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Premiada por seu método, professora revolucionou ensino em aldeia indígena

Publicado 11 Dez 2017 – 12:37 PM EST | Atualizado 15 Mar 2018 – 01:10 PM EDT
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A língua indígena Paiter Suruí, da família linguística Tupi Mondé, já fazia parte da vida das crianças da aldeia Nabekod Abadakiba, na Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal, Rondônia.

Acontece que, por falta de material didático que mostrasse como se desenhava as letras, as crianças da escola da aldeia só eram alfabetizadas em português.

A professora Elisângela Dell-Armelina Surui, de 38 anos, então, decidiu fazer um projeto junto com seus alunos, contando histórias, para registrar um dos aspectos mais poderosos de um povo: a comunicação. 

Chamado de “MamugKoeIxoTig” (que significa A fala e a escrita da criança), o projeto de Elisângela, que sempre amou ensinar, se tornou um caso de sucesso. Tanto que ele rendeu à docente o prêmio de Educadora do Ano e Educador Nota 10. 

Elisângela transformou educação na aldeia

Elisângela Dell-Armelina Surui nasceu em Ji-Paraná, também em Rondônia, e passou boa parte da vida no Espírito Santo, onde estudou até o Ensino Médio.

Há 17 anos, quando se casou com um indígena, ela se mudou para a aldeia Nabekod Abadakiba. A aldeia fica entre as cidades de Cacoal e Aripuanã, no Mato Grosso.

Foi em Cacoal, uma cidade de 78 mil habitantes, segundo Censo 2010, que Elisângela, então com 20 anos, começou a dar aulas para as crianças, em um primeiro momento, de forma voluntária. 

“Eu era monitora na sala de aula da aldeia para crianças de 7 anos até aqueles que tinham parado os estudos e voltado mais velhos, com 15, 16 anos, e recebia um pagamento simbólico da Prefeitura de cem reais e pouquinho”, contou, em entrevista ao VIX.

Criação do projeto

O trabalho de Elisângela foi tão importante para a comunidade indígena que a aldeia pediu para que ela continuasse ensinando as crianças na escola. Mas, para isso, ela precisou fazer uma faculdade de Pedagogia à distância – ia uma vez por semana assistir às aulas e fazia as atividades em casa.

“Eu fiquei um tempo sem dar aula porque tive meus filhos [hoje com 15, 12 e 2 anos e meio], mas a comunidade pediu para que eu retornasse. Fiz um contrato emergencial e entrei”.

Elisângela também fez uma especialização em gestão escolar e voltou a lecionar na Escola Indígena Estadual de Ensino Fundamental e Médio Sertanista Francisco Meireles, que tem 33 alunos e onde desenvolveu o projeto de alfabetização.

Alfabetização na língua-mãe indígena

Apesar de o Paiter Suruí ser a língua falada por 1.800 indivíduos na Terra Indígena Sete de Setembro, as crianças não tinham material didático de alfabetização para aprender a escrever a língua.

Diante de uma classe multisseriada, de 1º a 5º ano, com alunos de 5 a 11 anos, a professora criou um caderno de atividades de escrita e leitura na língua materna. 

“Não foi um resgate, porque essa é a língua que nos comunicamos. Agora, estamos trabalhando a escrita”. O projeto ainda relaciona a língua indígena à língua portuguesa e à de sinais, pois existem muitos surdos entre os Paiter. 

“Só tínhamos cartilhas antigas, uma bíblia católica e alguns livros em Paiter. Por isso, eu fiz com meus 15 alunos um material com figuras e histórias simples, as quais eles mesmos criavam versões”.

Prêmio pelo trabalho

Depois de inscrever o projeto no Prêmio Educador Nota 10, ela ficou entre os 10 vencedores. E, no dia da premiação, foi escolhida como “Educadora do Ano”. “Foi a maior honra. Os outros projetos também eram excelentes”. 

Pelo Educador Nota 10, Elisângela receberá R$ 15 mil em prêmio e a escola também recebe um reconhecimento de R$ 1 mil. Já o prêmio Educador do Ano entregará outra premiação de R$ 15 mil à professora e R$ 5 mil à escola.

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