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Após 32 anos sem aceitar seu corpo, esse ensaio ajudou Aline a ver a própria beleza

Publicado 29 Jun 2018 – 10:59 AM EDT | Atualizado 29 Jun 2018 – 10:59 AM EDT
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Talvez hoje, ao acordar, você tenha se olhado no espelho e não tenha gostado da imagem que viu. Era exatamente assim que a Coaching, Aline Lima, se sentia. Ela passou 32 anos de sua vida odiando sua aparência, sua cor e culpando seu corpo por todas as coisas ruins que aconteciam. “Ele era um objeto defeituoso”.

Depois desse tempo todo, ela conseguiu mudar isso e hoje ajuda outras mulheres a fazerem o mesmo.

Rejeição ao próprio corpo

Aline negava sua aparência desde criança. Filha de pai e mãe negros, ela tinha muita dificuldade para aceitar a cor da própria pele.

“Na minha geração todas as bonecas eram brancas e loiras, nos filmes quando as princesas tinham cabelo preto, era liso, mas o meu não”, contou Aline.

O modelo europeu de beleza estabelecido na sociedade deixava a cabeça de Aline muito confusa e a chegada da irmã adotiva só piorou esse sentimento.

“Eu venerava a Liliane porque ela era tudo aquilo que eu queria ser (branca de cabelo liso). Mas ela tinha uma dificuldade de afeto comigo, então para mim foi frustrante pois aquilo que eu admirava, não me validava.”

Para piorar a situação, ela sofreu abuso sexual durante a infância, o que aumentou ainda mais o ódio e gerou um trauma em relação ao corpo.

Busca incessante pelo corpo ideal

O corpo de Aline se tornou uma vergonha para ela. “Eu via meu corpo como uma dor e culpava ele por tudo”. Na tentativa de se livrar dessa culpa, ela resolveu torná-lo um instrumento. “Ele era um objeto defeituoso”, enfatizou Aline, que na tentativa de consertá-lo, se perdeu mais ainda.

Ela se achava tão magra, que por muitas vezes, usava duas calças para enganar as aparências. “Eu me lembro que ajoelhava e pedia para Deus para eu ter um pouco de bunda”.

Aos 13 anos ela começou a praticar atletismo e seu corpo mudou totalmente e ficou do jeito que ela queria. Aos 17, quando ela parou, ele começou a mudar de novo.

A saga pela busca do corpo perfeito nunca parou. Quando achava que estava gorda, Aline fazia dieta, daí se via magra demais e ia para a academia para ganhar músculos, mas nunca estava satisfeita.

“Eu tornei meu corpo meu escravo, eu mudava a todo momento pintava o cabelo de loiro, depois de preto, aí alisava. O problema para mim estava na minha aparência”.

Aline achava que se conseguisse mudar seu corpo, todos os seus problemas se resolveriam.

Cirurgia plástica

Em 2012 ela cismou com os seios. Na cabeça dela eles eram pequenos demais e desproporcionais ao seu corpo. Foi então que ela decidiu fazer a cirurgia e implantar próteses de silicone.

“Eu realmente achei que o silicone seria minha salvação. Mas mesmo depois da recuperação da cirurgia, eu continuava a mesma, nada tinha mudado em mim, exceto que eu tinha duas cicatrizes horrorosas nos seios”, revelou Aline.

Quando Aline percebeu que nada do que ela mudava em seu corpo melhorava seus problemas, ela tentou tirar o foco do esforço e passou a trabalhar muito e beber todos os dias.

“Minha rotina era essa: 14 horas de trabalho e as restantes em um bar qualquer. Eu me embriagava para fugir de tudo o que atormentava a minha cabeça. Fazia isso para esquecer os meus problemas”.

Finalmente a autoaceitação

Em 2014, durante uma conversa com uma amiga depois do expediente, Aline foi convidada a fazer um curso de autoconhecimento.

“A gente fez várias atividades e durante uma técnica de respiração eu acessei algumas memórias antigas, como o ciúmes que eu sentia da minha irmã, o abuso que eu sofri”.

Foi a partir daí que Aline decidiu que iria parar de fugir desses problemas e aceitá-los. “Eu precisava lidar com tudo aquilo, afinal, era a minha vida, minha história”.

Ela passou a fazer outros cursos e sessões de terapia para melhorar o autoconhecimento e, consequentemente, buscar a autoaceitação, o que não aconteceu de um dia para o outro.

“Ninguém passa a se aceitar de um dia para o outro. É um trabalho diário e contínuo”.

Para Aline, não existe uma data exata em que ela passou a se aceitar, mas o dia 15 de fevereiro de 2018 é um dia muito marcante.

Ela foi chamada para fazer um ensaio fotográfico nu com uma amiga. Insegura, chegou a desmarcar uma vez, mas na segunda não teve escapatória e o resultado foi surpreendente.

“Quando eu vi as fotos pensei: ‘existe beleza aqui, uma beleza única e isso é bom’”, se empolgou Aline ao dizer que se sentia bonita nas fotos.

Hoje, Aline ajuda mulheres a se aceitarem

Aline é coach e cursa psicologia. Ela trabalha com autoaceitação voltada para mulheres e conta como faz para ajudá-las.

“Eu tento criar uma conexão com elas, mostrando que eu não sou perfeita. Eu também sou vulnerável, tenho recaídas, sinto inveja, raiva. Quando eu me permito ser quem eu sou, elas também conseguem ser quem são”.

Aline explica para suas clientes que é normal se olhar no espelho e não gostar de algo em seu corpo, mas o importante é aceitar aquilo e saber conviver sem ficar se martirizando e se machucando.

“Eu digo que elas não precisam se envergonhar de nenhum sentimento, basta saber aceitar e lidar com aquilo da maneira mais leve possível”, afirmou Aline.

“Por mais que seja óbvio, a gente só começa a se aceitar quando paramos de querer ser perfeitas e nos permitimos ser quem somos, sem culpa”, finalizou Aline.

Autoconhecimento é valioso e necessário

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