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Pai descobre ter autismo por causa do filho e inspira ao contar como isso foi bom

Publicado 31 Ago 2017 – 10:34 AM EDT | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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Fulvio Pacheco é ilustrador talentoso, professor universitário e coordenador da Gibiteca de Curitiba. Já era bem sucedido profissionalmente e pai de uma família com duas crianças quando recebeu o diagnóstico de autismo, aos 36 anos - hoje, ele tem 40.

A descoberta do Transtorno do Espectro Autista (TEA) se deu aproximadamente um ano depois do diagnóstico final de Murilo, seu filho, hoje com 10 anos, em 2012. O quadro de Fulvio é dos mais leves, contemplado dentro do que se entende como Síndrome de Asperger .

“Eu já era adulto, tinha uma vida profissional e uma família. E mesmo assim receber o diagnóstico melhorou muitas coisas na minha vida”, disse Fulvio em entrevista ao VIX.

As revelações levaram o ilustrador a criar o livro e o blog Relatos Azuis, com informações e situações sobre o autismo. Ele também é um dos membros ativos do grupo Cuecas Azuis, que reúne pais de crianças com o diagnóstico com o objetivo de criar relações de ajuda mútua nos cuidados com os filhos e na aceitação de eventuais quadros de autismo dos próprios pais, o que não é tão incomum.

Descoberta do autismo de Murilo

Fulvio relata que ele e a esposa notaram atraso no desenvolvimento de Murilo no primeiro ano de vida da criança e o levaram para diversos médicos para entender seu quadro.

Aos dois anos, veio o primeiro diagnóstico. O problema é que estava errado: em um teste, a hipótese de autismo foi afastada e suspeitou-se que o motivo do atraso era uma possível surdez. “Foi um período muito confuso!”, recorda-se.

Quando tinha 3 anos, Murilo teve o diagnóstico preciso de autismo. “Ele tem o quadro clássico. Começou a andar mais tarde, começou a falar com 5 anos, às vezes tem dificuldade para comunicação e apresenta hiperfoco”, explica Fulvio.

Murilo é um entusiasta de tecnologia e hoje tem bom desenvolvimento na escola, boa relação com os colegas e também toca violão. Fulvio conta que ele fez, e faz, uma série de terapias: com neuropediatra, com psicopedagogos, com fonaudióloga, com musicoterapia e outros. “Cada terapia tem uma importância muito grande em cada fase [do desenvolvimento da criança]”, entende o pai.

Diagnóstico próprio

Conforme estudava e entendia mais o espectro autista, mais Fulvio notava que tinha características que compõem o quadro. Apoiado pela esposa e por profissionais especializados foi atrás de um diagnóstico e foi confirmado que ele tem Síndrome de Asperger, o mais leve grau da condição autista.

“No começo você fica relutante, existe preconceito e estigma”, lembra Fulvio. “Mas depois foi melhor para mim, passei a me entender melhor e fez minha qualidade de vida maior”.

Um dos exemplos do quão desafiador seu autismo pode ser, explica o ilustrador, foi a dificuldade em dar aulas para o Ensino Fundamental. Já acostumado a dar aulas em universidade, não conseguia lidar bem com a agitação das classes de adolescentes. “Essa dinâmica de muito agito não funciona bem para meu quadro”.

Autismo na família

Não há certeza sobre a origem do autismo. Os debates giram em torno de hereditariedade e de condições psicológicas - alguns acusam até o uso de vacinas como causa do autismo. O que se sabe é que há recorrência de casos de autismo nas mesmas famílias.

Ainda que falte evidências científicas concretas, Fulvio acredita que o fator genético é determinante. Isso porque além dele e de Murilo, segundo ele, outros membros de sua família têm traços típicos. “Eles não têm o diagnóstico e resistem em aceitar essa possibilidade. O espectro do autismo é amplos e em casos simples parece apenas uma característica peculiar”, diz.

Relatos Azuis

Fascinado por quadrinhos - “este é o meu hiperfoco”, afirma -, Fulvio virou ilustrador. E faz de seu trabalho também uma forma de espalhar informação sobre o autismo. Criou o livro e o blog Relatos Azuis, em formato de quadrinhos, com este objetivo: relatar situações comuns do quadro e levar informação de qualidade sobre a condição.

A ideia surgiu a partir das palestras que começou a fazer após seu diagnóstico. “Eu montava esquemas visuais e quadrinhos para as apresentações”, conta.

Como trabalhou também Secretaria de Educação de Curitiba, Fulvio ajudou a produzir peças para o combate do bullying contra crianças com necessidades específicas.

Ele juntou as duas ideias em um material impresso, específico sobre autismo, para ser distribuído na rede municipal de ensino da capital paranaense. Mil educadores receberam a Relatos Azuis em formato revista.

“Fiz para ajudar pais que passam ou passarão por isso”, explica. Fulvio também recomenda a pais com filhos diagnosticados com autismo participarem do grupo Cuecas Azuis, cujo objetivo é quebrar preconceitos sobre o quadro e ajudar nos cuidados com as crianças.

Autismo em crianças

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