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Cataratas do Iguaçu surgiram da união de lava e água: detalhes do acidente geológico

Publicado 4 Mai 2017 – 06:02 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:13 AM EDT
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A paisagem é inesquecível para quem vê ao vivo: do alto do salto Garganta del Diablo, são 80 metros de queda livre da água que vem do rio Iguaçu, seguindo o trajeto em direção à foz, no rio Paraná. O espetáculo das águas é igualmente belo nos períodos de cheia (quando a vazão do rio chega a 8.500 m³/s) e de seca (cerca de apenas 500 m³/s).

A palavra iguaçu, inclusive, significa “água grande“ na etimologia tupi-guarani - e não é à toa. A largura do rio chega até a 2.780 metros e , na precipitação das Cataratas, chega a se estreitar em um canal de 65 metros. Para o interesse turístico, são 19 saltos principais, cinco no Brasil e 14 na Argentina.

Para formar este cenário, uma das Sete Maravilhas da Natureza, dois elementos foram fundamentais: lava vulcânica e as águas do rio Paraná. É resultado de um processo iniciado há 130 milhões, cujo último acidente geológico a dar forma às queda-d’água se deu apenas 200 mil anos atrás.

Vulcanismo: como a lava desenhou a paisagem

Tudo começou na separação dos continentes. Entre 130 e 120 milhões de anos atrás o grande continente Pangea começou a se dividir. Na porção sul, chamada de Gondwana, estavam América do Sul, África, Antártida, Índia e Austrália até começar a dança das placas tectônicas.

Entre Brasil e África havia o enorme Deserto de Botucatu, onde a ruptura continental se deu. “Quando houve a separação, a placa rachou de sul para o norte, partindo da Argentina”, explica o geólogo pesquisador da Mineropar Gil Francisco Piekarz.

Neste evento, o racha provocado na então porção continental fez emergir uma quantidade gigantesca de vulcões ejetando lava sobre a superfície. Gil Piekarz explica que toda região conhecida como Serra Geral tem solo de rochas magmáticas tipo basáltica - isto representa oeste de Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, um trecho do Mato Grosso do Sul e porções de Argentina, Paraguai e Uruguai.

“É gigante, pega tudo aquilo que entendemos como terra roxa”, explica. O resultado deste vulcanismo cobre uma superfície de 1.200.000 km², chegando a ter 1.500 metros de espessura, com superposição de mais de 50 camadas de derrame de lava.

Por conta deste tipo de sedimentação de rochas magmáticas basálticas que é possível se formarem as Cataratas do Iguaçu: é um tipo rochoso pouco viscoso e muito fissural, ou seja, ao escorrer forma colunas verticais, como tábuas. As Cataratas, enfim, se formaram em três degraus de derrames de lava de basalto:

Porção superior

Extensiva presença de estruturas de fraturamento na rocha. Quando se formou, os gases da lava subiram, formando bolhas e espaços vazios na rocha. Como está mais exposta à atmosfera, fica mais avermelhada pela oxidação de minerais.

Porção central

Apresenta rochas mais compactas, cujo nome técnico é basalto maciço. Isto ocorreu por conta de seu resfriamento, mais lento que as demais rochas e, com este tipo de solidificação, se apresenta em rochas de colunas verticais.

Porção basal

Parte mais baixa, tem contato direto com a superfície de fluxo. Resfriou-se, portanto, de maneira mais rápida e apresenta uma intenso fraturamento rochoso em forma horizontal - quem faz o passeio Macuco Safári consegue ver no embarque para a lancha.

Rio Paraná provocou a queda-d’água

Os rios da Bacia do Paraná em toda a América do Sul correm para dentro do continente. O que motiva esse fluxo incomum dos rios sul-americanos é uma leve curvatura de nossas terras continentais.

“Quando a placa tectônica da América do Sul foi para o oeste, houve uma colisão com a placa de Nazca, evento que formou a Cordilheira dos Andes”, explica Piekarz. “Do outro lado, o continente levantou um pouco, foram três graus para oeste. Então todos os rios começaram a correr para dentro do continente, que estava mais baixo”.

Ao longo de milhões de anos, os rios seguiram seus cursos para dentro do continente. O rio Paraná, recebendo muita água de seus afluentes, ganhou força. Na verdade, até três a quatro milhões de anos atrás, eram dois “rios Paraná”, que corriam paralelos. Ao aumentarem sua vazão se uniram.

“Chamamos isso de erosão remontante. O rio corre seu caminho e vai erodindo suas margens. Neste caso, o rio que corria para o sul capturou o que corria para o norte”, relata o geólogo. 

O rio Paraná, então, aumentou seu poder de erosão remontante e seguiu erodindo todo seu trajeto até que seu leito ficou muito mais baixo que o do rio Itaipu - cuja nascente está a 910 km, na Serra do Mar, e desce também muito forte.

“A água do rio Paraná escavou e formou um degrau, que assim foi se formando o salto”, completa Piekarz. Até 1,5 milhão de anos atrás, a foz do rio Iguaçu era exatamente no rio Paraná. Hoje, com a erosão, estão separados por um cânion de 21 quilômetros, onde estãi localizadas as Cataratas.

E a tendência é crescer: a velocidade de erosão dos saltos das Cataratas do Iguaçu ainda hoje variam de 1,4 cm/ano a 2,1 cm/ano.

É imperceptível aos olhos, mas pouco a pouco o espetáculo de Foz fica um pouco mais profundo.

Natureza do Brasil

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