Relato de Maria Flor sobre namoro com Jonathan Haagensen levanta sério debate
Os atores Maria Flor e Jonathan Haagensen já tiveram um namoro de três anos e o período do relacionamento foi relembrado pela famosa em publicação no Instagram para falar sobre dificuldades de se ter um relacionamento inter-racial, já que ela é branca e ele, negro.
Texto de Maria Flor sobre namoro com Jonathan Haagensen
Maria Flor publicou um texto no Instagram com foto antiga dela e Jonathan, possivelmente da época em que namoravam.
O registro e o texto escrito pela atriz foram divulgados justamente no final de semana em que milhares de pessoas foram às ruas em defesa da causa " Vidas negras importam". O movimento se consolidou após um jovem ter sido assassinado por um segurança do supermercado Extra, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Pedro Gonzaga era negro e foi imobilizado e morto pelo agente de segurança; a atitude foi vista como racista.
Na publicação, Maria Flor narrou uma abordagem que policiais, agentes públicos da segurança, fizeram a ela e ao então namorado Jonathan, ao chegar no Vidigal, no Rio de Janeiro, lugar em que o ator morava e ainda mora. A reação da atriz, na época, foi de "peitar" o policial, e é com base nessa atitude que ela discorre sobre como a diferença de cor da pele entre os dois era um elemento que não poderia ter sido ignorado na relação.
Para ela, os dois terem "ignorado" as especificidades desse tipo de relação dentro de uma sociedade estruturalmente racista pode ter prejudicado a convivência amorosa entre eles.
"A gente se conheceu em um filme e se apaixonou. Isso não tinha nada a ver com a nossa cor. E lá atrás, eu com 19 e ele com 20 anos, a gente não pensou sobre isso. Mas estava lá, o tempo todo estava lá", reforçou.
Em resposta à publicação, Jonathan publicou uma sequência de emojis, de coração e punho fechado, dando apoio ao post.
A visão de Maria, sendo branca, nos ajuda a perceber outro ponto: falar sobre racismo e sobre a inferiorização social a que o negro é submetido não é, de forma alguma, ser racista. Afinal, é apenas reconhecendo um problema, tão enraizado em nossa cultura como o racismo, que conseguimos combatê-lo. E, se ele é uma visão de mundo dos brancos sobre os negros, os brancos também devem fazer parte do assunto.
Relato de Maria Flor
Repercussão do post nas redes sociais
Por ter levantado o debate sobre racismo estrutural (ou seja, aquele incutido inclusive em instituições e que fazem um negro dirigindo um carro ter mais chances de ser parado em uma blitz do que um branco), a atriz recebeu milhares de comentários de apoio e agradecimento por ter sido tão "empática" ao dividir a experiência com os seguidores.
Na publicação, muitas pessoas que vivem ou viveram relacionamentos inter-raciais também contaram suas histórias, gerando uma onda de depoimentos.
Por outro lado, esses apontamentos são levantados em várias esferas e diariamente por pessoas negras e nem sempre recebem tanta atenção. Uma seguidora, que se identificou como mulher negra, comentou sobre como a narrativa de Maria Flor é valorizada, enquanto a dela, que vive isso na pele, a faz ser "silenciada e até questionada" (o que também é reflexo do racismo estrutural).
"Ai vem você, uma mulher branca que entende o óbvio ainda é elogiada só por entender o óbvio! Será mesmo que pra esse assunto ser levado mais a sério só através de narrativa branca? Maria Flor, você entende essa minha perspectiva?", escreveu a seguidora.
"Entendo. E acho que você tem razão. Acho muito ruim que eu, uma mulher branca, seja mais ouvida que uma mulher negra. Eu não acho certo. Mas eu não acho que a gente tem que criticar por isso e não acho que seja óbvio entender uma coisa que eu não vivo, que só vivi porque me relacionava com uma pessoa negra. Esse entendimento de experimentar o preconceito é muito diferente. Eu acho muito legítima sua colocação. A minha experiência é só minha experiência. Nada mais e nada menos", respondeu Maria Flor.
A repercussão a respeito do relato de Maria Flor é válida para entendermos que as denúncias do racismo são feitas por ativistas negros e vividas diariamente por pessoas negras no Brasil, infelizmente. É preciso ouvir também esses relatos.
Além disso, pessoas que se identificam como brancas precisam discutir e desmistificar a ideia de que "não há racismo no Brasil", para que, de fato, vidas negras importem.
Veja o post:
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