null: nullpx
dia dos pais-Mulher

Missão de Marcos Piangers com as filhas era uma só: "Queria ser tudo aquilo que não tive"

Publicado 9 Ago 2017 – 04:34 PM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 03:02 PM EDT
Compartilhar

Marcos Piangers, 37 anos, se tornou um dos papais mais queridos do Brasil. Nascido em Florianópolis e formado em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, seus textos ganharam a internet após ele começar a escrever sobre suas experiências com as filhas, Anita e Aurora, de 12 e 5 anos, respectivamente, frutos do relacionamento com a também jornalista Ana Cardoso.

O digital influencer acumula, hoje, mais de 300 mil seguidores no Instagram e 1,5 milhão no Facebook. Além disso, publicou dois livros: “O Papai é Pop” e “O Papai é Pop 2”, que já venderam 150 mil cópias no Brasil, em Portugal, na Espanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos.

Entre o conteúdo que cria, Piangers também dá palestras, mas seu tempo é preferencialmente dedicado à educação e ao desenvolvimento das filhas. Para ele, trabalhar fora é estar de folga: trabalho de verdade é feito dentro de casa!

Vou ser pai, e agora?

Filho de mãe solo, Piangers sempre achou interessante a ideia de ser pai e sentia vontade de criar um lar diferente daquele onde cresceu. Seu objetivo já era construir uma família com participação: "Queria ser tudo aquilo que eu não tive”, contou.

Quando ele e a esposa descobriram que seriam pais, eles eram novos: Piangers tinha 23 anos, enquanto Ana, 24. “Ela se sentiu nervosa, mas eu fiquei feliz. Depois vim a entender: a pressão social, mudanças fisiológicas, profissionais, sociais e emocionais são muito impactantes na gravidez. É por isso que muitos homens dizem que querem ser pai mais vezes e as mulheres não”, explica o jornalista.

Depois dos nascimentos das filhas, ele conta que o maior aprendizado foi perceber a importância de estar junto, dar tempo exclusivo para as crianças, equilibrando a vida pessoal e profissional. Além de valorizar a vida em família, a escutar o que elas falam e se desconstruir como homem.

"Você descobre uma sensibilidade e uma emoção que imaginava não existir, porque sistematicamente você foi criado para não expor seus sentimentos, não chorar, não dizer 'eu te amo'... é importante desconstruir essa prisão para construir um homem mais realizado, mais sensível, mais encantado", desabafa Piangers. 

Ao lado de Ana, Piangers também passou a entender o que significa empoderamento. "A minha esposa fez aquilo que ela quis fazer e isso até me lembra a minha mãe, que foi uma mulher muito forte. Ela me ajudou a olhar a vida de uma forma diferente, valorizando as mulheres, enxergando o que é invisível para o homem e por isso sou muito agradecido", diz ele.

Papel de pai x papel de mãe

Para Piangers, as diferenças entre os papéis não existiriam se houvesse uma sociedade saudável. “As únicas coisas que os homens não conseguem fazer são amamentar e parir, de resto o homem pode virar noite, dar comida, trocar fralda, dar banho. Fazer tudo que a mulher faz, também com medo, também inseguro. Mas normalmente as mulheres não abandonam, não fogem disso, como muitos homens fazem”, lamenta ele.

Logo que foi pai, o jornalista deixava algumas tarefas para Ana, que ficava mais tempo em casa, mas com o tempo isso mudou. “A mudança é gradativa, é com muita conversa. Infelizmente os homens são criados para não enxergar essa diferença, para não enxergar o lugar de conforto que é pagar conta, pagar pensão, não enxergar as dificuldades que a mulher passa”, esclarece.

Para ele, um dos fatores que pode mudar o cenário é justamente falar sobre o assunto e cobrar mudanças empresariais e governamentais, para que exista, por exemplo, licença-paternidade semelhante à da mulher, fraldários nos banheiros masculinos e incentivo cultural.

“Não existe pressão social sobre o homem. Eles casam de novo e está tudo bem. Quem deveria sentir culpa é ele que abandona e não a mulher que cuida do filho. Mas o quadro só vai mudar conversando pacientemente para que o homem tenha a humildade de entender que tudo aquilo que foi o padrão, na verdade, está errado. Que pagar conta não é nada demais, que a mulher consegue fazer isso sozinha, que criar um filho e participar da criação de uma criança é que é desafiador e te tira da zona de conforto, além de te dar a possibilidade de ser melhor e mais sensível”, explica o influencer.

Papai moderno

Para o pai da atualidade ainda faltam disposição e tempo. E a tecnologia ainda agrava a situação, acredita Piangers. "Você está sempre no celular, você nunca está onde realmente está. Você só valoriza a vida do seu filho e os momentos bons, quando você também está ao lado dele nos momentos difíceis. Esses momentos fazem você se sentir realizando uma tarefa fantástica", relata.

Assumir as responsabilidades traz reflexos no ser humano e na sociedade, já que é possível preparar, de uma forma mais saudável, uma pessoa para a vida. "É preciso estar lá para a criança, ser mentor e guia. Você pode facilitar a vida dela, conduzindo-a para ser tanto um agente transformador quanto alguém que busca a própria realização e felicidade. Esse processo é de descoberta. É libertador o homem ser feliz sendo sensível. Muitos homens não sabem disso", explica o jornalista.

Abandono paterno no Brasil

A falta de um pai influencia qualquer pessoa e o abandono é comum no Brasil. "Essa situação tem um impacto na perpetuação de um ciclo de trauma, miséria, dificuldades na vida, pressão na mulher, então teve um impacto na minha vida. Eu gostaria que eu tivesse tido um pai participativo e presente, mas eu não tive. E a única forma de quebrar esse ciclo é ser aquilo que ele não foi para mim, dando para as minhas filhas a possibilidade de serem melhores do que eu e escolherem homens melhores ainda do que eu", desabafa Piangers, que sonha com o dia em as filhas comentem que ele foi um pai incrível. 

"Esse é meu objetivo. A coisa que eu mais busco. Meu maior projeto", finaliza. 

Relatos de pais

Compartilhar

Mais conteúdo de interesse