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Como cuidados tomados pelos moradores de Búzios garantiram que baleia sobrevivesse?

Publicado 28 Ago 2017 – 04:31 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Depois que uma baleia jubarte foi encontrada encalhada numa praia de Búzios, litoral fluminense, a notícia rodou o Brasil. O final feliz dessa história teve participação fundamental do corpo de bombeiros da cidade, mas se deve, principalmente, ao mutirão de voluntários que manteve a baleia viva por quase 24 horas.

Por que ação em Búzios deu tão certo?

De acordo com Adriana Colosio, médica veterinária do programa de resgate do Projeto Baleia Jubarte, um centro de pesquisas referência no assunto, o resgate em Búzios deu tão certo porque se tratou de uma ação coordenada. 

"Quando a coisa não é coordenada, pode se tornar um risco para a baleia e para as pessoas. Esse tipo de voluntariado precisa ser feito com bastante prudência. Como a ação estava bem coordenada, deu tudo certo", disse. A ação foi coordenada pelo biólogo Joel Braga, da Scitech, consultoria responsável pelo monitoramento de praias da Petrobrás. 

Algumas atitudes feitas pela população são visivelmente adequadas, como manter o animal úmido e não simplesmente empurrá-lo para o mar, mas usar equipamentos para isso. Mas existem outros aspectos que merecem muito cuidado. 

Cuidados adequados com animais encalhados

Rapidez é fundamental

Assim que o animal foi avistado atolado na areia, as pessoas começaram a jogar água em sua pele. Algo que realmente ajudou a manter o adulto macho vivo, segundo Mariana Nery, professora do departamento de genética, evolução e bioagentes do instituto de biologia da Universidade de Campinas (Unicamp).

"No caso de um encalhe, quanto mais rápido o resgate inicia, maior a probabilidade do animal sobreviver", explica a professora. Pois no caso de baleias, vale o mesmo que para humanos: quanto antes iniciar o tratamento de uma doença, mais rápido há o diagnóstico e mais cuidados acontecem.

Manter animal úmido regula temperatura

Adriana Colosio explica que esse cuidado é importantíssimo não para que a baleia respire (coisa que ela faz fora da água, quando vem à superfície), mas para que seu organismo se mantenha dentro de uma temperatura ideal.

"A baleia tem mais de 10 centímetros de camada de gordura, então isso causa hipertermia, como chamamos a elevação excessiva da temperatura interna do animal", diz.

Dessa forma, manter o bicho úmido é necessário para a refrigerá-lo e controlar a temperatura.

Tendo essa preocupação em mente, em Búzios uma retroescavadeira foi usada para cavar um caminho na areia que canalizasse a água em direção ao corpo do animal.

Áreas específicas devem ser molhadas

Os principais pontos que precisam ser mantidos úmido são as nadadeiras peitorais e a nadadeira caudal, de acordo com a especialista do Instituto Baleia Jubarte.

Isso porque são áreas com bastante terminações nervosas que podem ser superaquecidas com mais velocidade. Além disso, um dano nessas áreas do corpo poderia prejudicar o resto da vida do animal mesmo se ele sobreviver ao encalhe, pois nadaria com dificuldades.

Proteção solar 

Outro cuidado importantíssimo no caso de resgate de baleias se refere ao sol, como confirmou Adriana Colosio.

"Em casos de encalhe de baleia viva, a primeira recomendação é sempre proteger ela do sol. A pele da jubarte é fina, e ficar exposta ao sol causa bolhas e queimaduras. Essa proteção pode acontecer com toalhas e lençóis", recomenda a especialista. Em casos de baleia filhotes menores, se possível até fazer uma cabana seria o ideal.

Cuidados com o corpo

"A chave é prevenir injúrias e manter o animal o mais confortável possível", ressaltou a professora da Unicamp. Ela exemplifica que evitar tocar nos olhos, narinas ou genitais de animais encalhados ajuda a mantê-los seguros e minimiza o estresse causado pela situação. 

É ideal evitar simplesmente empurrar o animal para o mar e, ao invés disso, usar os equipamentos adequados para levá-lo de volta ao mar. 

Porque a baleia encalhou em Búzios?

"As jubartes começam a chegar em junho e julho nas áreas de reprodução", explicou Mariana Nery. "Então, certamente muitas jubartes são e serão vistas em todo litoral do Brasil e eventualmente podem encalhar. Elas provavelmente estão se dirigindo à costa do Nordeste ou Abrolhos".

Partindo da Antártida, o ponto de encontro das jubartes é na região de Abrolhos, na Bahia. Praticamente todo o litoral brasileiro está na rota desses animais e, por isso, já foram registrados 67 encalhes de jubartes no Brasil somente em 2017, segundo o Instituto Baleia Jubarte.

Encalhes naturais ou com ação de humanos

Existem dois tipos de encalhe de animais: motivos naturais, por exemplo quando um filhote se perde, o animal está doente ou mais velho ou simplesmente fica desorientado e perdido. Acontece também por disputas entre machos e um deles fica debilitado.

A outra causa comum é de "origem antrópica", como disse Adriana Colosio. É quando o animal se enrosca numa rede ou se choca com embarcação e fica desorientado, por exemplo.

Ao que tudo indica, a baleia de Búzios era um adulto de 13 metros e 28 toneladas. Aparentemente, ele estava saudável, então deve ter vindo a encalhar por causas naturais, como desorientação.

Baleia mundial

Ser muito vista e conhecida no Brasil não torna a baleia um animal nacional, embora encante e impressione a todos nós. "Existem jubartes em todos os oceanos do mundo, é uma espécie cosmopolita", disse a professora Nery.

Ela aponta que o litoral brasileiro é um lugar de preferência aos animais porque, além de procriarem por aqui, essas baleias também criam seus filhotes no nosso litoral.

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