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Jovem cria corrente de esperança e mostra que há muita vida após o câncer de mama

Publicado 6 Out 2017 – 05:08 PM EDT | Atualizado 10 Out 2018 – 11:40 AM EDT
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Quando descobriu estar com câncer de mama, aos 23 anos, a então estudante Evelin Scarelli precisou encontrar um novo jeito de seguir a vida, sem as preocupações mais simples e triviais, que todos nós temos.

Após ouvir o diagnóstico, ela sentiu que não tinha como ser a mesma: era preciso se manter positiva, característica que preserva hoje, anos depois de descobrir o câncer de mama.

Desde então, ajudar outras pessoas que estão enfrentando a mesma doença trouxe novo sentido ao seu caminho. Ela criou uma linda corrente de esperança que a motivou a seguir em frente e ajudou muitas outras pessoas a entender que o câncer pode ter fim.

E, de fato, sua trajetória foi renovada após toda a transformação motivada pelo tratamento da doença. Cheia de realizações e planos, Evelin casou com o amor de sua vida, deixou de tomar os medicamentos e agora mostra que há muito o que viver após o câncer de mama.

Ter câncer de mama aos 23 anos: impactos reais

Evelin descobriu que tinha câncer de mama aos 23 anos, mas não de imediato. Depois de ter sentido uma bolinha na mama esquerda, a jovem foi a um médico que informou, após um ultrassom, que se tratava de um nódulo benigno.

Detectar uma doença tão grave em uma mulher tão jovem, e sem nenhum histórico de parentes com a doença, é raro e, por isso, os médicos imediatamente acreditaram não se tratar de nada sério.

Mesmo assim, ela fez uma cirurgia para retirar o nódulo e, depois de um mês, foi chamada novamente ao consultório. "Ele tinha feito a biópsia com três patologistas e eles reconheceram que eu tinha um tumor invasivo”.

A jovem, então, precisou fazer uma mastectomia com reconstrução total (ou seja, retirou toda a mama e colocou uma prótese) na virada do ano. Por essa razão, parou a faculdade de Fisioterapia por um tempo e iniciou o tratamento com quimioterapia.

“No quarto ciclo de quimio, recebi um laudo dizendo que eu tinha um tipo de tumor que não respondia a esse tratamento. Precisei fazer radioterapia, que durou 28 sessões. É bastante”.

Um novo sentido para a vida durante o câncer

Por conta da agressividade do tratamento, Evelin perdeu os cabelos, como acontece com muitos pacientes de câncer. A transformação, entretanto, foi mais sensível do que os fatores externos podiam demonstrar.

“O tratamento é um processo bonito, se focarmos no que ele pode te transformar. Eu tinha longas conversas comigo em frente ao espelho, sem cabelo, sem cílio, inchada por tomar corticoide. E sempre me dizia: eu não sou isso”.

A força emocional que Evelin descobriu em si mesma a fez questionar a doença apenas uma vez. “Eu perguntei ‘por que eu?’ uma vez e fiquei com vergonha. E questionei: ‘por que não eu? O que me faz ser mais especial do que as outras pessoas?’”.

“Por sermos jovens, nós achamos que somos imortais. O câncer me trouxe mais respeito pela vida que tenho hoje, mais gratidão, por acordar e não estar em um hospital, por exemplo”.

Corrente de esperança: “razão da minha vida”

Durante o tratamento, Evelin recebeu um lenço rosa para usar na cabeça. Ele ficou guardado com mais 16 modelos em uma mala.

“Eu tive um sonho em que entregava um deles para uma senhorinha careca. Então, resolvi colocar nas redes sociais que estava doando os lenços. Tive muita repercussão, porque na época ainda escrevia no meu blog, o Lenço cor de rosa”, relata.

“E passei a enviar para as pessoas em todo o país, embrulhado, com uma cartinha escrita à mão. Com o tempo, virou uma corrente: as pessoas que terminavam o tratamento enviavam para as outras que estavam iniciando com frases como ‘tenha fé’ e ‘vai dar tudo certo’”.

Com mais suporte, Evelin levou o projeto que já distribuiu mais de 7 mil lenços para o Instituto Oncoguia, onde hoje trabalha como analista de redes sociais. “O resultado foi que isso se tornou a razão da minha vida: ajudar outras pessoas”.

“É como uma história que se conta sobre os peregrinos do Caminho de Compostela [na Espanha]. Eles andam com uma concha do mar no cajado e, quando terminam o trajeto, que requer força e resiliência em um momento de solitude, devolvem a concha ao mar como sinal de gratidão”.

Após o câncer, a sutileza entre sobreviver e viver

Evelin levou a doença de maneira positiva, apesar da dura rotina compartilhada por pacientes com câncer. Acontece que a vida pós-câncer também requer rearranjos internos.

“É a parte mais intensa do câncer. Quando você passa por isso, há um script: são exames, médico, tratamento, remédio. Em paralelo, você precisa seguir com o trabalho, estudo e, no fim, acaba encontrando uma fórmula”.

“Quando isso acaba, é como se tivesse passado um furacão: é preciso olhar a bagunça e reorganizar a vida. Seguir em frente sabendo que é paciente, mas não ficando com a visão de paciente”.

“Meu oncologista me deu a lição mais linda do pós-câncer: a sobrevida já tinha sobrevivido; mas, eu precisava viver”.

Nova vida

Em 2017, Evelin recebeu a extraordinário notícia de que poderia parar de tomar a medicação para o câncer antes do que imaginava. "A previsão era de que eu tomasse os remédios até 2020, mas recebi alta. Tudo porque quero engravidar".

Para que o desejo aconteça, entretanto, Evelin segue com o acompanhamento médico de seis em seis meses. "Agora estou muito mais aberta, por isso, preciso continuar a fazer os exames".

A grande mudança aconteceu como “um presente de casamento” para a Evelin, que subiu ao altar na mesma época.

“Estamos na fila de adoção de uma criança, mas eu quero tentar engravidar também", pondera. "Quando eu fiz a radioterapia e a quimioterapia, me disseram que era impossível, mas meu oncologista me deu uma atenção especial e também consultei um especialista em fertilidade. Não vai ser fácil, mas não é impossível”.

Vencendo o câncer

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