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Seiva de árvore brasileira veda hemorragia e é capaz de limpar gordura dos vasos

Publicado 5 Set 2017 – 12:09 PM EDT | Atualizado 15 Mar 2018 – 02:30 PM EDT
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O uso caseiro da planta bicuíba para estancar hemorragias e cicatrizar machucados na pele virou objeto de uma pesquisa científica que revelou um poder ainda maior da seiva que escorre do caule da árvore.

Ela tem capacidade de proteger pacientes de doenças do coração, por tirar as placas de gordura que se acumulam nos vasos arteriais.

Os pesquisadores constataram que o material retirado da árvore, comum em matas paulistas, mineiras, catarinenses e em regiões da Amazônia e Bahia, tem grande ação anti-inflamatória e antioxidante.

Se desenvolvido pela indústria farmacêutica, poderia até ser usado como tratamento preventivo de colesterol.

Definitivamente, o "sangue da bicuíba", como é chamada a substância avermelhada que surge com os pequenos cortes no caule, tem poder.

Uso de bicuíba: do tratamento caseiro à pesquisa

O estudo publicado no Journal of Ethnopharmacology por um grupo de professores e pesquisadores brasileiros comprovou que o sangue de bicuíba tem capacidade de dissolver placas de ateromas - que ficam dentro dos vasos sanguíneos - causadas por aumento do colesterol ruim, hipertensão arterial e outros problemas de saúde.

Acontece que, no início da investigação, os cientistas se basearam em um aspecto de conhecimento popular: a seiva da bicuíba já era usada pela população para cicatrização e ações anti-inflamatórias. 

"Soubemos que uma pessoa colocou a resina em uma hemorragia de um dente arrancado, e parou de sangrar. Também havíamos constatado em pesquisa da Universidade de Vila Velha que ela tinha ação antioxidante e anti-inflamatória", explica uma das autoras do estudo, a Mestre em Ciências Farmacêuticas Paola Nogueira Coutinho. 

A partir deste ponto, os cientistas resolveram pesquisar os possíveis efeitos positivos da bicuíba em tratamento de doenças vasculares. "Ela podia ter impacto positivo no tratamento da aterosclerose, que nada mais é do que a inflamação e a oxidação das proteínas de gordura".

Como foi feita a pesquisa?

Para comprovar a eficácia da bicuíba nestes casos, os pesquisadores usaram camundogos geneticamente modificados para terem hipercolesterolemia, ou seja, com um quadro de aumento da concentração de colesterol no sangue. 

Alimentados com uma dieta rica em gordura, os animais teriam, então, predisposição para o aparecimento das placas de ateroma - que, em humanos, surgem em obesos, fumantes ou pessoas que são sedentárias.

"Se essas pessoas têm tendência à hipercolesterolemia, os animais também teriam", destacou a pesquisadora.

Um grupo de camundongos foi tratado com o sangue de bicuíba, que passou por um processo de secagem na estufa, trituração, armazenagem na geladeira e, depois, diluição em água "para preservar os componentes da seiva". O outro não recebeu nenhum tratamento.

Após 4 semanas de experimento, os pesquisadores analisaram o sangue, a aorta e o fígado dos animais, este último para descobrir a quantidade de lipídios totais e oxidação lipídica e protéica.

Resultado: a bicuíba mostrou o poder de reduzir a quantidade de lípidios nos camundongos ateroscleróticos, "o que pode ser justificado, pelo menos em parte, por mecanismos antioxidantes sistêmicos e locais, reforçando o papel protetor dessa resina no contexto da deposição lipídica vascular, independente da hipercolesterolemia", conclui a pesquisa. 

Ação da seiva de bicuíba

De acordo com a pesquisadora Paola, este efeito se dá principalmente pela presença de flavonoides, que têm potencial antioxidante, anticarcinogênico e ainda protege os sistemas renal, cardiovascular e hepático, além da atuação do ácido gálico, pecetina e ácido ferúlico.

Remoção de placas de gordura dos vasos

Para os pesquisadores, a principal diferença entre a atuação da bicuíba e de outros tratamentos para colesterol disponíveis no mercado é que a planta não reduz o índice do colesterol em si, mas atinge diretamente as placas de gordura.

"Isso porque a placa cresce devido a um processo oxidativo que, então, evolui para o inflamatório", pontua a pesquisadora.

Se houvesse investimento de pesquisa em animais maiores e, depois, em humanos, Paola acredita que um medicamento de bicuíba poderia se tornar disponível no mercado farmacêutico em até oito anos.

"Mas, nós esperamos investimento. Estou parada com a pesquisa, aguardando uma bolsa de doutorado".

Pesquisas brasileiras: inovações e contribuições

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