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Novelas e TV-Zappeando

Por que, apesar da mesmice, os programas de TV conseguem prender nossa atenção?

Publicado 1 Jun 2017 – 06:00 AM EDT | Atualizado 16 Mar 2018 – 08:33 AM EDT
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Um dos produtos brasileiros mais reconhecidos no cenário internacional, grande parte das teledramaturgias produzidas pelo nosso País faz sucesso em muitos lugares do mundo. Desde a criação do gênero, na década de 1950, são muitos os formatos utilizados até hoje: teleteatros, novelas, minisséries e os seriados.

Apesar de ter passado por muitas mudanças desde então – devido a processos históricos e tecnológicos –, uma característica especial fez com que a teledramaturgia se aperfeiçoasse durante todos os seus anos em que ficou no ar: a possibilidade e capacidade de conversar com diversos tipos de público, dando uma grande abertura para que tivessem um lugar reservado na cultura de massa.

Atualmente as novelas podem ter diferentes autores e produtores, mas uma coisa é certa: são muitos os clichês que encontramos nas telinhas. Mocinhas que são raptadas no último capítulo, o boom de grávidas ao final da novela e o vilão que, na maioria das vezes, acaba se dando mal. Mas então, se já temos uma ideia do que vai acontecer quando a narrativa chegar ao fim, por que continuamos assistindo a esses programas?

Como as novelas conseguem prender a nossa atenção?

Descendentes dos chamados folhetins, as novelas nada mais são do que uma nova versão deste gênero literário, surgido no século XIX como uma nova forma de entretenimento. O sucesso dessas produções, apesar dos clichês que as moldam, está bastante relacionado com a proximidade do cotidiano dos telespectadores levada às telinhas, assim como a linguagem utilizada.

“As produções têm um caráter muito próximo dos telespectadores, com o qual eles possam se identificar. As pessoas gostam de ver e rever, têm o desejo de ver algo de novo. Hoje elas têm mais facilidade, principalmente com as novas mídias. Esse prazer vem da fruição, da lembrança, podendo estar ligado a um momento afetivo – falando tanto quanto à trama, quanto a um personagem em específico”, afirmou Maria Cristina Palma Mungioli, especialista em telenovela, em entrevista ao VIX.

“Não significa que você está vendo a mesma coisa, e sim que você pode estar fazendo uma releitura, vendo com olhos diferentes. As obras têm caráter cultural e polissêmico. Cada leitura é reconstruída em cima das emoções e das experiências de mundo. Não é uma mera repetição”, completou.

Líder no cenário brasileiro quando se fala de produções de teledramaturgia, esses são os casos das novelas que estão na grade da Rede Globo no primeiro semestre de 2017: “Novo Mundo”, “Rock Story” e “A Lei do Amor” (que posteriormente foi substituída por “A Força do Querer”). São produções que trazem, em suas raízes, histórias já conhecidas pelo público, mas com um pouco de novidade para a trama. 

“No caso de ‘Rock Story’, podemos perceber que a novela é uma coletânea de ‘Haja Coração’ e de ‘Totalmente Demais’, com muitas semelhanças entre os vilões e as mocinhas. No entanto, todas essas repetições são coisas boas, porque partem do princípio de que o público, de uma forma geral, tem facilidade de compreensão. Na medida em que já conhece a história, o público passa a se identificar mais”, declara Claudino Mayer, especialista em TV, em entrevista ao VIX.

No entanto, apesar de os telespectadores estarem à procura de uma forma de entretenimento que esteja próxima de seu dia a dia, também querem encontrar nessas produções um modo de se esquivarem das situações mais sérias que acabam enfrentando em seus cotidianos.

“No atual momento em que vivemos, as pessoas querem um escape da realidade. Por isso temos ‘Novo Mundo’, que na verdade é uma novela que não dialoga com a sociedade atual, e ‘Rock Story’, que traz elementos do nosso cotidiano, mas não discute questões que estão em pauta na atualidade”, afirma Mayer.  

Ao ar no horário das seis na Globo, “Novo Mundo” narra ficção e realidade em uma aventura romântica, trazendo no elenco nomes como Caio Castro, Isabelle Drummond, Chay Suede e Letícia Colin. Com estreia no final de março, nas poucas semanas em que a produção está no ar, marcou média de 27 pontos na pesquisa Ibope.

“Rock Story” estreou no horário das sete em novembro de 2016 e chegou ao fim em maio de 2017. A história de Maria Helena Nascimento que trouxe no elenco Vladimir Brichta, Nathalia Dill e Alinne Moraes marcou, no primeiro semestre de 2017, média de 26,7 pontos no Ibope.

Já a “A Lei do Amor”, novela das nove escrita por Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, foi ao ar de outubro de 2016 a março de 2017. Nos primeiros meses do ano em que ainda estava sendo veiculada, a história de Helô (Claudia Abreu) e Pedro (Reinaldo Giannechini) marcou média de 29 pontos na pesquisa televisiva.

Para além da identificação do público com a história, também há a importância dos autores que estão dando vida aos personagens da narrativa. “Gloria Perez, Walcyr Carrasco e Aguinaldo Silva são três autores diferentes, porém com elementos semelhantes que trabalham a repetição. Não que eles não saibam que existe essa repetição, mas ao contrário: eles sabem que isso atrai o público. A Gloria, por exemplo, traz sempre a dança e a mocinha com praticamente as mesmas características”, afirma Mayer.

Adaptação das novelas de acordo com o público

E ao mesmo tempo em que o público se preocupa em encontrar novos meios para se entreter, as novelas fazem o máximo de esforço possível para se adequar às necessidades dos telespectadores. Parte do trabalho dos autores é ver como as pessoas estão respondendo à trama e adaptá-las para que passem aquilo o que o povo clama.

“Nós estamos vivendo um momento em que as tramas narrativas estão pedindo por romances. Ou seja, o público está carente de histórias que levam ao choro. Se olharmos ‘Novo Mundo’, por exemplo, estamos retomando a fórmula dos anos 1960 de trabalhar com esse romance, deixando até mesmo um pouco fora da realidade”, assegurou Claudino Mayer.

“Se a novela trouxer muita realidade, ela acaba cansando o telespectador, devido às várias situações que estão acontecendo na vida real, como no campo político. A novela ‘A Lei do Amor’, por exemplo, ganhou um outro direcionamento, já que no começo trazia um pouco da realidade política do Brasil. Então acabou fazendo esse desvio e entrando mais na área do romance, para agradar mais. É uma retomada dos anos 60 e 70”, completou.

O que aconteceu com “A Lei do Amor” é um exemplo de adaptação. Por conta da alta taxa de rejeição da novela, o diretor de dramaturgia Silvio de Abreu optou por reescrever a trama. Para ele, faltavam na narrativa os famosos ganchos, as partes que fazem os telespectadores terem vontade de assistir aos próximos capítulos.

Além das novelas: a importação dos formatos de programas de TV

Muito além das novelas, os programas de televisão também fazem bastante sucesso com públicos de diferentes faixas etárias. Mais conhecidos nos formatos de reality shows ou de quadros dentro das próprias atrações, são várias as produções que atraem a curiosidade do público e só veem sua audiência crescer a cada nova temporada.

E não é à toa que muitos canais de TV têm programas bastante parecidos: isso porque eles seguem uma fórmula pré-requerida e são, em grande parte, formatos importados de atrações que já fazem sucesso no exterior.

Esses são os casos de produções como o quadro “Dança dos Famosos” (versão brasileira de “Dancing With The Stars”) e o reality show “The Voice Brasil”, ambos da Globo. Criações originais da produtora holandesa Endemol, os formatos foram importados para a emissora em 2005 e 2012, respectivamente.

Outros exemplos são o “The X Factor” (Band) – que veio para concorrer diretamente com o “The Voice” – e o “Dancing Brasil” (Record), concorrente do “Dança dos Famosos” com Xuxa como apresentadora. Todos são tentativas de atrair o público para um meio diferente de entretenimento, misturado com os ares de competição.

“Os programas de TV são feitos a partir de uma fórmula, de uma franquia que deve ser repetida. E essas franquias têm tido aberturas maiores quanto a seus formatos, permitindo modificações e fazendo com que sejam moldados para que façam sucesso com o público”, afirmou Maria Cristina Mungioli.

“São vários programas iguais em muitos canais. A ideia dessa fórmula acaba se consolidando por meio de um determinado conjunto de estratégias. O espaço está cada vez mais concorrido, não apenas na televisão aberta, mas também na TV a cabo, nos streamings e na internet. As emissoras têm nesses produtos de sucesso um lugar seguro para tentar audiência”, completou a especialista.

Mas o sucesso do formato não é de hoje: os programas de calouros, por exemplo, começaram a aumentar a audiência da TV já na época do “Programa do Chacrinha”, na década de 1980. A grande diferença, desde então para os dias atuais, é a transformação das atrações em algo mais “glamourizado”.

“Existe um padrão dentro da televisão. Quando os programas de TV chegam ao Brasil, já têm a certeza de venda, de que o público vai recebê-lo bem. E ele deve e vai ser explorado ao máximo, porque é muito mais fácil você comprar algo que já faz sucesso lá fora. É mais fácil se apropriar da ideia e fazer algo parecido, com elementos semelhantes e que despertem o interesse e faça o telespectador se tornar fiel – seja da atração, do programa ou do apresentador”, disse Claudino Mayer. 

Seja com novelas ou programas de TV, o sucesso das produções voltadas para o entretenimento com o público é garantido. E tudo por conta da busca por um escape da realidade cotidiana e por encontrar um modo para descansar e divertir suas mentes com algo diferente – quer com histórias já exploradas e que não exigem muito esforço de compreensão ou com reality shows de competições estreladas por famosos ou desconhecidos. Qual o seu preferido?

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