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Santos Dumont ou Irmãos Wright: quem, afinal, inventou o avião?

Publicado 14 Dez 2017 – 04:00 AM EST | Atualizado 15 Mar 2018 – 01:16 PM EDT
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Para a maior parte do mundo, os inventores do avião são os irmãos Orville e Wilbor Wright. Já no Brasil e na América Latina, a resposta é outra: a honra cabe a Santos Dumont, conhecido inclusive como “Pai da Aviação”. Há até alguns franceses que reivindicam para Clément Ader o título de primeiro construtor de um avião na história.

Na verdade, a resposta é mais complexa do que reconhecer apenas um nome. Em diferentes sentidos, todos eles foram pioneiros: Ader projetou o primeiro modelo e cunhou o termo “avião” para a aeronave; os Irmãos Wright foram capazes de sustentar um voo pela primeira vez, mas com auxílio de propulsores; e Santos Dumont realizou a primeira decolagem, voo e aterrissagem reconhecida oficialmente.

Todos são, pelo menos um pouco, os inventores do avião. Veja o que cada um desenvolveu para receber este título.

Irmãos Wright: voo real, mas sem provas e com catapulta

Data de 17 de dezembro de 1903 o primeiro voo realizado pelos Wright, nos campos de Kill Devil, na Carolina do Norte. Na ocasião, o avião Flyer I teria viajado 37 metros em 12 segundos na primeira tentativa e 260 metros em 59 segundos no melhor dos quatro voos realizados.

Dizemos “teria” porque não há qualquer tipo de comprovação sobre este feito, a não ser um telegrama enviado pelos irmãos a seu pai celebrando a novidade e uma fotografia, que só viria a público em 1908.

À época, a notícia não foi das mais celebradas na sociedade norte-americana. Já os franceses, que viriam a fundar a Federação Aeronáutica Internacional dois anos mais tarde, se interessaram pela novidade.

Ainda sob o nome de Aeroclube da França, em 1904 a organização promoveu uma feira mundial de aviação e ofereceu um generoso prêmio em dinheiro para quem conseguisse voar. Os irmãos não apareceram.

As máquinas de voar dos Wright estavam sob sigilo absoluto. A justificativa era de que o projeto seria oferecido ao Ministério da Guerra dos Estados Unidos, que recusou. Depois, foi a vez do próprio governo francês se recusar a comprar o equipamento, devido a falta de demonstrações de sua capacidade de voar.

Apenas em 1908 os norte-americanos mostrariam seu avião. Foi um sucesso de desempenho e de crítica: voou 124 quilômetros e engenheiros franceses reconheceram que nenhum avião já apresentado chegava aos pés do projeto dos Wright. Havia um problema: a aeronave não levantava voo sozinha.

Avião que só voa com impulso

O avião Flyer era uma máquina de 300 quilos equipada com um motor de 12 cavalos de potência. A conta não fecha: para que a aeronave saísse do chão, era preciso ventos a favor de pelo menos 40 km/h e a decolagem precisaria ocorrer de cima de uma colina, ou por meio de uma catapulta.

Este é o maior argumento contra a reivindicação dos norte-americanos sobre a criação dos aviões. Ainda que os registros sobre os voos anteriores a 1908 sejam extraoficiais, o principal problema desta tese é a de que uma nave incapaz de decolar por conta própria não poderia ser chamada de avião.

Por outro lado, quando apresentado em 1908, em Paris, o Flyer demonstrou ser uma nave com grande estabilidade no ar e melhor condição para manobras.

Santos Dumont: voo oficial e primeiro avião comercial

Sobre o primeiro registro oficial de um voo de avião, não resta dúvida: o dono da proeza foi o brasileiro Santos Dumont. Em 19 de outubro de 1906, ele fez o avião 14-Bis decolar a 3 metros acima do solo e planar por 60 metros nos Campos de Bagatelle de Paris, capital francesa.

O evento foi certificado pela Federação Aeronáutica Internacional e acompanhado por grande público, de aproximadamente mil pessoas. Ficou para a história o relato de alguns observadores que gritaram que finalmente “o homem conquistou o ar”. Pelo feito, ele recebeu o prêmio de 3 mil francos oferecido pela entidade.

Menos de um mês depois, em 12 de novembro, ele repetiu - e melhorou - a façanha: subiu o 14-Bis a 6 metros de altura e cruzou os ares por 220 metros. E sem qualquer ajuda de alavancas ou catapultas. A crítica que sua nave recebeu é a de que seu controle era absolutamente instável, sendo impossível fazer curvas no ar - os dois voos ocorreram em linha reta.

14-Bis primeiro, Demoiselle depois

Um dos requisitos da Federação era que o avião, para ser reconhecido como tal, teria que decolar e pousar com meios próprios. O 14-Bis foi, de fato, o primeiro a conseguir este feito: o avião pesava 290 quilos, tinha uma estrutura semelhante a pipas japonesas e arquitetura canard (uma novidade na qual o bico do avião fica à frente das asas fixas) e era equipado com um motor com 50 cavalos de potência e trem de pouso (uma novidade à época).

Mas a mais bem acabada criação aviária de Santos Dumont ocorreu depois. Em 1907, ele realizou a primeira exibição do Demoiselle (também conhecido como Libellule). Foram mais dois anos desenvolvendo a aeronave para que pudesse ser produzida de forma barata e em larga escala - este era o objetivo de Dumont, popularizar a aviação. O Demoiselle foi o primeiro avião comercial a ser produzido e pelo menos 40 unidades foram comercializadas.

Antes de tudo isso, o brasileiro já conquistara o céu de Paris uma vez. Em 1901, o Aeroclube da França realizou o Prêmio Deutsch, que acabou nas mãos de Dumont (o valor era uma fortuna: 50 mil francos). Seu mérito foi contornar a Torre Eiffel a bordo de um dirigível; o equipamento foi uma revolução graças a sua ideia de acoplar um motor de combustão interna movido a gasolina ao balão de hidrogênio. A ideia seria o start para o desenvolvimento dos aviões.

Clément Ader: máquina mais pesada que o ar

O francês Clément Ader tinha uma obsessão: colocar nos ares uma máquina que fosse mais pesada que o ar. Voar era seu sonho de infância e se tornou cientista exatamente para construir uma aeronave que pudesse vencer esse desafio. Chegou perto.

Em 1874, construiu seu primeiro planador, de 24 quilos, que poderia ter um motor acoplado a si - sua engenharia e aerodinâmica eram inspiradas na observação do voo de aves. Nunca voou de fato, mas foi o primeiro passo para sua obra prima: o avião.

Ader batizou sua mais importante criação de Ader Éole, uma homenagem a si e ao rei dos ventos da mitologia grega. Mas o que pegou foi seu apelido: avión, que se tornou o nome oficial desse tipo de nave. Em 9 de outubro de 1890, o “avión”, de 6,5 metros de comprimento e 14 metros de envergadura, conseguiu voar por 50 metros, mas sob a altura ínfima de 20 centímetros.

A realização de Ader nunca foi aceita como um voo de fato. Pode não ter sido o pioneiro a voar, mas teve a honra de criar o primeiro avião de todos.

Grandes invenções

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