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Como o intestino determina comportamento e até com quem nos relacionamos?

Publicado 3 Jul 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Você certamente já ouviu falar da serotonina. A substância é conhecida por muitos como “hormônio da felicidade” e é relacionada às sensações e comportamentos de prazer, humor, consciência e até com a sexualidade. A serotonina é, na verdade, um neurotransmissor e, como tal, age no cérebro. A surpresa é que até 90% dela é produzida no trato digestivo, ou seja, quem a fabrica de fato é o intestino.

Hormônio do bem-estar produzido no intestino

Parece estranho - e realmente é estranho até para os cientistas -, mas a serotonina que funciona para regular bem-estar e comportamento no cérebro é fabricada no mesmo local que os dejetos. A substância é produzida a partir das células de enterocromafim, que têm o intestino como habitat natural.

A descoberta é recente. Um trabalho realizado pela Universidade Caltech, publicado na revista Cell em 2015, constatou a enorme quantidade do neurotransmissor no intestino. Na verdade, foi além: os cientistas garantem que são as bactérias da microbiota intestinal as responsáveis pela regulação da serotonina no sangue - onde ela é transmitida até chegar ao cérebro.

Isso significa que as condições que as bactérias impõem em nosso corpo são ainda maiores do que o imaginado. E qual o limite da influência delas em nós? “Os metabólitos produzidos pelas bactérias do intestino conversam com o nosso corpo, inclusive com o sistema nervoso”, responde Natalia Pasternak, pesquisadora do departamento de bacteriologia molecular do ICB-USP. “Veja, não queremos dizer que literalmente elas controlam nosso pensamento, mas que podem afetar o comportamento”, conclui.

Como as bactérias do intestino afetam nosso comportamento

A pesquisa feita pelos norte-americanos investigou quais são as enzimas responsáveis pela produção da serotonina no intestino de camundongos. Notaram que os ratinhos testados que viviam livres de bactérias apresentavam problemas na regulagem da enzima mais importante. Quando receberam a enzima em questão, o nível de serotonina voltou ao normal.

Outros roedores foram tratados com antibióticos. Quando apresentados ao remédio que mata as bactérias do corpo, o nível de serotonina apresentou queda. A conclusão do estudo foi de que são as bactérias do intestino as responsáveis pela produção da enzima THP1, que é a fundamental para produção da serotonina.

“A serotonina é um neurotransmissor que afeta nosso humor, apetite, atividade sexual, sono, regulação de temperatura, motilidade intestinal, ansiedade, depressão, sistema endócrino e até funções cardiovasculares, como produção de plaquetas. Ficou mais conhecida quando foi descoberta sua relação com doenças psiquiátricas como depressão e transtornos de ansiedade”, explica a bióloga da USP.

“Sem essas bactérias no intestino, nossa produção de serotonina diminui, e podemos experimentar os efeitos dessa carência com problemas psiquiátricos, cardíacos e endócrinos”, afirma o texto assinado pelos cientistas.

Bactérias podem interferir até no amor

É possível que você se sinta atraído ou atraída por alguém que tenha as mesmas bactérias que vivem em seu organismo. O amor, quem diria, não é fruto do coração, mas do intestino. Na verdade, essa hipótese ainda é embrionária, mas um estudo sugere que ela faz sentido.

A Universidade de Harvard realizou um experimento com moscas e ficou provado que, pelo menos nestes insetos, a microbiota é fator determinante para o cruzamento sexual. No estudo, diversas moscas da espécie drosophila melanogaster foram divididas em dois grupos, um alimentado com maltose e outro alimentado com amido.

Logo após uma geração, notou-se que as moscas do amido passaram a cruzar com as moscas do amido; e o mesmo ocorreu com as moscas alimentadas com maltose. Isso se repetiu por 37 gerações. Então, foram aplicados antibióticos nas moscas, exterminando suas bactérias: depois disso, a distinção entre os dois grupos acabou.

“Os dados analíticos sugerem que as bactérias podem influenciar a preferência de acasalamento ao mudar os níveis de feromônios sexuais”, descreve o artigo.

O intestino e sua saúde

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