas remuneradas de licença-maternidade. Não é suficiente, mas é mais do que a maioria das mulheres tem nos Estados Unidos. Eu tinha plano de saúde, que pagou pela bomba de tirar leite e possibilitou que eu continuasse amamentando meu filho mesmo voltando ao trabalho após 12 semanas. Eu tive um sistema de suporte que tornou tudo isso possível.

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças [agência de saúde norte-americana], em 2011, 79% dos recém-nascidos mamavam no peito, mas este número caía para 49% aos 6 meses e para 27% quando eles completavam 1 ano.

2. Nunca julgue outra mãe. Peito é o melhor, mas, na realidade, alimentar é o melhor.

Eu vi amigas e familiares darem tudo o que tinham para seus filhos. Eu vi minha prima dar leite exclusivamente ordenhado por mais de um ano porque seu filho não conseguia pegar o peito. Uma mulher que conheci fazia a ordenha 12 vezes por dia durante os primeiros meses… 12 vezes por dia. Isso equivale a uma vez a cada 2 horas, durante as 24. Ela era minha heroína.

Para algumas mulheres, amamentar não é a experiência mágica que foi para mim. Para elas, pode ser difícil ou doloroso, ou elas podem ter dificuldade de produção e recorrer à fórmula. Seus bebês crescerão e serão amados da mesma forma.

Desde o momento da concepção, cada bebê é único. Alguns são fáceis, outros são mais desafiadores. Algumas famílias têm um sistema de suporte, outras estão sozinhas. Cada pessoa que você vê na rua tem toda uma história sobre a qual não sabemos nada.

Nenhuma dessas mães ama seus filhos menos do que eu amo o meu.

Nossos bebês chegam, e o modo como encaramos a vida muda para sempre. A sensação é de que o tempo deveria parar por conta desta ocasião, mas, para o resto do mundo, é apenas mais um dia. Todas as coisas vivas neste planeta nasceram. Esquilos, formigas, plantas, peixes – todos nasceram de alguma forma. É o ato mais milagroso e, ao mesmo tempo, mais mundano. É a vida.

*Ikira Di Lorenzo é Diretora de Conteúdo do Vix nos Estados Unidos. Este artigo foi originalmente publicado em inglês.

Amamentação: realidade das mães

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