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Glamour Garcia fala da infância e revela que reação dos pais foi decisiva para aceitação

Publicado 14 Ago 2019 – 11:02 AM EDT | Atualizado 16 Dez 2019 – 11:19 AM EST
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Atriz revelação 2019 e primeira mulher trans a vencer Troféu Domingão, Glamour Garcia começou a demonstrar interesse pela atuação aos 12 anos de idade, quando organizou um grupo de teatro na escola em que estudava. Além de ser decidida quanto à carreira desde cedo, ela também sempre teve a noção de que era trans - mesmo antes de ter qualquer referência sobre isso.

Nascida em Marília, no interior de São Paulo, a atriz de 31 anos contou ao VIX que realizou um verdadeiro sonho ao viver a divertida Britney em “ A Dona do Pedaço” (Rede Globo), que, por também ser trans, mostrou ao público dilemas com os quais Glamour se identifica. Na contramão do que acontece com boa parte das famílias que têm integrantes LGBT, porém, o apoio de seus pais para tudo sempre foi constante.

Infância de Glamour Garcia e apoio dos pais

Quando sonham em atuar, muitos encontram resistência da família - mas este não foi o caso de Glamour. Como conta, este desejo, que tem desde a infância, sempre foi algo que sua família respeitou.

“Sempre foi uma coisa que vivi com a minha família desde o começo, tive sempre o apoio dos meus pais, eles foram bem presentes nesse aspecto”, afirma.

Outra coisa de que a atriz sempre teve foi a noção de que não se identificava com o gênero masculino que lhe era designado na infância.

“Não foi uma coisa que eu descobri, foi uma coisa que eu fui vivenciando com o tempo. A percepção de ser trans eu tenho desde a infância”, explica, ressaltando que, apesar do choque inicial, seus pais lidaram bem com isso.

Como durante sua infância não havia muitos exemplos que pudessem esclarecer a questão da transexualidade, o entendimento da questão foi algo que Glamour descobriu com o tempo. O mesmo aconteceu com seus pais, que, apesar das preocupações e da falta de familiaridade com o tema, se mostraram bem abertos.

Ela conta que não foi necessário fazer uma “revelação” sobre isso. “Foi um processo de vivência que eles tiveram comigo, a gente foi experienciando tudo isso juntos”, afirma a atriz, lembrando que, como sua família entendeu a questão pouco a pouco, foram tranquilos no momento em que sua transição começou a ficar mais aparente.

“Eles acabaram recebendo esse fato da minha vida com tranquilidade conforme eu fui envelhecendo. Quando eu era mais jovem, as coisas eram diferentes, então eu sinto que também foi um processo deles de preservação, de se sentirem seguros. Ainda é polêmico ter filhos trans. Você, querendo ou não, se preocupa com o bem-estar deles”, explica a atriz.

Carreira de atriz: como começou

Decidida a trabalhar com atuação, ela fundou um grupo de teatro na escola se dedicou a isso antes mesmo de se formar em artes cênicas na Universidade Estadual de Londrina.

Nos últimos anos, ela chegou a atuar em alguns filmes (como “Nome Provisório” e “Horácio”) e séries (como “Rua Augusta”, exibida pela TNT), mas seu papel de maior destaque certamente foi o de Britney.

Isso, inclusive, é algo que ela considera uma enorme realização. “Como atriz, meu maior sonho é poder contracenar com grandes artistas e crescer no momento onde a atuação se dá de verdade, que é na criação dos personagens, e eu pude realizar esse sonho com um elenco incrível, pessoas as quais sempre admirei e agora estão no meu dia a dia”, vibra ela.

Apesar da experiência de poder contracenar com grandes nomes e observar de perto o trabalho de quem tanto admira, ela conta que a novela trouxe consigo certas dificuldades:

“Eu nunca tinha estado em uma novela, é uma experiência de muita visibilidade. Quando eu percebi que tudo era muito amplo, fiquei um pouco assustada”, conta.

Por isso, ela sentiu necessidade de reavaliar sua privacidade. “Eu me retraí um pouco, ainda acho importante preservar minha saúde mental, minha saúde física, para ter foco na personagem”, avalia, deixando claro que, mesmo assim, aprecia muito a enxurrada de carinho que recebe do público.

“Fico muito feliz de ter cativado o público dessa forma - afinal de contas, a obra é para a população”, declara Glamour.

Arte como forma de conscientizar

Algo que rende debates é o fato de que, muitas vezes, artistas cis (ou seja, pessoas que se identificam com o gênero que lhes é designado ao nascer) são chamados para interpretar personagens trans. Além do questionamento sobre não haver pessoas trans interpretando personagens cis.

Sobre isso, Glamour acredita que, neste momento, é essencial ver atores trans vivendo personagens como Britney. “A arte é um instrumento da sociedade, então acho que nesse momento é mais interessante que artistas trans possam viver papéis trans pela representatividade, pela visibilidade e conhecimento da sociedade”, explica.

“A Britney era uma personagem bem didática, porque ela trazia experiências do cotidiano das pessoas trans para a realidade da população. Acho isso muito importante, porque esclarece muitas dúvidas - dúvidas que, às vezes, infelizmente, geram violência. E não é só o lado de esclarecer, mas o de entender que as pessoas trans têm cidadania, têm direitos”, afirma.

Apesar das histórias de Glamour e Britney serem diferentes, elas se influenciam. “Através da história da Britney a gente pode repensar nossa própria história, mesmo que com experiências diferentes. Essa experiência vai realmente transformar a mim como atriz e como pessoa”, conclui.

Fotos de Glamour Garcia: abrindo o arquivo pessoal

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