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Após lição nos filhos, ela virou 'mãe mais malvada do mundo': muito rígida ou justa?

Publicado 1 Ago 2016 – 09:12 PM EDT | Atualizado 2 Abr 2018 – 09:32 AM EDT
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Recentemente, a escritora e publicitária Jaime Primak Sullivan fez um desabafo nas redes sociais sobre uma reação que teve a uma atitude tomada por seus três filhos. Irritada pela grosseria das crianças com a atendente de uma lanchonete, ela jogou o sorvete dos filhos fora e acabou ganhando o título de “mãe mais malvada de todos os tempos”.

Lição nos filhos

Em seu Facebook, Jaime contou que, depois que a atendente serviu sorvetes aos seus filhos – Olivia, Max e Charlie -, eles não disseram obrigado e sequer olharam para a moça: simplesmente ignoraram a presença dela. A atitude das crianças, além de deixá-la irritada, fez com que ela quisesse ensiná-los um comportamento diferente. Assim que saíram da lanchonete, ela jogou a sobremesa no lixo e, após muita gritaria, explicou o que havia acontecido de errado.

Tradução:

“Então eu sou a mãe mais malvada de todos os tempos...de todos os tempos.

Levei as crianças ao Dairy Queen [rede de lanchonetes]. Eles pediram suas sobremesas e esperamos mais ou menos 5 minutos até nosso pedido ficar pronto. A moça (que aparentava ter 17 anos) deu o sorvete a cada uma das crianças. Nenhuma delas olhou para ela nos olhos. Ninguém disse 'obrigado'. Nem para ela, nem para mim...Então eu esperei e contei até 10 na minha cabeça enquanto eles tomavam seus sorvetes e a atendente só olhava para mim (provavelmente ela pensou que eu estava ouvindo vozes) e eu vi meus filhos saindo pela porta. Eu segui eles, calmamente peguei seus sorvetes e joguei no lixo enquanto eles assistiam à cena horrorizados. Os três ficaram histéricos. Eu esperei. Queita. Calma. Quando eles perceberam que eu tinha algo a dizer, eles ficaram quietos.

Eu expliquei a eles que um dia, se eles tiverem sorte, eles teriam um emprego assim como aquela moça. E que eu espero que as pessoas os enxerguem nesses empregos. Enxerguem-nos de verdade. Olhe para eles nos olhos e digam obrigado. Nós somos velhos demais aos 8, 7 e 5 anos para passarmos nossos dias sem bons modos e o básico da decência humana.

Então hoje, eu sou a mãe mais malvada de todos os tempos”.

Birra de criança: como lidar com situações como essa? 

O que causa uma situação dessas 

A psicóloga Ana Café, diretora clínica do Núcleo Integrado, no Rio de Janeiro, explica que existem dois fatores que podem causar situações como essa.

Primeiramente, é preciso entender que o pai e a mãe têm de ser a autoridade para a criança e constantemente educar, ensinar regras e dar limites. Quando há uma falha em ensinar esses parâmetros diariamente, situação especialmente difícil no cenário atual, em que muitos pais e mães têm jornadas triplas, a criança acaba não internalizando conceitos como o respeito, por exemplo.

Seguindo essa lógica, não se trata de uma situação de falta de educação intencional, mas sim de uma falta de compreensão por parte da criança, portanto, tentar estabelecer regras do dia para a noite não vai funcionar.

Outra possibilidade é que, em situações em que os pais exerçam sua autoridade rotineiramente, a criança entra em uma espécie de disputa para descobrir quem é que manda na relação entre ela, o pai e a mãe à medida que percebe que não faz mais parte do outro, no caso, da mãe. Trata-se de um processo de individualização da criança, que vai crescendo e se sentindo autônoma, escolhendo, por exemplo, a que horas ela irá dormir.

Como agir diante dela 

Ana Café conta que existem três comportamentos possíveis: o passivo, que determina que a mãe ou o pai fique com a raiva internalizada, o agressivo, que como o próprio nome já diz, reflete um comportamento mais hostil, e o assertivo, que envolve agir de maneira mais adequada. “Nós temos diferentes caminhos viáveis, mas nem sempre estamos estruturados e preparados para sermos mais assertivos”.

Assertivamente, o ideal é interromper a situação problemática antes que ela chegue a um limite emocional. “Pare, não compre o sorvete e vá conversar, explicando por que a situação está errada”, recomenda a psicóloga. “É normal que os pais fiquem envergonhados com a birra dos filhos, não saibam como agir e acabem atendendo aquilo que a criança quer para depois tirar. Mas essa vergonha não precisa existir, as pessoas têm que entender que se está lidando com uma criança que ainda não tem assimiliadas as regras e os limites do convívio social”.

Vai traumatizar? 

A psicóloga Ana Café explica que atualmente há uma crença que “tudo vai traumatizar a criança”, mas que não é qualquer atitude, ainda mais se o objetivo é impôr um limite e educar, que vai ter esse desfecho.

“Ela não bateu nem agiu com violência, ela simplesmente retirou o produto que gerou a situação, provavelmente pensando: 'Se eu estou dando e nem assim eles me escutam e obedecem, então eles também não vão ter esse produto'”, explica a especialista.

Segundo ela, as pessoas tendem a culpar pais e mães muito facilmente por seus erros, mas se esquecem que, assim como seus filhos, eles também estão passando por um processo de aprendizagem, que é a maternidade e a paternidade. “Pode acontecer de perder o controle e não conseguir resolver a pirraça no diálogo”.

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