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Atleta paralímpica relata absurdos que ouviu na gravidez e prova: preconceito ainda existe

Publicado 11 Dez 2019 – 11:19 AM EST | Atualizado 11 Dez 2019 – 11:19 AM EST
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Uma das maiores atletas paralímpicas do Reino Unido, a ex-corredora Tanni Grey-Thompson já mostrou com suas inúmeras medalhas e recordes quebrados que o fato de ser portadora de uma deficiência não a torna incapaz de nada - mas, recentemente, contou que até os mais básicos aspectos de sua vida já foram questionados de maneira bem indelicada.

Ex-atleta paralímpica sofreu preconceito na gravidez

Convidada para o fechamento do “Stumps, Wheels and Wobblies”, podcast da rede BBC sobre o esporte paralímpico e tudo que o cerca, Tanni falou sobre sua condição, chamada mielomeningocele (ou espinha bífida), explicando que esta malformação congênita da coluna vertebral fez com que, aos seis anos, ela ficasse com os membros inferiores paralisados.

Durante sua criação, no entanto, ela aprendeu que não precisava ser tratada de forma diferente devido à deficiência, e foi longe ao engatar sua trajetória como atleta: ao longo da carreira de corredora, ela ganhou 16 medalhas (sendo 11 delas de ouro, quatro de prata e uma de bronze), fez seu nome e, após a aposentadoria, passou a conduzir inúmeros projetos solidários relacionados ao esporte paralímpico.

Ao longo dessa trajetória, no entanto, ela teve de ouvir uma série de comentários indelicados por parte de pessoas que ou não têm um entendimento grande sobre o assunto, ou o fazem por puro preconceito. Algumas dessas falas, inclusive, ocorreram enquanto ela estava grávida de sua única filha, e vieram tanto de pessoas desconhecidas quanto de médicos.

“A primeira coisa que me ofereceram durante meu primeiro ultrassom foi a interrupção [da gravidez], porque diziam, tipo: 'Pessoas como você não deveriam ter filhos'”, comentou Tanni, ressaltando que foi questionada até sobre o que faria caso sua filha também tivesse mielomeningocele. “Bom, eu daria uma cadeira bem legal, não a cadeira horrorosa que tive [na infância]”, brincou a ex-atleta.

Além das falas dos médicos, o preconceito quanto a ela estar grávida a perseguia até na rua, de pessoas que não têm noção de que pessoas com deficiência têm, sim, uma vida sexual como outra qualquer. “Perdi a conta do número de pessoas que me perguntaram como eu engravidei”, disse Tanni, e, como esta não é uma pergunta feita normalmente a mulheres grávidas, a atitude obviamente a irritava.

“Acho que eu estava com 37 semanas quando cheguei ao limite. Estava em Cardiff [cidade do País de Gales], uma mulher me cutucou e perguntou como eu tinha ficado grávida. Lembro de gritar na rua: ‘Eu fiz sexo com meu marido, como você acha que eu engravidei?’”, relatou ela, lembrando que, mesmo com uma crescente conscientização das pessoas sobre portadores de deficiência, até atitudes com motivação positiva podem ser negativas.

“É esperado de muitos atletas com deficiência que eles tenham ‘algo a mais’ para oferecer, uma história inspiracional”, afirmou ela, dizendo se incomodar com isso. “É complicado para mim quando essa história é parte da cobertura esportiva porque isso dá a ideia de que você precisa ser inspirador, e nem toda pessoa com deficiência é inspiradora. Eu não acordo todos os dias e digo: ‘Hoje eu vou ser inspiradora’”, concluiu.

Preconceito e autoaceitação

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