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Natascha Kampusch, 10 anos após seu cativeiro, carrega foto de sequestrador e tem dificuldade de convívio

Publicado 23 Ago 2016 – 09:45 PM EDT | Atualizado 14 Mar 2018 – 09:30 AM EDT
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A austríaca Natascha Kampusch ficou mundialmente conhecida após conseguir fugir do cativeiro em que viveu dos 10 aos 18 anos. Agora, exatos 10 anos depois de conseguir se libertar, Natascha está lançando um novo livro em que fala das dificuldades que enfrentou ao tentar retomar sua vida normal.

História do sequestro

Natascha foi sequestrada no dia 2 de março de 1998 enquanto ia para a escola e levada para Strasshof an der Nordbahn, a 50 km de Viena, capital da Áustria. Ela, que tinha apenas 10 anos, foi pega na rua e colocada dentro de uma van por um homem branco, alto, de olhos azuis e cabelos compridos. Nos primeiros seis meses, ficou presa em um porão de 5 metros quadrados que não tinha luz natural e cheirava mal. Depois, começou a frequentar o andar de cima da casa onde estava confinada. Ela era aprisionada por Wolfgang Priklopol.

Segundo relatou anos depois, ao mesmo tempo que o sequestrador a tratava muito bem e dava a ela tudo o que desejava, ele também a obrigava a trabalhar duro e realizar todas as tarefas domésticas sempre seminua para que não fugisse. A vítima também era obrigada a pintar o cabelo de loiro ou raspá-lo, de acordo com o desejo do criminoso. Quando Natascha tinha 14 anos, foi abusada sexualmente pela primeira vez por Priklopol. 

Apesar de ter sido violentada todos os dias, a moça se recusa a chamá-lo de "monstro". Em seu primeiro livro, ela conta que o homem que abusava e batia nela e a deixava sem comida também queria carinho às vezes. De acordo com a vítima, as mudanças de humor do sequestrador eram muito frequentes e ele delirava bastante. 

Só em 2006 ela conseguiu fugir do cativeiro. Correu por alguns metros e conseguiu pedir ajuda para os vizinhas da casa em que viveu por oito anos sem que nunca ninguém desconfiasse. No mesmo dia, Wolfgang se matou e, apesar do seu desejo de ser uma mulher livre, Natascha ficou arrasada quando soube da morte do sequestrador. Até hoje, ela não revela todos os detalhes do que realmente aconteceu ao longo dos oito anos que conviveu com o homem que disse que a havia sequestrado para salvá-la de seus pais que não gostavam dela e também porque ela tinha ido até ele como um gato de rua, e as pessoas podem ficar com gatos.

Superação do trauma

Em entrevista à agência AFP, a vítima afirmou que foi muito difícil retornar à vida e à liberdade depois que fugiu da casa em que era mantida prisioneira desde a infância.

Isso porque, além de ter que superar os inúmeros abusos e maus-tratos que sofreu, a jovem precisou também enfrentar as pessoas que não ficaram ao seu lado depois de ela finalmente ter conseguido se livrar do seu sequestrador – que se matou no mesmo dia de sua fuga, em 23 de agosto de 2006.

Natascha afirma que algumas pessoas gritavam com ela nas ruas e que recebeu e-mails com mensagens de ódio. Uma vez, até chegou ser agredida fisicamente.

"Não fico com raiva. Costumava ficar, mas percebi que você pode alcançar muito mais sendo impassível. Pessoas assim não vão mudar, não importa como eu me comporte com elas", afirma.

Por que as pessoas se voltaram contra ela?

Estes comportamentos hostis teriam surgido porque algumas pessoas começaram a acusá-la de ter se aproveitado do que aconteceu com ela para ficar rica. Além disso, ao longo dos anos, foram surgindo muitas “teorias da conspiração”.

Entre as histórias mais comuns está a de que ela teria tido um filho com seu sequestrador e depois enterrado o bebê no jardim da casa em que viviam. Outro boato atesta que ela fazia parte de uma rede de sexo infantil, e que Priklopol teria sido morto para que as demais pessoas pertencentes a esta suposta rede não fossem delatadas.

Por outro lado, a vítima afirma que foram poucas as pessoas que agiram desta forma com ela. De acordo com Natascha, a grande maioria a deixou em paz ou tentou reconfortá-la.

"Um monte de gente quer me abraçar. Não é ótimo para mim, mas tudo bem, se é o que querem", falou, ao afirmar que preferia que todos simplesmente a deixassem em paz.

Livro sobre sua vida

Em sua segunda publicação, recém-lançada, a vítima fala sobre a vida pós-cativeiro, mas não entra em detalhes sobre como era viver sequestrada. "Para algumas pessoas (...), eu era uma provocação. Possivelmente, porque não podiam entender minha forma de lidar com meu sequestro e meu cativeiro", comenta sobre a sua decisão de como abordar este momento difícil que viveu.

Segundo veículos de comunicação austríacos, em um trecho da publicação, a vítima conta que por um tempo rejeitou o mundo exterior, mesmo depois de desejá-lo tanto, e afirma que a sociedade precisa de "supostos monstros, como Wolfgang Priklopil, para colocar um rosto no mal que vive nelas".

Apesar de já estar há 10 anos em liberdade, Natascha ressalta que ainda não tem facilidade em conviver com outras pessoas porque até conseguir fugir nunca tinha socializado com jovens.

"Sou uma grande fã do século XX, mas sou jovem e tenho que lidar com gente no século XXI. Tenho que me integrar neste século", ressalta.

Comportamentos estranhos

Agora com 28 anos, ela é proprietária da casa que era de seu sequestrador. Apesar de admitir que isso é estranho, ela não pretende vendê-la, pois tem medo que o local se torne um “parque de atrações dos horrores”. A residência está vazia, mas Natascha vai cerca de duas vezes por mês ao imóvel para resolver assuntos práticos, como cuidar do jardim. 

De acordo com o tablóide britânico Mirror, a jovem também carrega sempre com ela uma foto de seu sequestrador e, na época que conseguiu fugir, acusou a polícia de ter matado Priklopil (após ouvir que ele havia se matado) e pediu para ficar a sós com o caixão do criminoso para rezar por ele. 

Outro ponto estranho é que Natascha rejeitou seu pai Ludwig Koch depois de conseguir a liberdade. Koch acredita que sua filha se recusa a dizer toda a verdade a respeito do seu sequestro e que isso faz com que ela tenha este comportamento estranho com ele e se recuse a seguir a própria vida. 

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