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Qual é a origem da Igreja Católica? Rachas, perseguição e outras polêmicas fazem parte

Publicado 8 Mai 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:11 AM EDT
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A Igreja Católica Apostólica Romana é uma das instituições mais antigas, mais conhecidas e com mais seguidores ao redor do mundo. De acordo com o Escritório Central de Estatística do Vaticano, o número de católicos em todo planeta era de 1,27 bilhão ao final de 2014, o que representa 17,8% da população mundial.

Na história oficial da própria igreja, sua fundação se dá após o dia de Pentecostes (quando o Espírito Santo "desceu" sobre os apóstolos, 50 dias após a Páscoa) do ano em que Jesus Cristo morreu na cruz. A partir daí, na tradição católica, missionários viajaram o mundo para espalhar a mensagem de Jesus e Pedro teria se estabelecido como primeiro Papa. Mas a Igreja Católica viria a se estruturar apenas alguns séculos depois.

Quem foi o primeiro Papa? Há duas versões

Na tradição católica, Simão, discípulo de Jesus, recebe do próprio profeta um novo nome e uma missão. Passa a chamar-se Pedro, pois seria ele a rocha que fundamentaria a igreja dos verdadeiros seguidores de Cristo. Seria, portanto, Pedro o primeiro Papa.

Para Andre Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor do livro Jesus Histórico, uma Brevíssima História, esta versão seria apenas uma tradição, e não a versão histórica mais precisa.

“No Evangelho Segundo Mateus, Jesus conversa com Pedro. Essa narrativa diz que Pedro como sendo a pedra fundamental para erguer a Igreja, mas não diz que é a Igreja Apostólica Romana”, informa. “É interpretação posterior que conecta a igreja a ela”.

No registro histórico do catolicismo, Pedro foi o mais longevo de todos os Papas, ocupando o cargo durante 37 anos. Ele e Paulo teriam fundado a Igreja Católica em Roma, cidade onde ambos morreram, estabelecendo a tradição de que o líder de toda igreja seria o Bispo de Roma.

Primeira igreja construída

O termo católico é derivado do grego e significa um conceito semelhante ao que entendemos como “universal”. Ou seja, se designa como a igreja que tem a mensagem universal para todos os homens na Terra.

No começo do exercício dessa fé universalizada, não havia igrejas físicas, mas assembleias onde a palavra sagrada era debatida. A centralidade da igreja seria estabelecida somente a partir do terceiro século depois de Cristo.

O registro da primeira igreja física encontrada por arqueólogos se localiza na cidade de Dura Europos, na Síria, datada de meados do século 3. “Há relatos de casas, mas igrejas propriamente ditas, a primeira é essa”, afirma o historiador da UFRJ.

Como surgiram os escritos da religião?

Os primeiros textos que compõem o Novo Testamento bíblico são as cartas de Paulo, escritas entre dez e vinte anos após a morte de Jesus Cristo. Os evangelhos e outras passagens foram mantidos na tradição oral até serem escritos, a partir do ano 120 d.C.

Várias versões de Jesus

Diversas comunidades apresentavam diferentes versões de histórias acerca de Jesus. Foi somente em 180 d.C. que houve um primeiro movimento para dar unidade a estes textos. O teólogo Irineu de Lyon publicou a obra Contra Heresias e definiu os textos sagrados, conferindo a autoria dos quatro evangelhos aceitos a Mateus, Marcos, Lucas e João.

Em paralelo, desenvolveu-se o que se chama a teologia patrística, que é o conjunto de teorias estabelecido pelos fundadores da Igreja Católica, os primeiros padres da igreja. São considerados pais do catolicismo, todos do primeiro século: Clemente de Roma (escreveu a primeira carta cristã fora do Novo Testamento e foi o quarto Papa), Inácio de Antioquia (escreveu cartas cristãs e teria sido ordenado por Pedro) e Policarpo de Esmirna (morreu como mártir defendendo o cristianismo).

Revolucionária, religião católica já foi perseguida

Durante três séculos, a mensagem atribuída a Jesus foi perseguida pelo Império Romano, cuja religião era predominantemente politeísta. Durante este primeiro momento do cristianismo, a fé cristã circulava principalmente nas comunidades adjacentes a Nazaré, cidade natal de Cristo, no Oriente Médio.

Para Chevitarese, três elementos foram determinantes para a disseminação da palavra de uma liderança campesina, que fez fama em uma região periférica do Império: a ideia de que há uma Justiça de Deus, em oposição ao sistema jurídico do regime; a comensalidade, ou seja, a promessa e a multiplicação de comida, em contraste à fome generalizada entre o povo; e a proposta de resistência pacífica, uma resposta ao governo bélico de César.

Mas depois se uniu ao Estado

Os séculos 3 e 4 registram a virada do cristianismo de religião perseguida pelo Império para ser a religião oficial do Império. A mensagem de Cristo se popularizou entre as camadas mais pobres e penetrou, inclusive, entre membros do Estado romano.

“Neste período, a crença cristã já tinha forte representatividade e a elite romana aceitou incorporá-la. As tensões foram negociadas entre a ortodoxia da Igreja Católica e o Império - alguns grupos cristãos não toparam e passaram a ser perseguidos”, explica Chevitarese. “Formou-se uma simbiose entre Igreja e Estado. Aquele reino de Deus isonômico das origens do cristianismo havia acabado”.

Édito de Milão

No ano de 313 d.C., o Império Romano oficialmente declarou neutralidade em relação ao exercício da fé de seus cidadãos. O então imperador Constantino interrompeu, enfim, a perseguição aos cristão da época.

Primeiro Concílio de Niceia

Pouco depois, no ano de 325 d.C., os bispos da Igreja Católica foram reunidos pelo próprio imperador Constantino na cidade de Niceia, região que hoje faz parte da Turquia, para buscar com consenso na fé cristã.

Édito de Tessalônica

No dia 27 de fevereiro de 380 d.C. o então imperador romano Teodósio I decreta que o cristianismo é a única e exclusiva religião do Império Romano. O evento ficou conhecido como “Da Fé Católica” e aboliu práticas politeístas e fechou templos pagãos.

Grandes rachas na Igreja Católica

Até o ano de 1054, a unidade entre toda a Igreja e todo o Império se manteve. Neste ano ocorreu o que se conhece como Cisma do Oriente, um racha entre a tradição latina do cristianismo (que agrupa países como França, Itália, Alemanha e Península Ibérica) e a tradição grega do cristianismo (Grécia, Rússia, Turquia e Oriente Médio).

“Até os séculos 10 e 11 há multiplicidades de experiências cristãs em mundos que falam línguas diferentes, mas as diferenças sobre o que seria o cristianismo de verdade chegou ao limite”,  explica o historiador.

No século 16, um segundo grande racha surge na fé cristã. Em 1517, o monge e teólogo Martinho Lutero publica a 95 Teses com o objetivo de propor uma reforma contra o dogmatismo católico. A Reforma Protestante teve sua gênese na Alemanha e rapidamente se espalhou pela Europa, dando origem ao Calvinismo na França e ao Anglicanismo no Reino Unido.

Igreja e história

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