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Exame ginecológico em consulta é desnecessário, dizem especialistas; veja prós e contras de fazer

Publicado 6 Jul 2016 – 08:30 PM EDT | Atualizado 14 Mar 2018 – 09:30 AM EDT
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Quando vamos ao consultório do ginecologista, já esperamos que, em dado momento, vestiremos uma camisola e deitaremos em uma maca com as pernas aberta e para o alto. Muitas mulheres ficam aflitas com esse momento; outras, em contraponto, ficam aliviadas por terem a saúde íntima avaliada por um médico. Porém, realizar ou não esse procedimento não é uma questão que divide apenas asmulheres: os especialistas também têm dúvida sobre a real necessidade de fazê-lo.

Exame ginecológico em consulta é mesmo necessário? 

Um grupo de especialistas intitulado U.S. Preventive Services Task Force (Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos), que trabalha junto ao governo norte-americano, publicou recentemente um parecer sobre a necessidade dos exames especular(observação da área íntima com introdução do espéculo) e de toque (ou palpação), feitos no consultório ginecológico.

Depois de avaliar o material científico disponível sobre esses procedimentos, eles chegaram à conclusão de que não há, atualmente, evidência suficiente para afirmar que os benefícios se sobrepõem aos riscos, e vice-versa, em mulheres com mais de 18 anos que não estejam grávidas ou não tenham nenhum sintoma.

Benefícios do exame ginecológico no consultório 

Consultado pelo Bolsa de Mulher, o ginecologista Jesus Paula Carvalho, que é membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e não faz parte da Task Force, explica que, em alguns casos, pode acontecer de a mulher ter uma infecção vaginal sem que haja sintomas. O HPV pode também não dar sinais nas suas etapas iniciais. Essas condições, no entanto, podem ser identificadas pelo exame ginecológico de rotina feito em consultório.

O exame especular, por exemplo, pode detectar verrugas, infecção por HPV, alterações anatômicas, presença de fungos e ouros micro-organismos. Se não detectados, esses acometimentos afetam a qualidade de vida da paciente e a colocam sob risco de doenças mais graves, como câncer.

Vale notar que, caso haja corrimento, coceira, cheiro forte, dor ou outros sintomas provenientes da região íntima, o exame ginecológico passa a ser mais necessário, afinal, essas são informações prévias de que há algo errado que precisa ser avaliado.

Riscos do exame ginecológico no consultório 

O ginecologista explica que o exame ginecológico não é agradável e pode ser pior ainda para mulheres que passaram por situações de abuso sexual, situação em que o toque íntimo pode evocar traumas e se tornar psicologicamente desgastante.

Além disso, ele conta que o exame especular e o de toque são muito questionados porque não se sabe qual é verdadeiro beneficio para a mulher. “O painel de especialistas concluiu que se a mulher não tiver queixas, ele não tem benefícios comprovados, o que, de certa forma, é verdade”.

Conclusão dos especialistas norte-americanos 

O Task Force estado-unidense não encontrou evidência suficiente de que o exame ginecológico é capaz de detectar diferentes acometimentos pélvicos ou mesmo melhorar a qualidade de vida da paciente e diminuir a mortalidade.

Por outro lado, o grupo também não encontrou evidência suficiente de que o procedimento pode trazer prejuízos. O único risco já apontado pelos estudos científicos, mas não comprovado, é a possibilidade de resultados falso-positivo ou falso-negativo para câncer de ovário. O grupo não avaliou nenhum estudo que graduasse o impacto psicológico e emocional do exame ginecológico no consultório nas mulheres. 

Como é um exame ginecológico? 

A insegurança de algumas mulheres em relação ao exame ginecológico se dá por conta da desinformação: muitas não sabem no que consiste a avaliação e temem sofrer algum tipo de abuso na consulta ou imaginam que sentirão dor.

Em primeiro lugar, será necessário que a paciente se despida e coloque um avental descartável. Ela se deitará na mesa ginecológica, com os pés ou coxas apoiados, as pernas bem abertas e o quadril elevado.

O ginecologista Jesus Paula Carvalho explica que, inicialmente, é feita a observação da genitália externa, seguida pelo exame especular e visualização do canal vaginal e do colo de útero. Para isso, é introduzido o espéculo – aparelho que afasta as paredes da vagina e permite melhor visualização do canal e colo do útero.

Depois disso, é realizado o exame de toque: o médico introduz o dedo na vagina e é capaz de palpar as estruturas internas e avaliar, por exemplo, o tamanho útero.

Existem outros exames que podem ser colhidos na sala de exame do consultório, como por exemplo, o Papanicolau. Nele, o médico colhe, com uma escova ou espátula, amostras do tecido superficial da região, que são enviadas para análise laboratorial. O exame não dói, mas pode causar desconforto leve ou aflição em algumas pacientes, devido à introdução do espéculo e raspagem.

Como já existem recomendações específicas para o Papanicolau, ele não foi incluído na avaliação do Task Force, bem como o teste para identificar HPV e os testes de amplificação de ácido nucleico, usados no diagnóstico de gonorreia e clamídia, por exemplo.

É também comum que o médico realize o exame de toque nas mamas para identificar nódulos.

Sou obrigada a fazer? 

O ginecologista Jesus Carvalho explica que realizar ou não o exame ginecológico no consultório é uma decisão que deve ser tomada em um acordo entre a paciente e o médico. “A opção de ir ou não para a sala de exames deve ser da paciente e tudo que será feito deve ser informado e explicado previamente”, afirma. “Por isso, não podemos dizer que ele deve ser feito em toda consulta, tampouco que ele não deve ser feito em nenhuma consulta”.

O exame não pode ser confundido com a consulta médica, imprescindível para prevenir e detectar doenças precocemente, nem com os exames em geral (de sangue, ultrassom, etc.) . O médico conta que, atualmente, temos outras maneiras de atestar o tamanho do útero e do ovário ou diagnosticar doenças silenciosas, com um exame de ultrassonografia por exemplo, que é mais acurado que o toque manual.

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