null: nullpx
acne-Mulher

Aflição, nojo e prazer: o que está por trás da sua satisfação em ver cravos sendo extraídos

Publicado 3 Out 2017 – 10:35 AM EDT | Atualizado 27 Mar 2019 – 08:47 AM EDT
Compartilhar

“Isto foi icônico” e “este seria o meu trabalho dos sonhos” são alguns dos quase dois mil comentários deixados no vídeo de maior acesso do canal no YouTube da "Dr. Pimple Popper". Ao contrário do que se poderia supor, eles são fazem referência a um ícone da música ou algum ator famoso, mas a algo muito mais ordinário: acne.

O vídeo em questão foi filmado com um celular e não possui efeitos especiais. Apenas uma câmera estática focada em um grande cravo incrustado nas costas de um idosos de 85 anos. Pouco a pouco, uma mão é vista aplicando uma injeção e, com um bisturi, realizando a extração de toda a massa cinzenta.

Ao final, somente um buraco circular - e com poucos resíduos de sangue - permanece da pele.

Vídeos de extração de cravos e espinhas: sucesso

Acredite: por mais nojento que possa parecer, esse vídeo já foi visualizado mais de 34 milhões de vezes na plataforma. E os números não cessam.

Este sucesso contraditório do audiovisual amador é precedido por tantos outros com números igualmente estratosféricos no canal da dermatologista americana Dra. Sandra Lee, mais conhecida como " Dra. Espremedora de Espinhas", em português.

A especialista exibe números invejáveis na rede. Ao todo, são quase 3 milhões de entusiastas de bolhas de pus inscritos em seu canal. E ela não é a única a ter descoberto esse desejo obscuro dos internautas. O cirurgião indiano Dr. Vikram segue atrás da americana em disputa pela audiência.

Prazer em sentir nojo: por que temos?

Os números provam que não se trata de um caso isolado, pelo contrário. A extração de cravos e espinhas, por mais nojento que possa ser para alguns, é uma fixação para milhões de diferentes faixas etárias e classes sociais.

"Prazer de um orgasmo"

Para a psicanalista Cristiane M Maluf, a atração pelos vídeos de extração de acne ou mesmo em extrair acnes na própria pele ou na de terceiro deriva do prazer que o indivíduo sente ao ver o líquido ser liberado do ambiente tensionado em que estava.

"É uma questão subjetiva. O rompimento de uma acne é como se houvesse o prazer de um orgasmo. Isso satisfaz a pessoa que está vendo", compara.

Nesses casos, o prazer estaria relacionado com questões subjetivas de cada indivíduo, que, ao ver uma explosão e libertação de alívio da tensão, mesmo que por intermédio de uma tela, consegue sanar e acalmar as próprias angústias e ansiedades. 

"A maioria das pessoas vendo esses tipos de vício acaba aliviando uma certa ansiedade que venha a ter. Querendo ou não, ao mesmo tempo em que é um prazer, é uma dor. A dor e o prazer estão atrelados, como sendo quase um masoquismo", explica a psicanalista.

Desafiar o próprio nojo

Outro fator que talvez justifique tamanha repercussão reside no próprio nojo: encará-lo seria uma forma de desafiar e testar suas emoções.

“É igual a assistir a um filme de terror. Não se consegue saber se é prazer ou se é uma coisa nojenta, e as pessoas sentem uma adrenalina diante do nojo e se desafiam a ir até o fim”, explica o psicólogo comportamental Yuri Busin, diretor do Centro de Atenção a Saúde Mental e Equilíbrio (CASME).

Essa obscura satisfação, entretanto, não está necessariamente relacionada a nenhum transtorno ou compulsão. Assistir um ou dez vídeos seguidos de extração só chama atenção para os gostos peculiares dos indivíduos, nada mais.

“Um comportamento excessivo é quando a pessoa não consegue se controlar. Quando a pessoa deixa de viver a vida dela para ver pornografia, por exemplo”, afirma Busin.

Instinto animal: uma herança milenar

Outro elemento que contribui para o fascínio em espremer cravos e espinhas - ou observar outros o fazendo - pode estar relacionado ao nosso instinto animal. A limpeza corporal foi um fator de seleção natural desenvolvido ao longo dos milhões de anos.

O homem, diferentemente de outros animais, que utilizam a saliva para a higienização, projetou ferramentas mais evoluídas: bucha e sabão. Ainda assim, traços comportamentais deixados pela herança genética podem se manifestar de vez em quando em nosso dia a dia, e um deles poderia ser o desejo por remover com as próprias mãos sujeiras que estão dentro do corpo.

Essa seria outra explicação para a fixação em extrair não apenas acnes, mas todas as secreções, como retirar sujeira de nariz e cera dos ouvidos. Influências estéticas de padrões de beleza fortalecem esses comportamentos, sejam diretamente relacionados com saúde ou apenas com a aparência física.

Compulsões: como identificar?

Assistir repetidamente a esse tipo de vídeo também pode funcionar como uma estratégia para minimizar os sintomas de algumas compulsões, como a dermatilomania, uma dependência em cutucar a própria pele.

Quem desenvolve essa doença sofre devido ao binômio de dor e prazer: por um lado, o indivíduo sente satisfação em coçar e cutucar a pele e, por outro, sofre com os resultados dos arranhões, marcas, cicatrizes e sangramentos, comprometendo a vida em sociedade, uma vez que passa a sentir vergonha de seu descontrole.

"O que vai diferenciar um comportamento normal de uma patologia é a intensidade da vivência e tempo que você disponibilizará. O vício em vídeos é recorrente e acontece com pornografia, por exemplo. Se a pessoa assistir de vez em quando, tudo bem. Mas, quando ela deixa as próprias obrigações de lado para se dedicar a essa atividade, isso se torna problemático", esclarece Maluf.

Nesses casos, o indivíduo demora para reconhecer que está em uma relação de dependência e, dificilmente, conseguirá se libertar sozinho. Para isso, o mais aconselhado é buscar ajuda profissional de um psicoterapeuta para entender qual a causa de tensão que o levou a utilizar esse tipo de vídeo como válvula de escape.

Tratamento para espinhas: 

Compartilhar

Mais conteúdo de interesse