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"Bom dia, freguesa! Precisa de alguma coisa?" Com um sorriso largo e esbanjando simpatia, Lucia Lucena cumprimenta cada um que passa pela sua barraca em uma feira livre de São Paulo. Feirante há 19 dos seus 53 anos, ela cuida não só das abobrinhas e cheiros-verdes, mas também da Kombi que leva e traz as mercadorias da família.
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"Assumir o volante foi um acontecimento da vida. Meu marido sofreu um acidente em 2003 que o impediu de continuar guiando, então me vi obrigada a dirigir. Eu era habilitada, mas não dirigia. No começo sofria um pouco, os homens buzinavam, olhavam feio, mas hoje acho que isso não acontece mais", conta a feirante.
Para ela, aquelas piadinhas infames do tipo "Vai pilotar o fogão, dona Maria!", não colam mesmo. "Sou péssima na cozinha e ótima no volante. Não me sinto menor do que os homens de jeito nenhum. Na verdade, acho que dirijo melhor do que a maioria deles", se diverte.
Mãe de cinco filhas, Lucia trabalha ao lado do marido e da irmã e tem uma rotina pra lá de puxada, que começa cedo e acaba tarde. "Acordo às 3h quase todos os dias e vou buscar os legumes e frutas no Ceasa ou no [Mercado Municipal da] Cantareira. Depois venho montar a feira, são cinco por semana, uma em cada lugar. Só vou dormir lá pelas dez da noite", afirma.
A melhor parte do trabalho, segundo Lucia, é o contato humano que ele proporciona. Nesse vai-e-vem diário, dá para trocar receitas, experiências e conselhos. "Às vezes o freguês está com um perrengue na vida e você dá uma palavra de conforto para ele. Isso melhora o dia da pessoa, é muito bom", conta.
Mas, como nem tudo são flores, a feira também tem o seu lado ruim: desmontar a barraca. "Depois de trabalhar o dia inteiro, ainda tem que desmontar a barraca e organizar tudo isso pra voltar pra casa. Vou te dizer que não é fácil", diz Lucia, sem perder o jogo de cintura.
Se no trânsito ela afirma que não tem problemas com a ala masculina, na feira a situação às vezes é diferente. Apesar de ser um ambiente misto, onde mulheres e homens dividem o espaço, o desrespeito e o machismo ainda aparecem. "Uma vez meu marido não pode trabalhar e uma das minhas filhas veio me ajudar. Um cara mexeu com ela, falou coisas que ele não diria se o meu marido estivesse junto. É uma coisa que me dói até hoje e foi só porque eu sou mulher", afirma. A boa notícia? Seja verbal ou física, violência contra a mulher é crime e pode ser denunciada no Ligue 180, canal gratuito, que funciona 24 horas, diariamente, ou no aplicativo Clique 180, disponível para sistema Android ou IOS.