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Namoro de infância

Publicado 30 Jun 2016 – 08:15 PM EDT | Atualizado 20 Mar 2018 – 12:57 PM EDT
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Mamãe, estou namorando! Esta afirmação pode gerar um número infinito de reações dos pais, principalmente quando seu filho mal acabou de tirar as fraldas.

Estamos falando sobre o "namoro" de crianças, dos sentimentos envolvidos neste momento e da importância dos pais saberem lidar com a situação.

É fundamental saber que é absolutamente natural, a partir de determinada faixa etária, começar a reconhecer no outro algo especial, perceber maior afinidade com um colega e, desta forma, sentimentos de grande carinho e afeto começam a ser desenvolvidos.

Eis uma excelente oportunidade para ajudar seu filho a se conhecer cada vez melhor. A entender e valorizar seus sentimentos, assim como valorizar e respeitar o outro, ensaiando para a vida adulta


A criança pequena pode chamar a isso de namoro, pois tende a imitar e reproduzir o que observa no modo de vida de adulto. Em seu imaginário infantil, brinca de exercer vários papéis, tal como o de namorado(a). Quando transpõe o que observa para o seu mundo de criança, esta transposição fica sujeita a adaptações em função da compreensão e modo de operação e elaboração próprios de sua idade. Portanto, cabe ao adulto entender a partir do contexto da criança, não do seu.

Quando o filho pequeno chega com esta novidade em casa - contar que está namorando ou que está apaixonado por alguém - os pais tendem a entender o assunto a partir do seu contexto de adulto. Neste caso, das duas uma: ignoram, banalizando o sentimento do filho ou supervalorizam, estimulando a situação. É preciso cuidado para não fazer nem uma coisa nem outra!

Os pais precisam conter sua emoção, seja de indignação, seja de orgulho e entender que o assunto deve ser considerado a partir do contexto infantil, caso contrário, o "namoro" deixa de ser o que a criança pensa e entende e passa a ser o que os pais querem que seja.

À medida que se desenvolve e amadurece, a criança percebe que o outro é capaz de despertar sentimentos diversos nela própria, tais como raiva, amizade, inveja, admiração e também interesse, carinho e afeto. O que há por trás do "namoro" é justamente o sentimento que a criança reconhece que o outro desencadeia nela. Eis uma excelente oportunidade para ajudar seu filho a se conhecer cada vez melhor. A entender e valorizar seus sentimentos, assim como valorizar e respeitar o outro, ensaiando para a vida adulta.

Se é natural, então por que alguns pais se preocupam tanto?

Por um lado, percebemos pais que desvalorizam ou ignoram o sentimento de amor e afeto que o filho expressa por um colega, argumentando que o mesmo não tem idade para namorar, que não sabe o que é gostar de alguém ou ainda que nesta idade só deve preocupar-se com os estudos.

De fato, idade para namorar o namoro de adulto os pequenos não têm mesmo! Mas quem disse que é deste namoro que se trata? O namoro não deve ser estimulado, mas reconhecer o que seu filho sente, isso sim, é fundamental. Dizer que uma criança não é capaz de sentir afeto e carinho por alguém de forma diferente e especial é negar sua condição de humana. Vale apenas ouvir com atenção o que seu filho tem para dizer. Abrir espaço para escuta, sem estimular nem tampouco desprezar.

Se alguns depreciam, por outro lado alguns pais supervalorizam o fato, sentindo verdadeiro orgulho de seu rebento! Acham lindo o sentimento do filho, transformando a situação num megatema. Animados e curiosos, querem saber mais sobre quem despertou a "paixão" no seu filho, convidam o escolhido para todos os eventos, evidenciando uma relação e ainda estimulam dando presentes para sua nora ou genro que ainda estudam no Jardim III !!!!

Neste caso, fica claro que a criança foi destituída de seu sentir infantil, de seu namoro da criança, que tem uma conotação completamente diferente da do namoro do adulto. O namoro e o gostar do adulto cabe ao adulto. Portanto, muito cuidado com esta atitude, que mais parece invasão de privacidade! Não se pode conduzir os sentimentos dos filhos deste jeito. A situação deve ser compreendida a partir do contexto na qual se apresenta, ou seja, o infantil. Não se pode entrar no mundo da criança e trazê-la para o universo adulto, pois ela não tem ferramentas para isso, além de ainda poder prejudicar a o desenvolvimento de valores e sentimentos que irão permear sua vida.

É absolutamente normal e aceitável que a criança represente o papel de namorada ou namorado, assim como representa outros papéis. Os adultos não devem fazer juízo de valor sobre esta situação. Respeitá-la já está de bom tamanho.

Márcia Mattos é psicopedagoga e pedagoga do Apprendere Espaço Psicopedagógico.

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