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Como público conseguiu fazer BBB gringo perder dinheiro por ignorar racismo na casa

Publicado 15 Fev 2019 – 02:05 PM EST | Atualizado 15 Fev 2019 – 02:05 PM EST
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A fama do Big Brother Brasil 2019, infelizmente, não se deve a uma causa nobre. A edição deste ano do reality show da Rede Globo tem reunido discursos recheados de preconceito e que vem gerando muitos protestos por parte do público inconformado com o racismo vigente dentro da casa, além de outros discursos problemáticos.

Agora, pela primeira vez desde o início do programa, há mais de um mês, o apresentador Tiago Leifert se pronunciou sobre as falas polêmicas dos brothers que têm repercutido principalmente nas redes sociais.

O Brasil, porém, não é o único país que assiste ou que já assistiu cenas de discriminação em um BBB. No Reino Unido, uma edição do Big Brother que reunia celebridades ao invés de anônimos também trouxe episódios de preconceito há alguns anos e levou o público do país à revolta.

Ocorre que no Reino Unido, o programa sofreu consequências pela atitude de seus participantes - e muito graças à pressão do público. Perda de patrocínio e de dinheiro foram uma delas. Explicamos o que está acontecendo aqui no Brasil e o que rolou lá fora.

Polêmica do BBB do Reino Unido: o que aconteceu

No Reino Unido, aconteceu algo semelhante ao que vem rolando no Brasil. No país, vai ao ar desde 2001 uma versão alternativa do conhecido reality show holandês, o Celebrity Big Brother.

No spin-off britânico, celebridades conhecidas do Reino Unido são reunidas e confinadas dentro de uma casa, assim como ocorre no Big Brother.

Em 2007, a edição do programa chamou atenção pelo discurso preconceituoso proferido por três participantes, Jade Goody, Danielle Lloyd (foto abaixo) and Jo O'Meara, contra a atriz indiana Shilpa Shetty.

Logo nos primeiros dias de reality, Danielle referia-se à Shilpa dizendo que “ela é um cachorro”. A modelo britânica chegou falar que a indiana deveria sair da casa.

Outro termo usado frequentemente para se referir à atriz foi “Paki”, que no inglês se trata de uma ofensa racial usada normalmente para se referir a pessoas de origem paquistanesa ou do sudeste asiático.

Jade ainda dizia que a indiana a fazia se sentir doente, e que sua pele se arrepiava na presença de Shilpa.

Um dos pontos altos da polêmica aconteceu quando a atriz cozinhou um frango para a casa e Jo se recusou a comer o alimento alegando que ele estava mal cozido e apimentado: “Não confio neste frango. Eu quero comer, mas tenho medo.”

Reações geradas pelo racismo do BBB gringo

Logo após o caso em que o frango de Shilpa foi recusado, o público começou a reagir sobre a discriminação contra a atriz indiana.

No dia seguinte à polêmica, foram registradas 200 reclamações de telespectadores do Celebrity Big Brother na Ofcom. O órgão regulariza o conteúdo televisivo e radiofônico no Reino Unido e busca garantir a pluralidade do conteúdo transmitido a fim de que a população não seja exposta a materiais ofensivos.

Aqui no Brasil, por falta de uma legislação que trate da comunicação do país, quando casos de ofensas ou que ferem a Constituição acontecem na mídia, o poder judiciário deve ser acionado para que investigações sejam realizadas.

As reclamações protestavam contra o bullying racista pelo qual Shilpa passava com as outras três participantes.

Conforme os dias foram passando, as reclamações se intensificaram. Até o final do programa, foram, ao menos, 54 mil reclamações recebidas pela Ofcom.

Governo britânico e indiano

Na época, o então primeiro-ministro do Reino unido, Gordon Brown, e autoridades indianas chegaram a comentar o assunto.

Em visita à Índia, político britânico disse que o público estava certo de protestar e categorizou o comportamento do trio como “ofensivo”.

O governo indiano também falou e prometeu “tomar medidas apropriadas” sobre o assunto.

Polícia

A polícia chegou a ser acionada para investigar o que aconteceu dentro da casa do BBB gringo. As autoridades policiais assistiram às fitas do programa a fim de analisar as alegações de racismo que vinham rolando.

Entretanto, ao fim das investigações, a polícia do Reino Unido concluiu que não deveria levar o caso adiante.

Isso porque as situações denunciadas e que ocorreram dentro da casa se trataram, na visão da polícia, de casos “ofensivos, mas não criminosos”.

Publicidade: Big Brother gringo perdeu dinheiro

Além do público, do governo dos países envolvidos na polêmica racial e da polícia se mobilizarem, o mercado publicitário também se pronunciou sobre o que acontecia na casa do Big Brother.

A Carphone Warehouse, principal marca patrocinadora do Celebrity Big Brother desde 2004, retirou seu nome do time de patrocinadores do programa. Isso significou uma perda de 3 milhões de libras (mais de R$ 14 milhões) para a atração.

O chefe-executivo da Carphone Warehouse disse, na época, que a decisão de não associar a marca mais ao Celebrity Big Brother aconteceu depois que o comportamento de alguns participantes foram “completamente estranhos” e não compactuavam com os valores da marca.

Emissora cancelou Big Brother gringo

O Celebrity Big Brother 2007 teve início em 3 de janeiro. Porém, as atitudes racistas com Shilpa começaram em apenas uma semana de programa, quando os comentários de Jade Goody, Danielle Lloyd e Jo O'Meara começaram.

Entretanto, a primeira advertência da emissora responsável pelo reality show aconteceu só em 20 de janeiro, nove dias antes do encerramento do programa.

Os participantes Jack Tweedy e Jo O'Meara foram convocados a uma sala reservada (sem transmissão ao público) e advertidos por um conteúdo humorístico produzido.

Dias depois, em 29 de janeiro, o Celebrity Big Brother terminou com Shilpa Shetty com vencedora da edição. Depois disso, porém, a edição do ano seguinte foi cancelada – apesar dos bons números em audiência devido à polêmica com Shilpa.

Em declaração dada, naquela época, pelo chefe de programação da emissora, Julian Bellamy, o Big Brother não aconteceria em 2008 devido a um período de “renovação criativa”. O executivo também negou qualquer hipótese de que o cancelamento da atração para uma nova temporada tenha ocorrido por conta do caso de racismo da edição de 2007, segundo reportou o jornal The Telepgraph.

Além da polícia, a Ofcom também avaliou o ocorrido na casa do Big Brother gringo e deu seu julgamento sobre o comportamento da emissora na época.

Para Ofcom, o Channel 4 violou o código de readiodifusão ao “cometer erros editoriais sérios” e que se agravaram com por uma “falha grave no processo”. O órgão também aplicou sanções à emissora que deveriam servir pelas próximas três edições do reality.

O Channel 4 acatou a avaliação e a punição da Ofcom. Entretanto, o Big Brother não foi renovado para 2008 e só voltou ao ar em 2009.

Big Brother Brasil 2019: polêmicas que já rolaram na casa

Aqui no Brasil, os participantes Paula e Maycon têm destilado muito preconceito racial e intolerância religiosa dentro da casa do BBB 2019.

Durante uma das festas, por exemplo, Maycon se incomodou com um momento em que Gabriela e Rodrigo se emocionaram ao ouvir a música “Identidade”, do cantor Jorge Aragão, que exalta o povo e a cultura afrodescendente.

Ao ver a cena, Maycon reagiu afirmando que os colegas poderiam estar realizando algum tipo de ritual.

“Estava o Rodrigo e a Gabi. Aí eu estava comendo, de boa. De repente, eu senti um arrepio e começou a tocar umas músicas esquisita. Olhei para o dois em um sincronismo, que eu achei legal. De repente comecei a olhar e escutar uns negócios do tipo ‘não faça igual a eles’. Veio Jesus Cristo à minha mente: 'Para a vida inteira: se você fizer igual a eles, eles ganham mais força. Eles não são dois, não.'”

Além da fala preconceituosa durante a festa, Maycon também mostrou intolerância religiosa em conversa com Hariany e Paula, quando contou às amigas que suspeitava que Isabella havia ficado gripada por culpa dos outros dois brothers.

“A Isa falou que a Gabi é uma pessoa muito boa e eu disse que, sim, a Gabi é uma pessoa boa, mas ruim é o que está andando junto dela. Porque esses que ela [Isa] ficou doente, foi muito estranho. E não era para ela não. Acho que era para mim. Mas aí fez efeito em nós dois. Eu perdi a linha total", disse, acusando Gabriela de ter feito algum tipo de ritual para atingi-los.

Paula também não passa longe das falas de Maycon. Em uma das declarações da sister dentro da casa, por exemplo, a bacharel em direito utilizou o termo "faveladão" para contar a história de violência doméstica vivenciada por uma amiga.

“Eu pensei que ia chegar e ter mó ‘faveladão’ lá. Quando eu vi, o cara era branquinho, morou não sei quanto tempo na Austrália, Canadá. Falei: ‘Não é possível que você fez isso’."

Em conversa com Maycon, Hariany e Diego na área externa da casa, a bacharel em direito ainda chegou a questionar se Rodrigo, que sofreu uma lesão no ligamento da perna, realmente sentia dores ou se estava se fazendo de vítima.

"Ele está mancando até hoje, velho. Ele só machucou o joelho e torceu na época. Acho que isso é uma forma dele se vitimizar (...) Eu vou perguntar para o Rodrigo por que ele está mancando. Isso está me incomodando", disse Paula.

Investigação sobre racismo no BBB 2019

Assim como no Big Brother britânico, a polícia também foi acionada aqui no Brasil. As cenas em que os brothers falam de forma preconceituosa sobre os colegas de confinamento Gabriela e Rodrigo geraram revolta nas redes sociais e até pedidos de intervenção, alegando racismo e intolerância religiosa e hashtags, como #BastaDeRacismoNoBBB, e outros tipos de protestos contra os bothers têm sido cada vez mais frequentes.

Em nota, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) confirmou ao VIX que apura o comportamento dos participantes Maycon e Paula dentro da casa.

“Foi instaurado inquérito para apurar o ocorrido. As investigações estão sob sigilo”, informa a Decradi.

Além das investigações sobre racismo e intolerância religiosa no reality, Maycon também passou a ser investigado sobre maus-tratos e zoofilia. Dentro da casa, o brother já havia causado revolta em participantes ao dizer que já pôs uma bombinha no rabo de um gato e falar sobre sexo com animais.

Na época, não só os confinados se revoltaram, como anônimos e famosos fizeram campanha nas redes sociais para que o mineiro fosse eliminado do programa.

Agora, o caso está sob investigação da 32ª DP (Taquara) do Rio de Janeiro. "O delegado Maurício Mendonça, titular da 32ª DP (Taquara), encaminhou ofício à TV Globo requisitando a qualificação dele e as imagens de onde consta a fala dele. A autoridade policial também está avaliando a necessidade de oitiva imediata", informou a assessoria de imprensa da polícia civil do Rio ao VIX.

A Globo também se pronunciou sobre o ocorrido. Segundo Leifert, dependendo do parecer das autoridades competentes às investigações do que vem acontecendo na casa (ele não menciona a ação da Decradi), a produção do BBB pode tomar algum tipo de providência em relação ao comportamento dos participantes.

“Alguns comentários feitos dentro da casa ofenderam algumas pessoas. Muitas vezes, os próprios participantes discutiram, se corrigiram e conversaram. Outras vezes, o comentário passou batido lá dentro, mas não aqui fora. Os vídeos e falas consideradas ofensivas foram enviadas às autoridades competentes. Dependendo do parecer das autoridades, o programa tomará providencias como sempre fez. Enquanto isso, nós da Rede Globo, acreditamos que o melhor é o diálogo. Há dois anos nós temos uma campanha que diz que tudo começa com o respeito. A diversidade é um dos pilares da empresa. Isso está claro na nossa programação. Por enquanto, vamos seguir o nossos jogo, mas com olhar atento.”

Big Brother Brasil 2019

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