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Como um chute dá "efeito" à bola de futebol, como no gol famoso de Roberto Carlos?

Publicado 8 Jan 2018 – 04:00 AM EST | Atualizado 14 Mar 2018 – 05:08 PM EDT
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Em 3 de junho de 1997, Brasil e França entraram em campo para o jogo de estreia do Torneio da França, competição que serviu de teste para a Copa do Mundo do ano posterior. Aos 21 minutos de jogo, um momento entra para a história do futebol.

O lateral-esquerdo Roberto Carlos ajeita a bola para cobrar uma falta a mais de 35 metros de distância do gol; quando dispara o chute, um efeito faz com que o trajeto forme uma curva - a mais de 100 km/h, a bola parece ir para a bandeira de escanteio, mas ela torna à esquerda e entra no gol francês.

Este lance é tão icônico que inspirou a pesquisa de três físicos franceses a estudarem o comportamento da bola e o que a leva a ter tal efeito. O resultado é o artigo científico The spinning ball spiral (A espiral da bola giratória, em tradução livre), publicado no New Journal of Physhics.

Por que a bola faz a curva?

O nome científico do fenômeno é efeito Magnus, e sua ação está intimamente relacionada à forma como a bola gira. Funciona da seguinte maneira: quando o atleta chuta a bola, ele não acerta o pé no centro dela, mas em uma de suas metades - no caso de Roberto Carlos, seu pé esquerdo encaixou na porção direita da esfera.

Assim que a bola entra em movimento, ela gira, rotacionando em torno de si mesma como a Terra. Em sua trajetória, a redonda enfrenta o atrito natural do ar que diminui pouco a pouco sua velocidade. O mesmo ar também interfere na rotação: o movimento com o qual a bola gira faz com que um lado sofra mais resistência enquanto o outro enfrenta menos obstáculos.

O resultado é exatamente esse que se pode ver no vídeo: a bola faz a curva em direção ao lado que sofre menos resistência do ar. Assim, a cobrança de falta de Roberto Carlos concluiu sua rota em direção ao gol francês - não antes de elegantemente tocar a trave antes de estufar a rede.

Distância (e qualidade do atleta) é fundamental

A bola estava distante 35 metros da baliza. A distância faz parece ainda mais improvável o gol, certo? Bem, não é bem assim. De acordo com os cientistas franceses da École Polytechnique in Palaiseau, as mais de 3 dezenas de metros colaboraram para que a curva se formasse.

“A trajetória da bola pode se desviar significativamente do circular, desde que o chute esteja longe o suficiente. Então, a trajetória torna-se surpreendente e, de alguma forma, imprevisível para um goleiro. É assim que interpretamos o famoso gol do jogador brasileiro Roberto Carlos contra a França em 1997”, explica o artigo.

“Esta falta foi cobrada a uma distância de aproximadamente 35 m, ou seja, comparável à distância para a qual esperamos esse tipo de trajetória inesperada. Desde que o chute seja poderoso o suficiente, outra característica das habilidades de Roberto Carlos, a trajetória da bola se curva brutalmente para a rede, a uma velocidade ainda grande o suficiente para surpreender o goleiro”, conclui.

Para que isso aconteça é preciso, portanto, a convergência de vários fatores: além da distância da bola para o gol, o atleta precisa ajustar perfeitamente a força com que bate na bola e a porção da esfera na qual seu pé irá tocar. O chute precisa fazer com que a bola suba o suficiente para não tocar o chão, mas não tanto a ponto de passar por cima da baliza, e também na medida para que ela gire na rotação perfeita para fazer a curva.

Trajetória em eterno espiral

A lógica é a mesma que rege o movimento dos bumerangues. Seria possível, então, que este tipo de chute fizesse com que a curva da bola fosse tanta que ela voltaria até o jogador original? Não, no futebol isto seria impossível.

Quando os físicos estudaram o movimento da bola chegaram a uma equação que descreve sua trajetória em uma espiral constante. Isso significa que a bola não voltaria até a posição original do chute, mas faria curvas constantemente menores até chegar ao ponto de total inércia - exatamente como a expressão visual da famosa sequência de Fibonacci.

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