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Em texto lindo sobre a filha, atriz prova que ser mãe é lutar as mesmas lutas

Publicado 21 Nov 2017 – 09:32 AM EST | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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A atriz Leandra Leal é mãe de uma menininha, Julia, de quem conseguiu a guarda em 2016 ao lado do marido Alê Youssef. 

Muito discreta para falar sobre a maternidade, Leandra abriu uma exceção em publicação recente no Instagram que trata sobre os desafios que Julia terá na vida pelo fato de ser uma menina negra. 

Em um texto lindo, Leandra comenta que ser mãe a transformou e a fez perceber que, a partir da chegada de Julia, ela precisará lutar as mesmas lutas que a criança enfrentará ao longo da vida; um sentimento que só quem cuida e ama um filho ou filha pode entender.

Leandra Leal e filha: texto sobre maternidade

Leandra publicou seu relato contando sobre como suas lutas por um mundo mais justo, igual e livre se tornaram ainda mais profundas depois da chegada de Julia. 

“Eu, que sempre lutei por liberdade e igualdade, que sempre me indignei contra a injustiça, intolerância, machismo e preconceito. Eu, que sempre me considerei politizada e consciente, cai na terra quando fui mãe. 

De alguma forma, a maternidade intensificou isso tudo. Acho que toda mãe passa por esse processo: tem medo desse mundo, tem dúvidas de como criar sua filha para ser forte e potente, capaz de autonomia e enfrentamento. Capaz de amar o outro como a si próprio".

De modo sensível, Leandra destacou o fato de Julia ser uma menina negra e sua preocupação com o racismo que ela poderá sofrer.

Este foi o mesmo assunto abordado pela atriz Taís Araújo, que tem dois filhos negros, durante palestra "Como criar crianças doces em um país ácido", que repercutiu nas redes sociais. 

Para Leandra, que publicou o texto no Dia da Consciência Negra (20 de novembro) em sua rede social, o enfrentamento desse tipo de preconceito só será vivido, de fato, por Julia; ela, sendo branca, estará ao lado para consolar, se indignar e lutar.

Seu papel, além disso, é garantir que a criança esteja sendo criada com “autoestima, consciência, liberdade e amor” para, juntas, irem contra o racismo, tão comum no Brasil. 

“(...) Eu nunca vou poder de fato compartilhar o sentimento da minha filha ao sofrer preconceito. Eu vou me indignar junto, vou consolar, vou lutar junto, vou fazer de tudo para que ela tenha autoestima forte, mas essa experiência vai ser só dela.

O que eu posso fazer é tornar essa luta minha também. É criá-la forte, como minha mãe me criou, é dar autoestima, consciência, liberdade e amor”.

Leia o relato completo:

“Eu, que sempre lutei por liberdade e igualdade, que sempre me indignei contra a injustiça, intolerância, machismo e preconceito. Eu, que sempre me considerei politizada e consciente, cai na terra quando fui mãe. 

De alguma forma, a maternidade intensificou isso tudo. Acho que toda mãe passa por esse processo: tem medo desse mundo, tem dúvidas de como criar sua filha para ser forte e potente, capaz de autonomia e enfrentamento. Capaz de amar o outro como a si próprio. 

Ser mãe me fez uma pessoa muito mais conectada ao outro. Agradeço tudo o que eu venho vivendo. A descoberta desse amor e dessa vida, dessa consciência nova, desse novo olhar para o mundo. Dessa vontade de construir um novo normal com a minha filha.

Mas eu, como branca, mãe de uma menina negra, abre-se um outro portal nesse Brasil de hoje. Eu me abri e me coloquei num lugar que, por mais que eu tivesse consciência da sua existência, eu não sentia. E pior, eu nunca vou sentir. 

Eu nunca vou poder de fato compartilhar o sentimento da minha filha ao sofrer preconceito. Eu vou me indignar junto, vou consolar, vou lutar junto, vou fazer de tudo para que ela tenha autoestima forte, mas essa experiência vai ser só dela. 

O que eu posso fazer é tornar essa luta minha também. É criá-la forte, como minha mãe me criou, é dar autoestima, consciência, liberdade e amor. É dentro do meu lugar de fala, contar para outros brancos como nós somos privilegiados e como precisamos abrir mão desses privilégios! 

Como não precisamos ficar provando com discursos que nós não somos racistas, quando na verdade precisamos ouvir quem passa por isso e reconhecer que o buraco é muito mais embaixo. Reconhecer que somos, sim, resultado de um processo histórico onde alguns foram privilegiados e muitos, excluídos. 

Hoje pode ser um dia para nós, como sociedade, buscarmos a compreensão da nossa realidade: uma sociedade que é diversa, plural, desigual e racista. 

Eu, como mãe da Julia, agradeço infinitamente a oportunidade de ser sua mãe e me comprometo a estar do seu lado nessa luta, minha filha. Para todo o sempre”.

Criar filhos negros

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