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Casal adota irmãos rejeitados e fora do padrão de adoção: ‘Não é caridade, é amor’

Publicado 12 Mai 2017 – 11:50 AM EDT | Atualizado 22 Mar 2019 – 03:09 PM EDT
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Um ato de amor mudou a vida desses dois irmãos. 😢❤

Posted by Vidas que Inspiram on Friday, March 8, 2019

A assistente administrativa Aline Munhol e o advogado Davi de Martini já faziam planos de se tornarem pais desde a época do namoro, quando sonhavam em ter dois filhos: um adotivo e um biológico.

Porém, uma cirurgia de retirada de trompas acabou impossibilitando que Aline engravidasse de maneira natural. Assim, o casal de São José do Rio Preto (interior de São Paulo) tomou a decisão de adotar duas crianças.

Mas essa não seria uma adoção como tantas outras: ela iria transformar a vida de dois irmãos que, rejeitados e maltratados pela família, estavam fora dos padrões de adoção e tinham pouquíssimas chances de encontrar um lar.

A adoção

“Brincar de Deus”

“Eu gostaria de ser mãe, não importava a forma”, diz Aline, apoiada pelo marido: “A carga genética não interessa, o que importa é o amor que você sente pelo filho. Não me importa que eles não sejam parecidos comigo. Ser pai é dar carinho, colo, ensinar, educar e rolar no chão.”

Preencher a ficha do pedido de adoção foi, curiosamente, uma das partes mais difíceis do processo para Aline e Davi. “Quando o filho é adotivo, temos que escolher o perfil dele e isto é muito complicado. Para nós, ser humano é ser humano independente da característica”, diz a mãe.

“É mais ou menos ‘brincar de Deus’. Tem gente que gosta de escolher um filho perfeito, não era o nosso caso”, comenta o pai.

Adoção às escuras

Porém, mesmo sem fazer restrição de idade, cor de olhos ou raça das crianças, um ano e meio depois os paulistas ainda não haviam sido contatados. Até que um dia um amigo do casal comentou que havia um abrigo com mais de 30 crianças disponíveis para adoção na cidade em que ele morava, no Mato Grosso do Sul.

A escolha pelos filhos Lucas (5 anos) e Luan (3 na época) foi feita completamente às escuras. Assim que souberam que havia no abrigo dois irmãos com características que batiam com a do cadastro, Aline e Davi deram entrada na documentação. Eles nem sequer tinham visto fotos das crianças.

“A grande maioria quer adotar bebês. Quando a Aline falou que podia ser até seis anos, a assistente social ficou até emocionada”, relembra Davi.

Luan e Lucas: histórico de abuso e abandono

Os meninos viviam no abrigo com outros dois irmãos: uma menina de 16, que tem uma filha de 2 anos, e um menino de 11. Porém, não mantinham vínculo familiar com eles, provavelmente por conta da diferença de idade.

Os mais velhos foram levados para o abrigo depois de um familiar tentar abusar deles. A Justiça decidiu devolvê-los para a família, mas os dois adolescentes pediram para voltar para o abrigo.

Com isso, a Justiça teve acesso à situação precária em que todas as crianças viviam e as encaminhou para o pai, que também não teve condição de cuidar deles. Por isso, todos precisaram ser encaminhados para o abrigo.

Durante o ano passado, a Justiça ainda tentou fazer com que Luan e Lucas fossem morar com a avó, mas ela devolveu os meninos. Depois, eles foram levados para a casa de uma tia, mas ela também se recusou a cuidar das crianças e elas tiveram que retornar ao abrigo.

Primeiro encontro com as crianças

Após iniciar o pedido de adoção, o casal viajou até o Mato Grosso do Sul para uma festa e aproveitou a ocasião para conhecer seus filhos. "Nosso primeiro encontro foi apaixonante”, relembra Aline.

Depois desta viagem, o casal teve que ir mais duas vezes à cidade para conversar com psicólogo, assistente social e juiz e, só na quarta viagem, conseguiu levar os meninos para casa, no interior de São Paulo.

Comportamento violento e dificuldades na criação

“A gente acha que sabe cuidar porque conhece outras crianças da mesma idade. Mas eles necessitam que a gente os ame e demonstre isso”, diz Aline.

O acolhimento e a criação de duas crianças já crescidinhas e com um histórico de violência foi – e ainda é – um processo duro. Após irem para casa, os meninos logo começaram a agir com agressividade, gritando e batendo portas. Lucas chegou a tentar enforcar a mãe uma vez.

A assistente administrativa acredita que a agressividade é resultado da rejeição e do passado violento que os filhos tiveram. Para ela, as crianças agem da mesma forma que agiam com eles: com violência.

“Demorou uns três meses para isso passar e nós ainda estamos tentando tirar esta agressividade deles. O Lucas ainda bate nas crianças na escola quase todos os dias”, afirma.

Para Davi, calma e paciência são as palavras de ordem na educação das crianças e é desta forma que eles criam os meninos.

“Eles não conseguiam pensar em uma brincadeira que não fosse bater nas coisas ou destruir carrinhos. Até nisso eles eram agressivos. Hoje, eles conseguem imaginar que o carrinho está andando pela cidade, que vai para a floresta, inventam histórias”, comemora o pai orgulho.

Para conseguir lidar com uma responsabilidade tão pesada, o casal contou com o acompanhamento de uma psicóloga e afirma que isto foi fundamental. “A psicóloga especialista em adoção e criança nos orientou sobre como seria o perfil das crianças. Nós não nos assustamos justamente porque estávamos bem assessorados”, diz Aline.

Davi ressalta que ele e a esposa são pais firmes e dão bronca quando necessário, mas sempre conversam com sinceridade com as crianças.

“Eles vão querer te testar. Outro dia, o Lucas não parava de aprontar até que ele perguntou: ‘Você não vai me bater?’ Respondi que não iria bater e conversei com ele. Eles estão começando a entender como as coisas funcionam”, relembra.

Por outro lado, a carência e a busca dos filhos por afeto e segurança são evidentes. “Até pouco tempo atrás, o Lucas me perguntava de 5 a 10 vezes por dia se eu o amava. Ele ainda faz isso de vez em quando. Às vezes, ele também pergunta: ‘Quem me ama?’”, conta o pai.

“Não é caridade: é amor”

As crianças, que chegaram à família infantilizadas, ainda chupando o dedo e sem saber falar direito, agora já se sentem em um ambiente seguro e estão se desenvolvendo.

“Não é fácil no começo, mas é maravilhoso. Toda criança precisa de um lar e este é gesto de amor, não de caridade como muitas pessoas pensam”, defende.

Apesar das dificuldades enfrentadas nos últimos meses, Aline e Davi não poderiam estar mais felizes com a decisão que tomaram. “Existem as dificuldades, mas são inúmeros os momentos de amor, risadas, carinho. Eu encorajo as pessoas a adotar. O amor supera tudo”, declara o advogado.

Histórias de adoção

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