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Sem trabalho, tripulante venceu vergonha e hostilidade para sustentar família vendendo queijo

Publicado 18 Nov 2020 – 10:52 AM EST | Atualizado 18 Nov 2020 – 11:43 AM EST
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Devido à pausa nas viagens durante a pandemia de COVID-19, Fernando Marques foi um dos muitos tripulantes de cruzeiros marítimos a ficar sem sustento nos meses de quarentena – mas, determinado a manter sua família, ele começou a vender queijos e doces a pessoas na rua e em estabelecimentos, e o que era algo voltado a necessidades imediatas, hoje é um empreendimento inspirador do qual ele se orgulha muito.

Tripulante se reinventa na pandemia e inspira

Desde 2018, Fernando trabalha em cruzeiros, atuando na área de vendas no shopping dos navios – e, apesar de a vida de tripulante não ser tão fácil como muita gente imagina, ele contou ao VIX que adora estar nesta função. “Tem muitas pessoas incríveis de diversos países e culturas, amo demais isso. Tem agregado muito para minha vida pessoal e profissional”, conta ele.

Durante a pandemia de COVID-19, porém, companhias aéreas, marítimas e outros serviços relacionados a viagens tiveram de parar completamente as operações, e Fernando foi um dos muitos funcionários que sofreram com isso. “Eu recebo por contrato, então não recebia em casa por estar parado”, conta o tripulante, que estava no Brasil, prestes a reembarcar, quando recebeu a notícia.

Sem o salário e em casa, ele decidiu então retomar um trabalho antigo da família para sustentá-la. De 2013 a 2015, a família de Fernando vendia queijos como forma de ter uma renda complementar, e a pandemia o fez investir os R$ 700 que tinha neste empreendimento. “Colocava em uma caixa térmica e saía oferecendo na rua, em clínicas, em lugares que já me conheciam”, conta ele, lembrando que não foi nada fácil.

“Quando comecei a vender os queijos, pensava muito na minha família, em querer deixar algo para eles quando fosse chamado de volta [para o navio]. Passei alguns perrengues chatos, de gente menosprezando, vergonha, às vezes, de algum parente ou amigo me ver, mas tinha minha família para me ajudar e meus sonhos. Isso tudo gritava mais algo dentro de mim”, afirma Fernando.

Logo, porém, o pequeno empreendimento que até então trabalhava com itens mais simples, como queijo minas e meia-cura, para garantir o sustento da família, passou a ser mais procurado. Entre abril e outubro de 2020, período durante o qual trabalhou fazendo as vendas – por vezes ao lado da mãe ou da irmã –, a família foi ganhando mais e mais clientes, e o negócio, batizado de Jeitinho Mineiro, decolou.

“Os clientes pediam produtos diferentes, e assim fui trazendo mais. Hoje, tenho mais de 39 variedades de queijo, doces artesanais e gourmet, e a cada dia nosso portfolio aumenta”, comemora o tripulante, que retornou ao navio em outubro, deixando para trás muito mais que apenas um sustento. Atualmente, a irmã e a mãe de Fernando estão à frente das vendas – e, hoje, são os clientes que as procuram.

“Com o aumento das vendas, comprei mais caixas térmicas, arrumei o freezer em casa, organizei um estoque maior e melhor para o armazenamento, comprei maquininha de cartão, fiz cartão fidelidade para manter os clientes, criei uma página no Instagram, comprei um celular só para a venda e, assim, fomos investindo”, explica ele, que inspirou muitos ao falar sobre o assunto na web antes de voltar ao navio.

“A sociedade costuma olhar com dó e tratar de maneira indiferente as pessoas que trabalham na rua vendendo produtos, como se fossem inferiores! Simplesmente por não andarem de terno e gravata, ou por não trabalharem em um escritório. Mal imaginam que essas pessoas possuem talentos extraordinários e uma força interior fora do comum”, escreveu Fernando que, hoje embarcado, tem ainda mais sonhos.

“Com o dinheiro da venda dos queijos e o que viemos poupando até então, queremos reformar a casa da minha mãe e morar lá. Acredito que todos nós podemos nos superar e nos reinventar, independente das nossas limitações financeiras, idade... Quando temos um propósito maior que pulsa no nosso coração, todo esforço vale a pena. É sempre necessário uma dose de fé, esforço e humildade”, conclui.

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