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LGBT-Mulher

Após 1 ano sem postar, youtuber com milhões de fãs se assume gay e vídeo bomba

Publicado 14 Jun 2019 – 11:49 AM EDT | Atualizado 14 Jun 2019 – 11:49 AM EDT
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Após cerca de um ano sem publicar nada novo em seu canal com milhões de inscritos, o youtuber britânico Daniel Howell surpreendeu a todos com um longo vídeo assumindo sua sexualidade e gerou reboliço na internet. Como sempre fez no canal, porém, Daniel não se contentou em apenas contar a todos que é gay, revelando também sua trajetória com a sexualidade, mostrando que o caminho até o ponto onde está agora não foi fácil – assim como não é para outros LGBTs.

Bullying, descobertas e homofobia internalizada

Conforme contou no vídeo, Daniel foi discriminado mesmo antes de sequer saber o que significava “ser gay”. Por se apresentar como uma criança muito educada, feliz e criativa, o youtuber não era visto como “homem o suficiente” por outras crianças e, aos seis anos, viveu a primeira situação traumática relacionada à sexualidade, apanhando de dois garotos que o abordaram na escola e chamaram-no de “gay” em tom de ofensa.

A partir desta época, o youtuber começou a absorver a ideia que era colocada para ele pela sociedade de que não ser heterossexual era ruim – algo que só se intensificou durante sua adolescência. Como o jeito dele era “inaceitável” para muita gente, ele passou a ser excluído na escola, sofrendo bullying dos colegas, entrando e saindo de grupos de amigos que apenas pareciam aceitá-lo e ficando cada vez mais desapontado consigo mesmo.

Com o passar do tempo, Daniel conta que realmente descobriu sentir atração por homens, mas isso não foi nada libertador. “O mundo estava claramente me dizendo que, se eu quisesse ser aceito por qualquer pessoa – ou, no meu ambiente em particular, sobreviver –, eu não podia ser gay. Eu estava com medo, sendo literalmente homofóbico comigo mesmo. Isso se chama opressão internalizada”, explicou o youtuber, afirmando que tentou, nesta época, “se tornar” heterossexual.

Após um período de férias, ele voltou à escola tentando passar uma imagem diferente, buscando a companhia de pessoas que não eram nem tão populares, nem tão excluídas. Nesse meio tempo, ele chegou a arrumar uma namorada, e realmente se sentia atraído por ela, mas a relação não foi adiante pela forma como ele lidava com a própria sexualidade. “Tinha tanto medo que não queria fazer nada ‘hétero’ por medo de ter algum tipo de ‘pânico gay’ esquisito. Fiquei frígido”, disse.

Apesar da tentativa dele de “ser heterossexual”, as pessoas não esqueceram os rumores e o bullying continuou, se intensificando cada vez mais e chegando ao ponto de deixar Daniel cada vez mais instável psicologicamente. “As pessoas faziam piadas sobre colocar fogo em uma barraca enquanto eu dormia nela em um festival. Diziam: ‘Sabe aquele cara notoriamente instável? É, ele disse que vai te matar’”, contou, declarando esta como a pior fase de sua vida.

Deprimido, Daniel contou ter até cogitado tirar a própria vida – algo que ele não havia contado a ninguém até a publicação do vídeo. Hoje, ele se orgulha de ter desistido, e deixa um recado a quem se sente como ele se sentia naquela época. “Eu quero que todas as pessoas que já se sentiram assim percebam: você nunca está preso. Sempre há esperança, você precisa acreditar em si e passar para o outro lado”, disse, ressaltando que, neste momento, sua vida mudou completamente.

Daniel, Phil e a fama na internet

Isso porque foi justamente nesta época que ele começou a fazer vídeos para o YouTube, conhecendo Phil Lester, que também trabalha como youtuber e está ao lado de Daniel até hoje. Desde antes da publicação do vídeo, muito se especulava sobre a relação dos dois e, apesar de não definir nada, Daniel comentou ter algo forte e importante com Phil desde que se conheceram pelo simples fato de que ele foi o primeiro a aceitá-lo após anos de sofrimento.

“Obviamente nós éramos mais que amigos, mas era mais que apenas romântico, era alguém que genuinamente gostava de mim, eu confiei nele e, pela primeira vez desde que era uma criança, me senti seguro. O relacionamento que formamos naquela época era algo de que eu precisava muito. Nós realmente somos melhores amigos, companheiros de vida, almas gêmeas. É muita sorte encontrar alguém com quem você é tão compatível, especialmente para quem se odiou como eu”, contou.

Pressão para se assumir gay

Conforme ambos começaram a ficar populares na internet e ganhar fãs, Daniel contou que ele passou a ter sua vida pessoal vasculhada por pessoas que queriam descobrir sua sexualidade. Para ele, apesar de muitas pessoas fazerem isso com os artistas que amam repletas de boas intenções, tentar “tirar uma pessoa do armário” à força é algo que não deve acontecer – e fez com que ele voltasse a se sentir mal com o tema. Sobre isso, ele deixou uma importante lição:

“Sexualidade é um fato geral que pode ser muito útil de se saber sobre uma pessoa por vários motivos, mas não podemos forçar as pessoas a divulgar isso. Nós não sabemos a história de vida dessa pessoa, as coisas pelas quais passou, se não falou para os outros, se vai perder o emprego, se está em perigo... Há muitas razões pelas quais as pessoas podem não se abrir sobre isso. Nós podemos espalhar a mensagem de que se assumir é bom, mas especular agressivamente é algo ruim”.

Sem vontade de se isolar novamente nem de desistir da carreira que estava pouco a pouco construindo, Daniel disse ter começado a tentar se reafirmar como heterossexual apenas para que o deixassem em paz. “Foi como estar de volta à escola, cercado de pessoas ameaçadoras tentando me expor por entretenimento”, disse ele, ressaltando que, com o tempo, passou a sentir a necessidade de falar sobre o assunto – mas não por si mesmo, e sim para ajudar outras pessoas.

“Eu tenho uma plataforma e milhares de espectadores, vários que, eu sei, passaram exatamente pelo que eu passei. Se eu contar minha história, mesmo ela sendo dolorosa e falha, eu sei que vai significar algo para alguém. Toda vez que alguém fala de forma aberta sobre sexualidade, isso salva vidas”, disse o youtuber, aconselhando as pessoas sobre como elas devem agir ao presenciar situações como as que ele passou.

“Ninguém me defendeu quando mais importava, e isso quase me custou tudo. Então, se você vir uma mulher sendo assediada, um gay sendo ameaçado, alguém sussurrando algo racista, diga alguma coisa! Faça algo! Se você ficar parado e em silêncio, a vítima vai achar que você também está contra ela”, pediu, incentivando que as pessoas prefiram construir um ambiente empático em vez de especular sobre a vida alheia.

Rótulos e autoaceitação

Conforme contou no vídeo, Daniel já chegou a se definir como bissexual na adolescência, mas, até hoje, não entende muito bem a própria sexualidade nem se sente completamente contemplado pelos rótulos existentes. Para ele, é importante que as pessoas usem esses rótulos caso isso as faça felizes, mas, em geral, ele prefere se classificar como “queer”, palavra que, em geral, quer dizer “excêntrico de um ponto de vista convencional“ e é bastante usada por pessoas LGBT.

Ainda que não se enquadre totalmente em nenhuma categoria, Daniel disse sentir a necessidade de usar o termo “gay” para se referir a si mesmo por uma razão especial. “Sei que, no fundo do coração, a palavra ‘gay’ ainda me assusta porque fui condicionado assim durante a vida toda. Dane-se a definição literal, a definição científica e o que todo mundo pensa, eu finalmente preciso confrontar e aceitar isso: Eu sou gay“, afirmou ele no vídeo.

A quem reage a revelações desse tipo com falas do tipo “eu já sabia” e “grande novidade”, Daniel também deixou uma crítica, explicando que isso menospreza o possível sofrimento pelo qual aquela pessoa passou. “Para mim, ela não está demonstrando empatia pela pessoa e pelo assunto, e sim fazendo daquilo algo sobre si mesmas”, afirmou, pedindo que as pessoas foquem em construir um ambiente confortável para quem passa por isso.

Por fim, Daniel disse lutar pela igualdade, e deixou um conselho para quem ainda está “no armário”. “Para qualquer um que estiver assistindo isso e não for assumido: está tudo ok. Você está ok, nasceu assim, está certo e qualquer pessoa que tiver problemas com isso está errada. Você pode não se sentir seguro para contar e isso está ok. Apenas saiba que viver sua verdade com orgulho é a forma de ser feliz. Você é válido, fica tudo muito melhor”, concluiu.

Assista ao vídeo completo (em inglês):

Famosos e a sexualidade

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