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2 terremotos e erupção de vulcão no México: há relação entre os 3 eventos geológicos?

Publicado 20 Set 2017 – 06:19 PM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 02:16 PM EDT
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Em um intervalo de menos de pouco menos de duas semanas, o México viveu dois terríveis terremotos (um de 8.2 graus no golfo de Tehuantepec e outro de 7.1 graus nos estados de Morelos e Puebla) e viu também o princípio de erupção do vulcão Popocatépetl, localizado apenas a 90 km da Cidade do México.

Todos esses fenômenos geológicos têm origem nas movimentações das camadas sedimentares do solo. Mas há relação direta entre os três?

Um terremoto causa o outro? 

Pode acontecer

É possível que dois terremotos aconteçam em sequência. O Serviço Sismológico Nacional mexicano relata que apenas no dia 19 de setembro foram registrados 47 tremores de terra. Isso porque quando ocorre um tremor intenso, causado ou por embate de placas ou por deslizamento massivo de terra, ele tende a gerar instabilidade em todo seu entorno. Os especialistas chamam essas “ondas” de réplicas - o terremoto ocorrido no golfo de Tehuantepec, por exemplo, teve mais de 900 delas.

Quando essas réplicas chegam a rochas frágeis, podem gerar movimentações sísmicas intensas - ou seja, novos terremotos. Por outro lado, assim que essas réplicas dissipam, a tendência é que haja um período de “silêncio”, no qual novos abalos são raros, uma vez que as rochas se estabilizam novamente.

Mas provavelmente não foi o que ocorreu no México

Diretamente, é bastante improvável que os terremotos de 7 e 19 de setembro tenham relação. Segundo José Roberto Barbosa, operador técnico do Centro de Sismologia da USP, dada a distância de tempo (entre o primeiro e o segundo terremoto há um hiato de 11 dias) e de espaço (são aproximadamente 650 km entre o epicentro do dois tremores), esta não é uma hipótese provável.

“Nenhum órgão oficial mencionou relação direta entre eles até agora”, reforça. De acordo com as informações de geólogos e sismólogos que estudam os eventos, ambos foram motivados por falhas geológicas distintas e não como consequência direta de choque de placas tectônicas.

Causa mais provável

O México se localiza em uma área de instabilidade constante, resultado do encontro de quatro placas tectônicas: a das Caraíbas (a sudeste), a de Cocos (a sudoeste), a do Pacífico (a leste) e a Norte-Americana (no centro norte do país).

A posição do país o torna uma das regiões mais sismicamente ativas do planeta, provocando terremotos e vulcões. Mas bordas da placa do Pacífico, identifica-se o que se chama de “Círculo de Fogo”, que compreende além do México, a costa oeste dos Estados Unidos e da América do Sul, a região do Japão, do sudeste da Ásia e costa leste da Austrália e Nova Zelândia. Neste círculo, concentra-se 80% da atividade sísmica do planeta e centenas de vulcões.

A constante movimentação das quatro placas tectônicas gera atrito e choques entre elas, resultando sobretudo em abalos sísmicos e sobreposições. Os tremores são constantes: pode se registrar até 200 deles em 24 horas no país. E as sobreposições resultam em atividade vulcânica: a crosta que é empurrada para baixo derrete e sobre pressão para cima, buscando saída das falhas da crosta superficial.

Terremoto pode causar erupção de vulcão?

Sim, pode. Terremotos podem causar atividade vulcânica e vice-versa. No México, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, a acomodação das camadas rochosas derretidas sob a crosta superficial pode exercer pressão e motivar atividade sísmica - é a hipótese que defende a geóloga Nieves Sánchez Guitián, do Colégio Oficial de Geólogos, em entrevista ao site hispânico ABC.

José Roberto Barbosa explica que quando um vulcão está para entrar em erupção ele é em si o epicentro de um terremoto, que pode ser mais ou menos intenso. E, por outro lado, quando há rupturas nas falhas entre as camadas de rochas, o solo fica mais propício a erupção da lava vulcânica.

O vulcão Popocatépetl é bastante ativo. Apenas em 2017, entrou em erupção duas vezes, uma em janeiro e outra em julho, antes do atual evento. Nas três vezes que entrou em atividade, despejou apenas gases na atmosfera.

Até o momento, o Cenapred, órgão mexicano que faz a observação do vulcão, não admite oficialmente uma relação direta entre o tremor e a atividade do vulcão, mas o diretor do centro, Carlos Valdés, disse em entrevista ao jornal argentino La Nacion que os sismos podem ter adiantado o fenômeno, que já estava previsto. 

Então os três eventos têm a mesma origem?

Sim e não. Sim porque é a dança das placas tectônicas que provoca tais episódios geológicos. A posição do país entre placas ou na borda delas é perigosa não só porque é o epicentro de choques tectônicos de grande magnitude, mas também porque a instabilidade constantemente reverbera nas rochas sedimentares, tornando mais propícias a deslocamentos em suas falhas.

Mas também é impreciso dizer que os eventos são diretamente relacionados - por isso, também, a resposta é não. O deslizamento de uma falha geológica pode não ter absolutamente nada a ver com erupção de um vulcão, ainda que estejam próximos temporal e espacialmente. De acordo com a análise de um geólogo na revista especializada Nature, a causa do terremoto foi exatamente uma falha geológica.

“Há um acúmulo de abalos na região, na borda tem muitos tremores o tempo todo e essas tensões são liberadas quando ocorrem os terremotos”, explica José Roberto Barbosa, operador técnico do Centro de Sismologia da USP. “Mas dentro das placas os materiais geológicos são heterogêneos, há fissuras e trincas específicas que se formam ao longo do tempo. Essas tensões são liberadas de acordo com a especificidade de cada lugar”, conclui.

Terremotos pelo mundo

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