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Final explicado de "O Diabo de Cada Dia": filme da Netflix é sobre ciclos de violência

Publicado 17 Set 2020 – 12:45 PM EDT | Atualizado 17 Set 2020 – 12:45 PM EDT
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Com um elenco de peso estrelado por Tom Holland (“Homem-Aranha”) e pelo futuro Batman, Robert Pattinson (“Crepúsculo”), o novo filme da Netflix não é para quem procura respostas fáceis. Com uma trama que conecta várias histórias, “O Diabo de Cada Dia” traz reflexões sobre fé, abuso, traumas e sobre a natureza da violência humana.

Sobre o que é "O Diabo de Cada Dia"?

Fatalidade da vida

Apesar de quase todos os principais personagens serem religiosos comprometidos e reforçarem discursos de fé inabalável na bondade e justiça divina, o que o filme mostra é justamente o oposto: com um clima tenso e triste o tempo todo, os acasos que guiam a vida dos personagem são trágicos, parecem injustos e completamente abandonados por qualquer bondade divina.

Arvin e Lenora acabam órfãos pelo destino terrível de seus pais e passam a vida toda em situações cruéis: Lenora acaba se matando após o abuso do reverendo e o medo de lidar com a gravidez, enquanto Arvin é levado por uma verdadeira avalanche de violências, que no fim o tornam um assassino.

Justiça com as próprias mãos

Embora pareçam acreditar fortemente na justiça divina, os personagens de “O Diabo de Cada Dia” sempre acabam se deparando com a “justiça dos homens”. Com as próprias mãos, Arvin e Willard buscam punir seus inimigos, enquanto o xerife Lee (que deveria representar a verdadeira justiça humana) também se corrompe ao queimar as provas de que a irmã e o marido eram assassinos em série.

Nesse sentido, o filme mostra o ser humano sempre falhando ao ser testado: todos os dias, o “diabo” (que podemos interpretar como a maldade ou a violência de maneira geral) parece vencer nas escolhas de vida desses personagens. Eles nunca são salvos e, ao contrário, sempre seguem pelo mau caminho - ou, no mínimo, pelo caminho mundano.

No caso de Arvin, vemos como a violência é resultado de tudo o que ele viveu - traumatizado pela morte da mãe, do cachorro e o suicídio do pai, o garoto acaba copiando o que aprendeu: não há salvação divina, como o pai tentou, então, com a própria força, ele tenta salvar sua irmã de criação, machucando os homens que fizeram mal a ela.

Com o reverendo Teagardin, o filme expõe os “falsos profetas” e as pessoas que usam a religião como forma de justificar seus atos violentos e, mais do que isso, que se aproveitam a fé verdadeira e inocente dos outros.

O outro pastor da história, Roy, também acaba enveredando para o mal e uma das interpretações possíveis é a do fanatismo religioso. Testando sua própria fé, Roy perdeu a conexão com o mundo, com as pessoas, e tirou a vida da própria esposa em nome de uma iluminação - que nunca veio e que, vale notar, surge na cabeça dele justamente quando ele está na escuridão total de seu porão.

Maldade disfarçada

Apesar de sempre se apoiarem na religião e no apelo à justiça divina, os personagens que agem em nome da fé são sempre violentos, seja por quais motivos. Vemos primeiro Willard sacrificando o cachorrinho do filho, Roy assassinando a esposa a sangue frio, e por fim o pastor Teagardin, abusador sexual.

As motivações de cada um são diferentes: Willard acredita que ao oferecer a vida do cachorro poderia curar a doença da esposa, Roy acredita ter sido iluminado e capaz de ressuscitar a mulher, enquanto o pastor utiliza a fé para manipular suas vítimas.

Nesse sentido, o pastor é o único intencionalmente perverso, mas o resultado de todas as motivações é o mesmo: a morte de pessoas inocentes. Poderiam ser esses o “diabo de cada dia” que o título do filme sugere? Segundo o dito popular, “o diabo mora nos detalhes” - vale observá-los nesta história também.

Final

“O Diabo de Cada Dia” se passa em um período entre a Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã e podemos interpretar que ele começa e termina nesses dois pontos. De início, Willard voltando traumatizado da batalha e no fim, Arvin pega carona em kombi com um homem de cabelos compridos - que transmite muito do “ar” do movimento hippie, contrário à guerra.

Nesse sentido, este parece ser o único momento em que Arvin realmente consegue descansar e encontra algo parecido com o paraíso em nome do qual os outros tanto falavam. Com várias interpretações possíveis, claro, “O Diabo de Cada Dia” também pode falar sobre infernos particulares, criados pela vida do dia a dia e dentro de cada pessoa.

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