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Como se formam as enormes dunas dos Lençóis Maranhenses?

Publicado 2 Mai 2017 – 02:12 PM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 10:17 AM EDT
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Não basta serem um dos mais belos cartões-postais do Brasil, os Lençóis Maranhenses compõem o maior campo de dunas costeiro do mundo em região não desértica. Eles ocupam mais de 1000 quilômetros quadrados no litoral do Maranhão, área equivalente a cerca de 140 mil campos de futebol.

O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é a instituição que toma conta do campo de dunas. O parque está localizado entre as cidades de Barreirinhas, Santo Amaro e Primeira Cruz, que são as bases para o turismo local.

Como se formaram os Lençóis Maranhenses?

É preciso um alinhamento preciso de vento, sedimentos, temperatura e pluviosidade para que exista uma paisagem como Lençóis Maranhenses. Para nossa sorte, isso se deu no Brasil.

Em entrevista ao Vix, o professor Paulo César Giannini, do Instituto de Geociências da USP, apresentou a conclusão dos estudos do departamento de Geociências da USP quanto à formação geológica dos Lençóis.

São quatro principais elementos que determinaram a composição da região:

Sentido do depósito de sedimentos

Existe uma espécie de rio submerso no oceano. A corrente desse rio leva as ondas que banham a costa da região Nordeste do Brasil de leste para oeste.

Consequentemente, as ondas transportam sedimentos da costa do mar (como, por exemplo, uma quantidade gigante de areia) no sentido leste-oeste.

Areia vai, areia fica

Parte da areia fica retida em praias ao longo da costa, onde alimenta campos de dunas menores (no Ceará e no Piauí, por exemplo). A maior parte desse sedimento segue até ser barrada na baía de São José, no Maranhão. Esse tanto de areia se acumula em terra firme, ficando livre para ser movida pelo vento.

Influência da maré

A quantidade de areia disponível ao vento é proporcional à amplitude das marés. Ou seja, quanto mais baixa a maré, mais areia livre na superfície. A maré cresce em amplitude mais ao oeste do que ao leste da costa nordestina. Isso favorece a maior concentração de areia disponível ao vento perto dos Lençóis.

Composição da areia

O tipo de sedimento dos Lençóis Maranhenses é de areias eólicas formadas predominantemente por quartzo, mais de 95%, com proporção muito baixa de grãos carbonáticos – resíduos de organismos como moluscos, corais e algas. Esse tipo de areia baseada em quartzo dificilmente se enrijece, permitindo portanto ao vento mover sua posição sobre o solo continental.

Lençóis Maranhenses: diferente de outros campos de dunas

Em geral, os sistemas de campos de dunas eólicos costeiros são diferentes de Lençóis. Eles são, via de regra, divididos em três partes:

  • Há praia com estoque de areia, de frente para o mar - é chamado de praia-duna;
  • Entre a praia-duna e o campo de dunas de fato, forma-se uma zona de erosão, que é uma planície onde geralmente se forma vegetação;
  • Na parte mais interna do continente, se localiza o campo de dunas, já sem vegetação - o nome técnico para ele é estoque final.

A formação dos Lençóis Maranhenses é única neste sentido. Pelas características singulares de vento, corrente marinha e formação sedimentar, a praia-duna e o estoque final estão juntos, sem nenhuma faixa de vegetação. “É um caso raro, quase único no Brasil, de sistema eólico saturado de areia”, completa Gianinni.

Por que a paisagem é móvel?

O vento é a música que faz as areias dançarem. A paisagem de Lençóis Maranhenses nunca é a mesma: lagoas se formam na cheia, minguam na seca e as dunas mudam seus formatos a cada sopro da natureza. O professor Paulo César Giannini explica que isso só é possível pelo tipo de areia que compõe a região.

“Os grãos carbonáticos têm a característica particular de se grudarem rapidamente [em termos geológicos, ou seja, em décadas ou séculos] uns com nos outros. Este fenômeno dificulta o transporte pelo vento e até endurece as dunas”, esclarece. “A leste do Rio Parnaíba, na costa do Maranhão, esse tipo de grão é bem mais raro. A areia, então, é incoesa e livre para ser retrabalhada pelo vento”.

Formação das lagoas

Embora seja uma longa extensão de areia, os Lençóis Maranhenses não são um deserto. Os especialistas tratam como deserto somente regiões com total indisponibilidade de água. E Lençóis, pelo contrário, tem índices de precipitação pluvial altos.

Na região, a precipitação média anual registrada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) é estável em torno de 1600 mm, em Barreirinhas – 100 mm a mais que em São Paulo, por exemplo. “Isto é mais que o dobro do valor máximo admitido por regiões semiáridas, que é de 600 mm/ano”, afirma o pesquisador. Em desertos, os valores mais altos não passam de 200 mm/ano.

Isto explica a formação das enormes lagoas que formam a paisagem dos Lençóis do Maranhão. As maiores podem chegar a 5 metros de profundidade na época de cheia: mais de 85% de toda a chuva que vai por lá se precipita no primeiro semestre. Ou seja, o que se vê é mais lagoas e dunas menos móveis.

Entre julho e dezembro, a região tem clima bastante árido, similar ao desértico: ao longo de seis meses, chove menos de 170 mm. Durante este período do ano, a areia mantém-se maior parte do tempo seca e solta, e as lagoas minguam.

Há quanto tempo os lençóis estão lá?

Os campos como Lençóis Maranhenses são formados por dois tipos de dunas: ativas e inativas. As inativas são a estrutura primordial deste tipo de formação e geralmente não não percebidas, pois são tão antigas que já estão cobertas por vegetação.

Bem maiores que as dunas ativas, elas ocupam mais de 13 vezes o espaço, têm cortes de até 40 metros de espessuras e idade geológica superior a 200 mil anos.

Contudo, a parte que é visível para nós, a areia que ocorre na superfície do terreno, é bem mais jovem: varia entre 16 mil e 18 mil anos.

“Sobre Lençóis Maranhenses, não sabemos seguramente a idade do início do campo de dunas atual, que é aquela parte branca nas imagens de satélite. Mas podemos estimar que ele tenha entre 5 e 7 mil anos, talvez até mais”, releva Gianinni.

Embora tenha tantos anos de vida, os Lençóis são considerados um campo de dunas jovem e em desenvolvimento: em critérios morfológicos, ele tem maturidade menor que um campo de 2 mil anos.

Lençóis Maranhenses: a paisagem pode acabar?

Pelo contrário, as dunas do Maranhão tendem a sobreviver às mudanças climáticas e até se expandirem. Paulo César Gianinni explica que a região Nordeste, de acordo com as medições recentes, estaria ficando mais secas e ventosas, o que acelera o avanço das dunas, exceto para áreas já urbanizadas, como os arredores de Fortaleza.

E por suas próprias características, Lençóis Maranhenses deve sobreviver por mais tempo, em relação a outros campos de dunas menores. “Quanto maior o volume de areia e a concentração de areia por área, mais lento é o processo de perturbação por força de questões climáticas”.

Podemos ficar tranquilos: a beleza estará lá por anos. Agora, só decidir quando visitar.

Natureza do Brasil

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