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Essa aula de pole dance ensina mulheres a amarem seus corpos e transforma vidas

Publicado 8 Mar 2018 – 05:00 AM EST | Atualizado 15 Mar 2018 – 10:53 AM EDT
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Seu peso, as medidas das suas roupas, o que você come. Às vezes parece que esses aspectos da vida são, na verdade, fatores muito, muito fundamentais que equilibram e desequilibram a "equação perfeita" que precisa ser o corpo. Mesmo tentando ir contra as imposições do que nos dizem que é corpo perfeito, sofremos bastante com a chamada pressão estética e, para quem é gordo, com a gordofobia. 

Mas existe um estúdio de pole dance em São Paulo (SP) que inverte e faz girar essa maluca relação que temos com nossos corpos. 

Elas, do Maravilhosas Corpo de Baile, esticam e cruzam na barra as pernas longas, curtas, finas, redondas e com celulites, e ensinam que se pendurar em um mastro é muito mais do que exercício físico: é aceitação, poder individual e muita, muita inspiração.

Reunimos depoimentos de mulheres que vivem essa transformação para propor a você também: ame seu corpo real.

Aula de pole dance ensina a se amar: depoimentos

Quando fui ao "Maravilhosas" para fazer esta reportagem, foi impossível não trazer à tona minha experiência de quase 20 anos praticando o balé clássico. Graças a ele, passei a ver meu corpo e o mundo de uma forma bem específica e disciplinada. O balé às vezes é um pouco duro: você precisa estar igual a todas, encaixar quadril, se equilibrar em movimentos tão lindos quanto difíceis de executar. 

Na dança clássica, o padrão de corpo torna a cobrança redobrada. "Se você emagrecesse..." era uma frase que eu ouvia com frequência, ainda muito pequena. 

Por outro lado, o balé também foi a melhor forma de descobrir uma coisa muito elementar e que, na tarde que passei com as Maravilhosas (vou chamá-las nesse texto assim), pude entrar em contato novamente: a consciência corporal. 

"Eu não via essa mulher em mim"

Essa consciência foi a mesma encontrada pela criadora do inicialmente coletivo Maravilhosas Corpo de Baile: a atriz, DJ, dançarina e instrutora de pole dance Graziela Meyer, 39 anos.

Seu relacionamento com o corpo teve várias fases: de uma infância sedentária, passou para aumento de peso acompanhado de sofrimento, dieta rigorosa e a procura por muita atividade física, até chegar em um estágio de overtraining, quadro em que o corpo e a mente se esgotam por excesso de exercícios.

Por conta de um problema no joelho, ela precisou parar de praticar corrida e foi em busca de outros esportes. O pole dance, que se tornou "apaixonante" entre tantas modalidades, também se tornou sua causa pessoal.

"O pole faz perceber que você consegue fazer coisas com o corpo que você nunca imaginou, desde a primeira aula", explica.

"Cada corpo produz uma imagem. No início, eu fiz aulas com meninas gordas, altas, baixas e eu era a fortona. Então, eu sempre zoava quando era para fazer algo sensual", relata. "Mas quando gravaram e eu assisti, pensei: eu não via essa mulher em mim".

Com a fundação do coletivo Maravihosas Corpo de Baile, Grazi passou a ajudar a transformar a vida de muitas mulheres em relação a aspectos como sensualidade, capacidade do corpo e tomada de consciência de que rebolar e ter o corpo livre é, neste contexto, um ato de resistência.

É ela que aparece, aliás, me ajudando a subir na barra:

Mesmo com a "mãozinha" dá instrutora, dá medo de se equilibrar, você acha que não vai conseguir, mas, consegue, sim. Nosso corpo tem uma capacidade incrível de responder ao que pedimos. 

Afinal, essa é uma atividade que aposta na força que temos dentro de nós. Fui uma "maravilhosa" por alguns minutos e o mais legal foi contar para as pessoas sobre esse pequeno teste. Entre o incentivo e o "Sério? Que diferente!", só recebi comentários animadores.

"Descobri que tenho força"

"Eu fazia treinamento funcional na academia [em que o Maravilhosas tinha sala, à epoca da entrevista] e vim experimentar. Eu descobri que tenho força e facilidade para os movimentos, mas nunca imaginei que eu poderia fazer isso", explicou a farmacêutica  Jackeline Cardoso dos Santos.

Ela conta que sempre se achou "muito magra" e, por isso, sempre quis que seu corpo fosse diferente. "Não era uma relação de amor, mas não posso dizer que eu odiava meu corpo. Depois, comecei a me aceitar, gostar do jeito que eu sou".

A confiança, para a farmacêutica, também ajuda a aflorar a sensualidade, mesmo não sendo a principal razão de mulheres fazerem pole dance. "Você conhecendo seu corpo, seus limites, e se olhando para o espelho acaba aflorando". E, para ela, sair de uma aula depois de ter conseguido fazer um movimento desafiador é sempre uma grande lição. 

"Eu achava que pole era coisa de gente magra"

"Eu achava que pole era coisa de gente magra, mesmo fazendo aulas de dança. Achava que não dava por causa do meu peso. Agora, sou viciada", conta a jornalista Fernanda Ferrão.

A experiência mais generosa com o próprio corpo também mudou posturas da jornalista "maravilhosa" além da sala de aula. Afinal, a consciência e a naturalização do corpo que se criam no pole são levadas para todos os lugares, seja na praia, com um biquíni, ou na balada, com roupas que expõem o corpo.

"A minha evolução depois do pole é absurda, de autoestima e de equilíbrio emocional. Por exemplo, meu peito sempre foi um problema para mim. E, em uma apresentação, eu já dancei com uma blusa transparente apenas com uma fita nos mamilos". 

Fernanda reforça que, contra a maré que diariamente tenta nos fazer acreditar que somos desjustados, o pole dance é plural e, por isso, muito inspirador. "Ele une força, sensualidade, concentração". 

"Se seu corpo consegue realizar tudo, então, você tem o 'corpo perfeito'"

Ser gorda é um impedimento para fazer pole dance? O exemplo e o discurso de Daylane Cerqueira, produtora de moda, mostram que não.

"Na verdade, nunca passou na minha cabeça que eu não ia conseguir, mas eu imaginava o que as pessoas iriam pensar: 'quem essa menina gorda está achando que é para fazer isso?'", explicou.

Para chegar na máxima "está tudo bem ser gorda", ela precisou conviver com outras mulheres gordas e, ao entrar no pole, alinhar sua nova percepção sobre suas mudanças físicas e emocionais.

"Antigamente, eu enxergava meu corpo de um jeito diferente. Eu odiava meu peito grande, a barriga grande. Agora, está tudo bem porque a gente consegue fazer as coisas. A Grazi sempre nos fala: 'o corpo não é forma, o corpo é função'". 

Se seu corpo consegue realizar tudo que você se propõe, então, você tem o "corpo perfeito".

"Minha motivação é superar desafios. Conseguir ficar em pé na barra, entender que mesmo com o braço curto e gordo eu consigo fazer coisas, mesmo com a coxa pesada, eu consigo fazer". 

"Na minha cabeça, ser magra ou ser gorda era ruim"

A aceitação do corpo para a produtora de eventos Marília Toledo veio de forma "muito natural" depois de ela ter encontrado a barra. "Estamos em um espaço que aprendemos a conviver com corpos diferentes e que está tudo certo", comenta a "maravilhosa".

Uma nova lógica que nos empodera e vai contra aquilo que nossa sociedade insiste em dizer que é certo, bonito ou aceitável. 

"Na adolescência, eu tive vários problemas com aceitação do corpo. Com 12 anos, eu só usava calças. Na minha cabeça, ser magra ou ser gorda era ruim. Ser gostosa é que era o 'perfeito'. Mas, eu sempre fui magra e não conseguia engordar". 

Entrar na aula, segundo a produtora de eventos, mudou completamente sua percepção sobre o tema.

"Não é só sensualidade. Mesmo porque talvez eu não seja essa mulher sensual que as pessoas esperam. E tudo bem. Aqui, eu venho para ficar de cabeça para baixo, dar risada. A minha confiança é que pode trazer esse sentido sensual".

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