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Chuvas torrenciais e muito calor: o que determina o clima das grandes cidades?

Publicado 12 Abr 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Mais quente, mais seco e menos previsível. Assim são as metrópoles brasileiras se comparadas com o seu clima original - mas não é só aqui que isto acontece. É regra entre as maiores concentrações urbanas do mundo: todas as grandes cidades têm seu clima desregulado. Isto é resultado, sobretudo, da substituição de vegetação nativa por concreto e asfalto.

Grandes cidades são ilhas de calor

Não importa em qual região do Brasil você viva, se você mora em algum aglomerado urbano está passando mais calor do que deveria. As metrópoles brasileiras estão todas entre 4 e 5 graus Celsius acima da temperatura natural de seu bioma, informa Andrea Souza Santos, pesquisadora pelo COPPE/UFRJ e Secretária Executiva do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Concreto: o maior vilão

O principal vilão do aquecimento urbano já está identificado: é o concreto. “O cimento [base do concreto] é um problema desde sua produção, que emite muitos gases que aumentam o efeito estufa. Pela sua composição, é também um material que absorve bastante o calor e mantém o microclima mais quente”, explica Andrea Santos.

Além do concreto, o asfalto e o alto consumo de energia também estão na lista negra do impacto climático das grandes cidades. O consumo de energia, sobretudo quando utilizada no transporte urbano, produz muito calor com a emissão de gases na atmosfera.

Água da chuva não é absorvida

No caso dos materiais de infraestrutura, além de reterem calor, eles têm baixa capacidade de absorção da água das chuvas. Ou seja, sem vegetação, a água pluvial não volta para a atmosfera e a umidade do ar fica comprometida. “Não tem equilíbrio hídrico. A chuva não é absorvida e o clima fica mais seco”, analisa Andrea.

E isto gera dois impactos mais perceptíveis. Um deles são as enchentes, uma vez que o solo não consegue escoar o volume de água com a mesma velocidade que um solo permeável faria.  E o outro, por incrível que pareça, é a falta de água em condições de uso. “Ocorre o que chamamos de intrusão salina, ou seja, quando a água salobra se mistura com a água de uso e contamina as estações de abastecimento”, esclarece a pesquisadora.

Faltam árvores

Há muito pouco planejamento no crescimento das cidades brasileiras. Os centros urbanos têm por característica a presença de muito asfalto e concreto e, ao crescerem de maneira desordenada, as cidades continuamente perdem vegetação nos subúrbios e periferias. Assim, o ar quente que se forma nos núcleos das cidades não encontra onde escoar seu calor.

“A arborização contribui de duas formas. Uma pelo sombreamento, que evita que o solo receba energia direta do sol. Outra é a evapotranspiração, que é a forma como as árvores reciclam para atmosfera parte da água absorvida”, explica Andrea.

Tempestades torrenciais

Além de afetar a temperatura e a umidade, a substituição de vegetação por materiais de construção civil influencia na intensidade das chuvas.

Não se pode dizer que o microclima urbano determina o movimento das grandes frentes de vapor de água, como os rios aéreos da Amazônia ou as frentes frias oceânicas. Contudo, este hiperaquecimento localizado faz uma grande quantidade de ar quente subir e, se as condições gerais forem favoráveis, provocarem chuvas mais intensas. “É possível afirmar que os grandes centros urbanos tem um maior potencial de tempestades torrenciais do que áreas mais arborizadas”, conclui a pesquisadora.

Um estudo da Escola Politécnica Federal de Lausana sobre um experimento realizado em Basel, na Suíça, concluiu que os efeitos do microclima urbano vão além da cidade em si. Segundo a publicação, as metrópoles impactam a velocidade e a direção dos ventos, e ao interagirem com as massas de ar, as grandes construções podem até gerar turbulência no trajeto das correntes. Essa turbulência reverbera na atmosfera afetando todo seu contorno.

O que podemos fazer?

Parte da arquitetura contemporânea está dedicada a tornar o uso de materiais mais eficiente. A ideia é adequar o espaço urbano para os materiais corretos e planejar o melhor aproveitamento do ciclo do sol e do fluxo dos ventos.

“Vidro, por exemplo, é um material que não funciona bem no Brasil. Ele aquece muito e bloqueia a circulação do vento, e causa um efeito colateral: o consumo ostensivo de ar-condicionado”, informa Andrea. Em Londres, no verão inglês de 2013, o uso do vidro em construções causou estrago: um arranha-céu refletiu as luzes do sol com tanta intensidade que derreteu a lataria de um Jaguar.

De acordo com o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, é preciso agir em duas frentes para melhorar o clima das cidades: aumentar a vegetação urbana e valorizar esta tendência de materiais e técnicas corretos ecologicamente, como pisos com mais porosidade.

A cidade e o clima

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