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Ela é deficiente e tem uma autoestima que você nunca viu na vida: “Jamais me limitei”

Publicado 19 Jun 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 05:14 PM EDT
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Lidar de forma saudável com a própria forma física é um desafio para todo mundo. E talvez seja esse o maior exemplo que Camille Rodrigues possa dar para todas as pessoas, homens e mulheres. Com apenas 25 anos, ela é um fenômeno nas redes sociais e motivo de orgulho por representar de forma tão linda os deficientes físicos e quebrar tabus com uma energia única.

Camille nasceu com uma má-formação congênita e passou por uma cirurgia para remoção do pé quando estava prestes a completar 3 anos para ter mais qualidade de vida. “A operação foi difícil para os meus pais, porém, a decisão foi a mais correta possível”, comenta a carioca, que não tem lembranças desse momento delicado da família.

Foi nessa época que a natação entrou em sua vida. Para diminuir os riscos de uma atrofia muscular, os especialistas recomendaram este esporte como terapia, pois movimenta todos os músculos do corpo. Anos depois, o que começou como tratamento virou paixão. E assim nasceu uma das maiores atletas paralímpicas do Brasil.

Conviver com deficiência não a limitou

“É difícil eu falar o que é a deficiência para mim. Ela faz parte de mim, eu nasci assim, eu não tenho outro modo de pensar. Ela representa o que eu sou. Tudo o que eu me tornei foi através dela”, fala Camille.

A falta de parte da perna nunca foi um obstáculo em sua vida, pelo contrário. “Tive uma infância extremamente divertida, eu nunca me limitei por nada. Sempre fui muito ativa, corria, dançava, nadava, fazia tudo o que eu queria”, diz.

A disposição, inclusive, foi incentivada pela família toda desde o início. “Todos os meus familiares sempre incentivaram minha liberdade. Meus pais nunca me vigiaram, pelo contrário, fui criada solta para brincar e decidir o que eu queria fazer”, fala Camille.

Camille acredita que o seu bom humor e postura para lidar com a vida foram e são determinantes para o modo como os outros a veem. “Por incrível que pareça, nunca sofri preconceito na escola. As crianças me adoravam e sempre me chamavam para brincar, eu sentia que elas lidavam comigo de uma maneira muito natural. Então nunca tive a experiência do bullying na minha vida. Acredito que pela minha postura mais séria e firme”, diz.

Exemplo de autoestima

Nas fotos em suas redes sociais, Camille transparece uma personalidade forte, uma mulher que se sente linda e que transpassa isso para sua rede de seguidores, que somam 146 mil no Facebook e 136 mil no Instagram.

Um dos hobbies que ela mais gosta de mostrar aos fãs é a dança. Seus vídeos reproduzindo coreografias são um incentivo não só a quem vive com alguma deficiência, mas a qualquer pessoa que quer encontrar o amor próprio independente do corpo que tem.

Essa é uma das maiores lições que Camille Rodrigues ensina. Talvez seja um dom, pois nem ela sabe quando e como começou a exercitar a autoestima.

“Não sei dizer como que surgiu, mas foi natural pra mim. A minha família tem gênio muito forte e me passou isso. Eu aprendi a me amar assim. A minha mãe sempre colocou na minha cabeça que eu era linda e que nada poderia acabar com isso. Nem quando, um dia, eu achava minhas amigas mais bonitas que eu, eu parei de me amar”, conta a nadadora.

Uma das táticas que ela adotou quando se mudou para Niterói para nadar profissionalmente foi elogiar a si mesma em um pôster que encomendou para a festa de aniversário dos 18 anos. E ela fazia isso todos os dias. “Minha tia ficava assustada com esse hábito. Uma vez ligou para minha mãe dizendo que devia ter algo estranho comigo”, conta Camilla que morou com a tia para começar a carreira profissional na natação.

“Quando fui perceber, eu já era uma mulher com opinião formada, segura e orgulhosa da minha trajetória”, diz.

Paixão pela dança

É exatamente nesse quesito que a dança é fundamental na vida de Camille. Seus vídeos impressionam pela leveza e habilidade na hora de seguir os passos.

“Desde pequena comecei a dançar com minhas primas os hits dos anos 90, como as músicas do grupo ‘É o tchan’. Também tive uma amiga que me apresentou uma companhia de dança da minha cidade. Meu professor na época me destacava e colocava na frente nas apresentações e eu achava que tinha valor. "

”Até hoje, se estou feliz ou triste eu começo a dançar como ferramenta tanto para relaxar quanto para comemorar”, comenta. "E eu me apaixonei, pois conseguia me expressar através da dança."

A dança também é um dos pilares que ajudam Camille a se sentir todos os dias bonita e desejada. "Eu sinto que sou um exemplo para as mulheres, claro, mas principalmente para as deficientes. Todos os dias recebo mensagens de deficientes que têm vergonha de usar short, vestido, saia, de mostrar a prótese, tudo isso porque nossas nossa sociedade recrimina muito. E eu me sinto muito feliz em poder ajudar através das minhas redes sociais", fala. 

Críticas e direitos dos deficientes

Apesar de ser muito apoiada, Camille não consegue escapar de um fenômeno infelizmente comum na internet: os haters. Ela conta que algumas pessoas chegam a criar perfis falsos para criticá-la.

“Dizem que eu danço muito no vídeo, mas faço questão de usar o banco preferencial do transporte público. Eu acho uma falta de respeito isso, pois é um direito que nós, deficientes físicos, conquistamos”, argumenta, sem dar muita bola para as ofensas.

Sucesso na carreira

Quando se mudou para Niterói, Camille deu início à trajetória de sucesso como atleta paraolímpica de alta performance. No currículo, dois pan-americanos, que a renderam 2 medalhas de bronze, 3 de prata e 3 de ouro. E o 10º lugar em sua categoria nas Paralimpíadas Rio 2016.

Hoje ela também faz faculdade de Nutrição, carreira que pretende seguir após se aposentar do esporte, o que deve acontecer em 2020, após as competições paralímpicas que vão acontecer em Tóquio, no Japão.

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