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Grazi Massafera-Mulher

Obsessão de Lívia é comum na vida real: entenda condição da personagem de Grazi

Publicado 15 Dez 2017 – 02:08 PM EST | Atualizado 15 Mar 2018 – 11:20 AM EDT
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Após um abordo que a deixou infértil, Lívia, a personagem de Grazi Massafera em “O Outro Lado do Paraíso”, desenvolveu uma obsessão quase doentia pelo sobrinho, de quem passou a cuidar como se fosse seu próprio filho. A relação problemática entretém quem acompanha a novela das nove, mas pode acontecer na vida real - e é mais comum do que parece.

Para entender o que leva alguém a essa condição e responder até que ponto é saudável ficar obcecado por algo, conversamos com profissionais que pudessem explicar tudo sobre situações como a de Lívia. E, segundo eles, essa obsessão sem tratamento ou acompanhamento pode se transformar em um quadro bem mais grave.  

História de Lívia em "O Outro Lado do Paraíso"

A história de Lívia, Clara (Bianca Bin) e Tomaz (Vitor Figueiredo) é parte da trama escrita pelo autor Walcyr Carrasco

Na primeira fase do folhetim, foi possível acompanhar o drama de Lívia, uma mulher aparentemente com dificuldades emocionais por experiências de vida. Uma delas foi um aborto feito por um médico que a teria impossibilitado de ter filhos. Anos depois, ser mãe seria o sonho dela. 

O comportamento da personagem passa a mudar com a gravidez de Clara. Possivelmente o trauma e a dor se transformaram em uma obsessão pelo bebê que Clara esperava. Em diversos momentos Livia dizia que o sobrinho seria filho das duas e, depois do nascimento de Tomaz, ela mesma se nomeava mãe do garoto, o chamando de filho, e não deixando Clara cuidar dele sozinha. 

A obsessão dela em ser mãe foi tão grande que ela foi capaz de armar uma emboscada para criar o sobrinho como próprio filho.

O que é obsessão?

O trauma da personagem de Grazi, unindo o aborto com a impossibilidade de engravidar, teria gerado nela um quadro de obsessão por ser mãe. “É quando passa de um simples desejo, é uma vontade quase irracional para criar situações que, segundo especialistas apontam, pode prejudicar a qualidade de vida da pessoa e de quem está à sua volta”, comenta a psicóloga Sirlene Ferreira. "A personagem criou sua própria fantasia, de que o bebê iria substituir tudo de ruim na vida dela, e com ele chegaria uma esperança de uma vida melhor".

Apesar de ser uma obra de ficção, a condição não é tão difícil de ser encontrada na vida real.

"No noticiário aparecem diversos casos de sequestro de bebês em maternidades, em que as sequestradoras, possivelmente são mulheres frustradas, que não superaram perdas ou suas limitações", comenta a especialista. Mas a obsessão pode acontecer por qualquer motivo, como um ex-namorado ou um casamento desejado. 

Diferença entre desejo e obsessão

"O desejo é algo que a gente quer e almeja e que, claro, iremos lutar conseguir, mas dentro da normalidade. É quando há uma busca saudável por algo que se quer", comenta Sirlene Ferreira. 

"A obsessão é uma procura sem limites por algo que você acredita que precisa realizar ou ter para ser feliz. É algo que compromete diversas áreas da vida e apresenta comportamentos nocivos que podem ser notados facilmente por familiares e amigos".

Funcionamento psicótico: o que é?

Já a psicóloga Renata Bento, do Rio de Janeiro, cita a psique de Lívia como tendo um funcionamento psicótico — não se trata de uma psicose, um quadro mais grave e caracterizado por surtos. 

"É possível deduzir que a Lívia tem um funcionamento psicótico. Isso significa que em alguns momentos ela se afasta da realidade e acredita no que lhe convém. No caso dela, o sobrinho ser o seu filho", comenta Bento. 

Quando a obsessão pode começar

"Quando o assunto são as doenças psicológicas, é complicado determinar como exatamente acontecem. Pois estamos falando de uma ciência psicológica, subjetiva", comenta Ferreira. "Mas, claro, que é possível desenvolver uma obsessão após um trauma, mas isso não é uma regra". 

Trauma como gatilho para problemas psicológicos

Segundo Renata, quando passamos por uma experiência traumática há sempre um impacto no nosso aparelho psíquico. Para superar, é preciso passar pelo processo de cicatrização de uma ferida, aceitar o que passou, passar pela tristeza e, finalmente, dar a volta por cima. 

Caso a pessoa não passe por todo esse processo para superar o trauma, pode acontecer de ele se transformar em uma idealização extrema, que faz com que a psique altere todo o sentido e os valores das coisas - podendo alterar percepções. No caso da personagem, alterou a percepção que ela tinha sobre o sobrinho, que passou a ser visto como filho. Mas, a profissional alerta, há obsessões com coisas diversas, como casamento, pessoas, namoro, trabalho. "Uma obsessão é um afastamento da realidade".

Quando um quadro de obsessão não é tratado e acompanhado por profissionais, pode se tornar uma doença mais séria.

Doenças associadas

Uma série de quadros psíquicos pode acompanhar o quadro de obsessão, como a depressão e transtornos de ansiedade. 

Lembrando que este tipo de obsessão não é como o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), quando a pessoa precisa repetir determinados rituais para ficar tranquila, uma condição que também traz muito sofrimento para quem sofre com ela. 

Sintomas de quem tem obsessão com algo ou alguém

  • A pessoa trata aquele desejo como prioridade em sua vida
  • Ela deseja que as pessoas à sua volta também compartilhem do mesmo sentimento
  • Ela passa a ter uma crença de que se não obtiver seu objeto de desejo, não conseguirá ser feliz ou sobreviver sem ele 
  • Sintomas típicos da ansiedade aparecem, como alterações (para mais ou menos) na alimentação, sono e outros hábitos 
  • A insônia surge e a pessoa começa a perder noites de sono bolando os planos do que irá fazer para conquistar o que deseja
  • Em muitos casos até mesmo a fisionomia da pessoa muda, seu comportamento fica claramente alterado 

Quando pode acontecer

A psicóloga Sirlene Ferreira afirma que, por ser um quadro psicológico, é complicado identificar quais são os reais gatilhos para a fixação da doença.

"Não acontece necessariamente após um trauma. Estamos falando de uma ciência humana e não exata. A obsessão pode aparecer por motivos inconscientes, por exemplo no caso de vício em bebidas, drogas e comida, que são obsessões", afirma Sirlene Ferreira. 

Tratamento 

"É preciso, primeiro, uma avaliação com psiquiatra e a partir daí poderá ser solicitado o uso de medicamentos, para brecar os pensamentos obsessivos, porém, é com a psicoterapia que essas feridas são cicatrizadas e o comportamento serão mudados", diz afirma Renata Bento. 

"O Outro Lado do Paraíso" 

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