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Cena de parto em “Novo Mundo” foge do comum e traz mensagem MUITO importante

Publicado 17 Mai 2017 – 05:22 PM EDT | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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“Novo Mundo”, novela global das 18h, mostrou uma cena de parto pouco comum em telenovelas. Nela, Anna entrou em trabalho de parto e Joaquim foi quem conduziu o nascimento do bebê. O que chamou atenção foi a maneira como ele agiu.

Normalmente, cenas de parto na dramaturgia são sempre parecidas: a gestante fica deitada em uma cama ou maca sozinha em posição litotômica (com os joelhos dobrados e as pernas abertas), grita muito e faz feições de dor constantemente. Quem age são as parteiras, quando as novelas são de época, ou os médicos. A cena protagonizada pelos personagens vividos por Isabelle Drummond (Anna) e Chay Suede (Joaquim), no entanto, foi completamente diferente.

Como foi a cena?

Durante um conflito entre os defensores da Corte Portuguesa e Dom Pedro, Anna, grávida, foge para a casa de campo da princesa Leopoldina. Depois de viajar uma longa distância, a professora chega cansada e entra em trabalho de parto.

Joaquim, neste momento, chega para dar notícias do conflito e recebe o pedido desesperado da princesa para buscar ajuda de parteiras ou médicos. A busca, no entanto, não apresenta sucesso.

Leopoldina, então, tenta conduzir o parto. Ela pede para que Anna, que está deitada, faça força a cada contração. Mas, cansada, a professora perde todas as energias e teme morrer.

Joaquim, neste momento, oferece colocar em prática todos os ensinamentos que adquiriu enquanto viveu em uma aldeia indígena e presenciou índias parindo. “Você só está fraca, cansada. Eu vou te ajudar. Vou cuidar de você. Não precisa fazer força, não precisa fazer nada. Eu vou te ensinar como as índias fazem. É só confiar no seu corpo, ele sabe. Confia no bebê. Ele vai fazer tudo certinho”, diz à Anna.

Joaquim levanta a professora da cama e a coloca de cócoras (agachada com os joelhos dobrados com todo o peso do corpo apoiado nos pés). Em seguida, segue tranquilizando sua amada. “Respira! Não é dor, é seu corpo ajudando seu filho a nascer. Fica tranquila. Estou do seu lado. Nada de mal vai acontecer. Quando a dor vier, relaxa”, diz.

Assim que a professora se tranquiliza e relaxa, o bebê nasce. A menininha é recebida pelo pai e, logo em seguida, vai para o colo da mãe, que comemora aliviada.

Como tudo o que acontece em uma novela, a cena de parto mostrada é ficção. No mundo real, mesmo optando por um parto domiciliar, uma gestante deve ser acompanhada por profissionais capacitados para assistir ao nascimento e, caso seja necessário, intervir para evitar complicações.

No entanto, a cena traz elementos importantíssimos para entender o que muitos profissionais de saúde que lutam pela humanização do parto e pelo nascimento respeitoso defendem com base em estudos e evidências científicas.

“Não precisa fazer força”

Joaquim, assim que entra no quarto, diz que Anna não precisa fazer força. A recomendação do personagem vai de encontro às ideias de que "puxos dirigidos" não são benéficos à evolução do parto. Ou seja, ficar dizendo para uma parturiente fazer força a todo momento não faz com que o bebê nasça mais rápido.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a força deve ser feita apenas quando o corpo sentir necessidade – e essa vontade vem involuntariamente. “Empurrar o bebê” fora desses momentos, além de cansar desnecessariamente a mulher, ainda aumenta as chances de laceração perineal (ou seja, de rasgar a região entre o canal vaginal e o ânus).

As exceções ocorrem em partos com o uso de analgesia, por exemplo, quando a sensibilidade da mulher está alterada e o médico ou a obstetriz, treinados, orientam o momento exato e correto para fazer a força.

“Relaxa e respira”

O relaxamento e a respiração também são essenciais para a parto, que é um processo natural e muitas vezes demorado. Para um bebê nascer, o corpo inteiro se move: o útero contrai, o colo do útero dilata, o canal vaginal abre. Todos esses mecanismos são fisiológicos, mas podem levar tempo – e requerem paciência da equipe.

A respiração e o relaxamento melhoram as condições emocionais e psicológicas da mãe, que fica mais calma - além de melhorar o fluxo sanguíneo e deixá-la com mais energia e menos cansada para a continuidade do parto.

“Confia no seu corpo”

Talvez essa seja uma das frases mais importantes a dizer para uma mulher que está com uma gestação saudável e sendo monitorada por uma equipe capacitada. O corpo de uma mulher sabe parir. Esse processo, no entanto, pode levar tempo – um trabalho de parto pode durar mais de 24 horas – e é preciso esperar e confiar que o bebê vai nascer. Ele sabe nascer e “vai fazer tudo certinho”, como disse Joaquim.

Posição de cócoras

Embora a orientação principal seja de deixar a parturiente ficar na posição em que mais se sentir à vontade, a posição de cócoras, quando é confortável, é uma das mais indicadas. Isto porque, além de contar com a ajuda da gravidade, ela ainda amplia a saída e diminui o tamanho do canal vaginal, tornando o processo mais rápido e com resultados satisfatórios.

É cada vez mais comum ouvir relatos de mulheres que optaram por partos naturais e tiveram seus bebês agachadas ou sentadas em uma banqueta - que proporciona quase a mesma posição e, portanto, benefícios similares.

“Estou do seu lado, nada de mal vai acontecer”

Além de todas as orientações técnicas, que facilitaram o parto, Joaquim ainda tranquilizou emocionalmente Anna. Toda parturiente, durante o trabalho de parto, está vivendo um turbilhão de emoções e alterações físicas e precisa de apoio.

Ficar perto, dar carinho, transmitir tranquilidade e dar suporte emocional e psicológico são atitudes essenciais para o sucesso de um nascimento – esse apoio pode vir do pai do bebê, de um familiar próximo ou até de uma doula.

Contato pele a pele

Também recomendação da OMS, assim que um bebê nasce, ele deve ir direto para o colo de sua mãe e lá permanecer o máximo de tempo possível (no mínimo, duas horas). O contato pele a pele nos primeiros momentos de vida estimula a amamentação, contribui para o sistema imunológico do recém-nascido, tranquiliza mãe e bebê e reforça os vínculos maternos essenciais para os primeiros anos de vida da criança.

Parto na novela

Embora faça parte de uma obra de ficção, a cena, ao mostrar um parto diferente do habitual, cheio de referências positivas, em uma representação bonita, soma para a pertinente e essencial discussão sobre a assistência ao nascimento no Brasil.

Parto no Brasil

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