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Eles tiveram câncer juntos e se apoiaram no amor: “Buscava forças em mim para dar a ela”

Publicado 6 Nov 2020 – 02:04 PM EST | Atualizado 6 Nov 2020 – 02:04 PM EST
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Quando Claudia viu o marido, Emerson, de 49 anos, ser diagnosticado com câncer, ela se preparou para acompanhá-lo neste desafio, mas, no dia do primeiro exame pré-quimioterápico dele, ela recebeu um diagnóstico inesperado. Conforme apontou uma biópsia feita por ela dias antes, Claudia, de 47, também tinha um câncer – e, apesar do susto e das dificuldades, eles afirmam que não havia forma melhor de encarar esta jornada.

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Juntos há 29 anos, Claudia e Emerson Melo se conheceram após a irmã dele, que era amiga dela, apresentá-los na igreja que as duas frequentavam e, desde então, eles não se desgrudaram mais. “Lembro que, nesse dia, ele cantou para mim a música de ‘Ghost’, que era o filme do momento. A gente acabou marcando – com a irmã dele fazendo o cupido – de sair, e aí nos conhecemos melhor”, conta ela ao VIX.

Em 2019, porém, os dois se depararam com um dos maiores obstáculos de suas vidas quando, com poucos dias de diferença, ambos foram diagnosticados com câncer. Segundo Claudia, tudo começou em meados de abril, quando Emerson notou um inchaço em um dos testículos e, após alguns médicos afirmarem que não era nada de mais, um especialista decidiu interná-lo para operar o que descobriram ser um tumor.

“Ele fez a cirurgia, foi um sucesso, e nós recebemos a notícia de que ele faria a quimioterapia em junho”, diz Claudia, lembrando que, antes de começar o tratamento, o marido precisava fazer alguns exames aos quais ela o acompanharia. Na época, ela estava investigando um caroço no seio – e, no mesmo dia em que foi com Emerson ao laboratório para que ele realizasse o exame, soube que também estava com câncer.

“Eu tinha feito uma biópsia no mesmo local, só que por entradas diferentes. Dei a volta, fui pegar o resultado e nós abrimos juntos no laboratório. Para a minha surpresa, eu estava com câncer também, já em estágio avançado e em processo metastático”, conta ela, lembrando que ambos ficaram bastante abalados com a situação, já que o medo do câncer automaticamente tende a gerar pensamentos negativos.

“Foi como se o chão tivesse aberto aos meus pés. Eu estava me preparando para dar forças a ele, acompanhá-lo na quimioterapia. Estava processando aquela informação de que ele tinha um câncer e, de repente, me ver na mesma situação... Não tenho palavras para explicar meu sentimento de aflição, de medo. Demorou para a ficha cair”, diz ela, e Emerson compartilha da sensação aterradora.

“Quando a gente recebe uma notícia dessas, não vem outra coisa na cabeça a não ser que, brevemente, você vai morrer. A princípio, nos causa medo, pânico. Pelo fato de nós sermos novos, de não termos conseguido realizar tudo aquilo que a gente queria, passa um filme na nossa cabeça, das coisas positivas que eu poderia ter feito ainda melhor e das coisas que eu não deveria ter feito”, afirma ele.

Apesar de abatidos, porém, os dois decidiram encarar a situação de cabeça erguida – e assim o fizeram. “Eu tinha muito medo dos sintomas, do que era passar por uma quimioterapia, do que era viver aquela doença, mas eu entendi que poderia passar por tudo aquilo. Se eu mantivesse minha calma, minha confiança, minha coragem, ia conseguir passar por aquilo – e isso fez toda a diferença”, afirma ela.

Enquanto Emerson operou o tumor antes e começou as sessões de quimioterapia depois, o tratamento de Claudia foi invertido e, por isso, ambos passaram pela experiência da quimioterapia juntos – algo que, para ambos, foi uma espécie de conforto. “Eu podia entender a Claudia, o que ela estava sentindo, e ela podia também compreender o que eu sentia”, afirma Emerson, ressaltando que o amor dos dois os fortaleceu.

“Eu buscava forças em mim para dar forças a ela, acho que nosso amor foi um ponto muito importante para vencermos essa batalha juntos”, afirma, e Claudia concorda. “Passar por algo de que você tem muito medo, que não conhece, sozinho, é diferente de quando você passa com alguém de mãos dadas com você – e foi exatamente isso que eu senti, que ele estava de mãos dadas comigo passando por aquele vale”, diz.

Segundo eles, ao focar em Claudia, Emerson conseguia “se distrair” da própria doença, deixando de pensar tanto nas próprias dificuldades apesar de ter sido internado duas vezes por quedas bruscas na imunidade. Mesmo que enfraquecidos pelo tratamento e morando apenas com um dos três filhos, porém, eles conseguiram, pouco a pouco, trilhar esta jornada cheia de obstáculos com sucesso.

Após inúmeras sessões de quimioterapia e radioterapia, Claudia fez, no início de 2020, a cirurgia para remover o tumor – que, antes do tratamento, já havia alcançado o tamanho de uma laranja. Atualmente, Emerson está em remissão e faz acompanhamento semestral para manter a saúde em ordem, enquanto Claudia deve continuar com um tratamento preventivo até o início de 2021.

“Hoje, eu faço um tratamento quimioterápico que funciona como um ‘bloqueio’ da doença, como se fosse uma vacina, a cada vinte e um dias até fevereiro. Nós estamos bem! Eu me sinto curada – e ele eu sei que já está curado”, diz Claudia, e os dois afirmam ter aprendido uma série de lições importantes durante esta jornada, sendo a primeira delas a necessidade de valorizar momentos simples da vida.

“Eu aprendi a ser mais grata. Eu já era grata, mas, hoje, tenho gratidão por pequenos gestos. Tipo um pôr-do-sol, acordar e respirar, a presença de alguém, uma visita, um presente, uma palavra de carinho... Por menor que seja, tenho gratidão porque penso que posso viver isso – e, quando entramos no tratamento, não sabíamos o que aconteceria conosco, se era vida, se era morte, se era cura”, diz ela, e Emerson confirma.

“É dar valor às coisas simples da vida. A companhia da esposa, dos filhos, tomar um sorvete na esquina, passear de carro, a pé, fazer uma caminhada... Acho que, hoje, valorizo cada detalhe do meu dia a dia”, comenta Emerson, afirmando ter aprendido também que “pessoas valem mais que coisas”. “Precisamos dar mais ouvido às pessoas, doar mais nosso tempo, ser mais companheiros, mais amigos, mais presentes”, reflete.

Hoje, considerando-se mais sensível à dor alheia e mais disposta a ajudar os outros, Claudia diz enxergar o câncer como um “professor”, e agradece não apenas a todos os amigos que cuidaram dos dois durante o período difícil como também ao fato de que teve uma companhia tão próxima e importante na hora de enfrentar alguns de seus maiores desafios.

“Passar juntos por isso foi algo que eu nunca imaginei, nunca sonhei e não desejo para ninguém, mas foi bom passar com ele. Foi bom ter esse apoio, esse colo”, avalia.

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